Autor e narrador: elementos que os diferenciam

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

O autor e o narrador são demarcados por alguns elementos que os diferenciam
O autor e o narrador são demarcados por alguns elementos que os diferenciam

A relação entre o autor e o narrador, em se tratando do gênero narrativo, é demarcada por alguns elementos que se assemelham ao gênero lírico. Ora, se dizemos que há diferença entre o eu poético e o autor do poema, podemos perfeitamente afirmar que entre o autor e o narrador também há. Vejamos o que nos revela Salvatore D’Onofrio acerca desse assunto:

“O autor pertence ao mundo da realidade histórica, o narrador a um universo imaginário: entre os dois mundos há analogias e não identidades”.

A partir de tal citação percebemos que por meio da palavra “analogia” D’Onofrio quer revelar que pode até existir certa semelhança, mas nunca ambos os elementos (autor x narrador) podem ser confundidos como se fossem uma só pessoa.

A fim de que possamos nos situar melhor nessa questão, analisemos um fragmento referente ao romance de Machado de Assis, intitulado Memórias póstumas de Brás Cubas:

Capítulo 1

Óbito do autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
[...]

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Constatamos que o enredo da narrativa diz respeito à história de um defunto-autor, mas na realidade tal fato não transcorreria assim. Partindo desse princípio, voltamos a afirmar, mesmo porque pudemos contar com as palavras de renomado autor, Salvatore D’Onofrio, que há sim diferença entre quem cria a história e quem se ocupa de transmiti-la a nós, enquanto leitores. Assim sendo, afirmamos que o narrador se caracteriza como um ser imaginário, fictício, do qual o autor se utiliza para nos revelar seus feitos, suas criações.

Outra ocorrência que também exemplifica tal diferenciação é que muitas vezes o autor pode criar um narrador em que nada se assemelha a ele mesmo, mediante suas posturas ideológicas, como é o caso de “São Bernardo”, de Graciliano Ramos. Nele, o protagonista, Paulo Honório, se difere totalmente dos posicionamentos do respectivo autor, dado o apego do personagem ao capitalismo primitivo.

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