Manuel Bandeira

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Manuel Bandeira, grande representante modernista, tem o lirismo como marca registrada em sua arte.

Manuel Bandeira, dotado de um notável lirismo, representa um dos artistas que compuseram o cenário artístico modernista
Manuel Bandeira, dotado de um notável lirismo, representa um dos artistas que compuseram o cenário artístico modernista

Entre os artistas que abrilhantaram o período modernista, encontra-se esta nobre figura: Manuel Bandeira. Em razão disso, conhecê-lo é, sobretudo, enlevarmo-nos diante de tamanha habilidade artística e nobreza intelectual. Para tanto, iniciemos falando acerca de alguns aspectos biográficos, os quais assim se apresentam:

Manuel Carneiro de Souza Bandeira nasceu em 1886, em Recife. Em 1890, a família se transferiu para Petrópolis (RJ), e com seis anos de idade Bandeira retornou a Recife, onde permaneceu até os dez anos. Aos 16 anos partiu para São Paulo, com o intuito de cursar a faculdade de Arquitetura na Escola Politécnica. Contudo, tal intenção teve de ser interrompida, haja vista que o poeta contraiu tuberculose, paralisando, assim, seus estudos. Em 1913 foi para a Suíça para se tratar no Sanatório de Clavadel, onde permaneceu por 16 meses.

Em 1917, Manuel Bandeira publicou seu primeiro livro – Cinza das horas e, a partir de então, iniciou sua vasta produção literária, seguida da publicação de Carnaval (1919). Foi quando o poeta começou a estabelecer contato com o grupo paulista, o qual participou da Semana de Arte Moderna. Um dos integrantes, Guilherme de Almeida, foi o primeiro a ler as produções, passando a indicá-las para os demais. Em 1921, esse grupo de representantes foi ao Rio de Janeiro, época em que Bandeira se tornou amigo de Mário de Andrade. Outrossim, afirmamos que este nobre poeta não participou de forma direta na Semana, por considerar o evento um tanto quanto contundente, como ele mesmo afirmou “nunca atacamos publicamente os mestres parnasianos e simbolistas, nunca repudiamos o soneto nem, de um modo geral, os versos metrificados e rimados”.

Assim, afirma-se que em virtude de ter se formado com base nas referências literárias do Parnasianismo e Simbolismo, Bandeira não se mostrou preocupado em se adequar a esta ou àquela tendência, decidiu por não criticar publicamente aqueles que consideravam os mestres parnasianos e simbolistas, bem como não se tornou adepto do tom revolucionário dos modernistas. Dessa forma, optou por escolher esta ou aquela forma que mais se adequasse ao espírito das emoções que desejava transmitir em determinado momento. A linguagem, envolta num tom simples, revelava a experiência do poeta acerca de suas percepções em meio ao cotidiano, marcadas, sobretudo, pela temática voltada para o amor, erotismo, infância, paixão pela vida, solidão e angústia existencial.

Com base nesses aspectos, toda sua criação se encontra subdividida em três vertentes básicas, sendo elas demarcadas por:

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Fase pós-simbolista – Nela, o poeta ainda se revela influenciado pelo espírito decadentista do Simbolismo, incluindo Cinza das horas, Carnaval e Ritmo Dissoluto. A título de confirmarmos tais peculiaridades, elegemos o poema que segue:

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Fase modernista – Nesta, percebemos uma adesão por parte do poeta às ideias vanguardistas que nortearam o primeiro momento do Modernismo brasileiro, sobretudo pelo emprego de versos livres e brancos. Atentemo-nos a um exemplo:

OS SAPOS

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
[...]

Constatamos, mesmo que ligeiramente, um tom voltado para o ideário modernista, no sentido de pontuar os rebuscamentos linguísticos proferidos pela arte parnasiana e simbolista, sobretudo voltados pela sintaxe exagerada.

Fase pós-simbolista – Constata-se uma mesclagem entre os versos tradicionais rimados e os versos livres, manifestada sob formas populares, como o rondó – poema formado de três estrofes com apenas duas rimas, totalizando quinze versos. Vejamos, pois:

Rondó dos Cavalinhos

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

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