Texto literário e não literário - marcas linguísticas

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Antes de partirmos, de modo enfático, para as características que delineiam ambas as modalidades, faremos uma breve consideração no tocante aos aspectos primordiais que perfazem o texto, vistos de maneira abrangente.

Toda e qualquer produção escrita é fruto de um conjunto de fatores, os quais se encontram interligados e se tornam indissociáveis, de modo a permitir que o discurso se materialize de forma plausível. Portanto, infere-se que tais fatores se ligam aos conhecimentos de quem o produz, sejam esses de ordem linguística ou aqueles adquiridos ao longo da trajetória cotidiana.
Aliada a essa prerrogativa existe aquela que inegavelmente norteia a concepção de linguagem, ou seja, a de possuir um caráter dinâmico e estritamente social. Isso nos leva a crer que sempre estamos dialogando como o “outro”, e que, sobretudo, compartilhamos nossas ideias e opiniões com os diferentes interlocutores envolvidos no discurso.

Essa noção, uma vez proferida, tende a subsidiar os nossos propósitos no que se refere ao assunto em questão. E, para tal, analisemos:

Os poemas



Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre: L&PM, 1980.

O exemplo em voga trata-se de uma criação poética pertencente a um renomado autor da era modernista. Atendo-nos às suas peculiaridades no tange à linguagem, notamos a presença de uma linguagem metafórica que simboliza a capacidade imaginativa do artista comparando-a com a liberdade conferida aos pássaros, uma vez que são livres e voam rumo ao horizonte.

Por meio dos seguintes excertos poéticos, assim representados, voltamos à ideia anteriormente mencionada de que a competência linguística vai paulatinamente sendo “adornada”, de acordo com a troca de experiências entre o emissor e o mundo que o rodeia:

Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes [...]

Desta feita, a intencionalidade discursiva, característica textual marcante, pauta-se por despertar no interlocutor sentimentos e emoções, com vistas a oferecer uma multiplicidade de interpretações, uma vez conferida pelo caráter subjetivo. Eis assim a característica que nutre um texto literário.

Pensemos agora em um outro tipo de texto, no qual não identificamos nenhum envolvimento por parte do emissor, pois suas marcas linguísticas primam-se pela objetividade. A conclusão a que podemos chegar é que, nesse caso, a finalidade é apenas informar algo, tal qual se encontra no discurso apresentado, isento de marcas pessoais, opiniões, juízos de valor e, sobretudo, de traços ligados à subjetividade.

Uma notícia, reportagem, artigo científico? Seriam esses os casos representativos? A reposta para tal indagação é reafirmá-la, uma vez que tais modalidades tem uma finalidade em comum: a informação. Essa, por sua vez, precisa retratar uma certa credibilidade conferida por meio do discurso. Daí o caráter objetivo, razão pela qual o autor, em momento algum, não deixa que suas opiniões se fruam em meio ao ato discursivo a que se propõe. Tal particularidade revela a natureza linguística do chamado texto não literário.

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