As distintas conotações atribuídas aos sufixos

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

O caráter dinâmico da língua se torna indiscutível, sobretudo em se tratando das distintas conotações atribuídas aos sufixos.

Alguns sufixos adquirem conotações distintas, o que comprova o dinamismo da língua, como é o caso de “empreguetes”
Alguns sufixos adquirem conotações distintas, o que comprova o dinamismo da língua, como é o caso de “empreguetes”

“As distintas conotações atribuídas aos sufixos evidenciam a vivacidade da língua”.

Deparando-nos com a assertiva em questão, cabe-nos tomar alguns posicionamentos para discuti-la, haja vista se tratar de uma afirmação que, de forma significativa, promove espaço para tal. Assim, esse brilhantismo, essa vivacidade, ora atribuídos à língua que falamos, prova que ela realmente é um organismo vivo, portanto, mutável de acordo com as circunstâncias oriundas das relações sociais de uma forma geral.

A título de comprovação, não basta irmos assim tão além para atestarmos que alguns sufixos, em se tratando das circunstâncias em que são proferidos, adquirem distintas conotações, umas carregadas de uma carga semântica pejorativa, outras nem tanto, pois até simbolizam um elogio por parte do emissor. Nesse sentido, até mesmo a título de ilustração, façamos referência a alguns deles, tais como:

TIMECO
TIMAÇO
GENTALHA
SUJEITINHO
MULHERÃO
FOFINHO
LINDINHO...

As reticências atestam que esse caráter dinâmico não para por aí, pois, sob um aspecto amplamente sincrônico de vivenciar a linguagem, parece que uma legião de “-etes” está circulando por aí, eles já estão impregnados nas mais cotidianas situações comunicativas. A exemplo disso, chequemos o seguinte título de uma reportagem:

Empreguete tem dia de "patronete" em São Paulo*

Eis que ao estilo bem moderno de atribuirmos sentido às palavras, surge mais um deles: o sufixo “-ete”, cuja valoração vai do sentido pejorativo ao carinhoso, atualmente bastante comum no meio televisivo. Assim, voltando à manchete antes mencionada, temos que, em termos de aspectos valorativos, a profissão de empregada não é tida como bem vista perante os olhos da sociedade, justamente pelo fato de atestar falta de “capacitação profissional”. Nesse sentido, a atribuição que se confere mediante o emprego do sufixo é justamente na tentativa de relativizar esse cenário e não mais atribuir a ela a condição de subordinada, mas a condição de comando – no caso, a patroa.

Há aquela garota ou aquele garoto que, sem maiores intenções afetivas, acabam se tornando “peguetes”, assim como há algumas delas que, a depender do traje costumeiro, acabam se fazendo vistas como “periguetes”. Em alguns dos programas televisivos, dois deles bem antigos, poderíamos ver as chacretes, como também as boletes.  Certamente por isso é que atualmente constatamos a presença das paniquetes e caldeiretes.

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Checamos, por meio das elucidações aqui evidenciadas, que as palavras, ainda que não dicionarizadas, ou seja, não registradas sob o aspecto formal da língua, parecem ganhar, cotidianamente, mais vitalidade, tornando-se cada vez mais recorrentes no linguajar de todos os usuários, e ao que parece até nas canções musicais, manifestada abaixo por meio deste refrão de umas das músicas da trilha sonora da novela Cheias de Charme da Rede Globo:

[...]

Levo vida de empreguete, eu pego às sete
Fim de semana é salto alto e ver no que vai dar
Um dia compro apartamento e viro socialite
Toda boa, vou com meu ficante viajar.

[...]

* Título de reportagem retirado de R7 Entretenimento

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