Ultrarromantismo

Por Warley Souza

O Ultrarromantismo é um movimento literário que corresponde à segunda fase romântica das literaturas portuguesa e brasileira. É marcado pelo exagero sentimental.

Coração partido e rosa murcha em alusão ao Ultrarromantismo.
No Ultrarromantismo, o sofrimento amoroso é expresso de forma intensa e exagerada.

O Ultrarromantismo é um movimento literário relativo à segunda fase do Romantismo português e brasileiro. Os textos ultrarromânticos expressam forte emoção, visão pessimista da realidade, idealização da mulher e sofrimento amoroso. Os principais autores ultrarromânticos são o português Camilo Castelo Branco e o brasileiro Álvares de Azevedo.

Leia também: O que marcou a primeira fase do Romantismo no Brasil?

Resumo sobre Ultrarromantismo

  • O Ultrarromantismo é um movimento literário marcado pelo exagero sentimental, pessimismo e subjetividade.

  • Está relacionado à segunda fase romântica em Portugal e no Brasil.

  • As principais temáticas ultrarromânticas são o amor impossível e a morte.

  • Álvares de Azevedo é o principal autor do Ultrarromantismo brasileiro.

  • Camilo Castelo Branco é o mais famoso ultrarromântico português.

O que é o Ultrarromantismo?

A segunda fase do Romantismo, tanto em Portugal quanto no Brasil, também é chamada de Ultrarromantismo. No Brasil, a grande inspiração dos poetas nacionais foi o escritor inglês Lord Byron (1788-1824). Por isso, a segunda geração romântica no Brasil é conhecida também como byroniana.

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Qual o contexto histórico do Ultrarromantismo?

A segunda fase do Romantismo português se consolidou durante o reinado do rei Pedro V (1837-1861), iniciado em 1853 após a morte da rainha Maria II (1819-1853), a qual governava o país, em sua segunda regência, desde 1834. A rainha, durante seu reinado, precisou enfrentar um conturbado período de transição entre o absolutismo e o constitucionalismo, ficando a cargo de seu filho a harmonização política do país.

o Ultrarromantismo brasileiro floresceu durante o reinado de D. Pedro II (1825-1891), marcado pela centralização política e por uma economia agroexportadora. Esse imperador governou o Brasil por quase seis décadas. Durante seu reinado, o Brasil esteve envolvido em seu maior conflito bélico — a Guerra do Paraguai.

Apesar dessa realidade política e social, os escritores ultrarromânticos de Portugal e Brasil deixaram a razão de lado para expressar o sentimento de angústia existencial e o sofrimento amoroso. Desse modo, afastavam seus leitores dos anseios coletivos e os mergulhavam no sentimentalismo egocêntrico.

Veja também: Realismo — estilo de época que fez oposição ao movimento artístico romântico

Principais características do Ultrarromantismo

A obra ultrarromântica apresenta uma visão melancólica da realidade, muitas vezes associada ao tédio da existência. Essa fase romântica é marcada pelo exagero sentimental. As principais temáticas do texto ultrarromântico são o sofrimento amoroso e a morte. Nele, o amor impossível gera sofrimento e lamentação.

Outros elementos do Ultrarromantismo são:

  • caráter subjetivo;

  • saudosismo;

  • pessimismo;

  • erotismo;

  • idealização amorosa;

  • mulher idealizada;

  • fuga da realidade.

Exemplo de poesia ultrarromântica

Capa do livro Lira dos vinte anos, obra do Ultrarromantismo brasileiro, publicado pela editora Martin Claret.
Capa do livro Lira dos vinte anos, principal obra do Ultrarromantismo brasileiro, publicado pela editora Martin Claret.[1]

Algumas dessas características estão presentes no soneto seguinte, do livro Lira dos vinte anos, do escritor brasileiro Álvares de Azevedo. No poema, são perceptíveis a idealização da mulher, comparada a um “anjo”, e o erotismo, além da fuga da realidade ao retratar um cenário de sonho:

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
— Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti — as noites eu velei chorando
Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!

O Ultrarromantismo em Portugal

Em Portugal, a segunda fase romântica se refere ao período de 1840 a 1860. Durante esse período, foram produzidas prosa e poesia ultrarromânticas.

Autores portugueses do Ultrarromantismo

  • Camilo Castelo Branco (1825-1890).

  • Soares de Passos (1826-1860).

Obras do Ultrarromantismo em Portugal

  • Poesias (1856), de Soares de Passos.

  • Amor de perdição (1862), de Camilo Castelo Branco.

Saiba mais: Outros exemplos de ultrarromantismo na poesia de Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo

O Ultrarromantismo no Brasil

No Brasil, o Ultrarromantismo está relacionado apenas à poesia da segunda geração romântica, referente ao período de 1853 a 1870.

Autores brasileiros do Ultrarromantismo

  • Álvares de Azevedo (1831-1852).

  • Junqueira Freire (1832-1855).

  • Casimiro de Abreu (1839-1860).

  • Fagundes Varela (1841-1875).

Obras do Ultrarromantismo no Brasil

  • Lira dos vinte anos (1853), de Álvares de Azevedo.

  • Inspirações do claustro (1855), de Junqueira Freire.

  • As primaveras (1859), de Casimiro de Abreu.

  • Cantos e fantasias (1865), de Fagundes Varela.

Videoaula sobre a poesia da segunda geração romântica no Brasil

Exercícios resolvidos sobre Ultrarromantismo

Leia o poema Desalento, de Álvares de Azevedo, para responder às questões.

Feliz daquele que no livro d’alma
Não tem folhas escritas
E nem saudade amarga, arrependida,
Nem lágrimas malditas!
Feliz daquele que de um anjo as tranças
Não respirou sequer
E nem bebeu eflúvios descorando
Numa voz de mulher...
E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca
Perdida em seus cabelos,
Nem resvalou do sonho deleitoso
A reais pesadelos...
Quem nunca te beijou, flor dos amores,
Flor do meu coração,
E não pediu frescor, febril e insano
Da noite à viração!
Ah! feliz quem dormiu no colo ardente
Da huri dos amores,
Que sôfrego bebeu o orvalho santo
Das perfumadas flores...
E pôde vê-la morta ou esquecida
Dos longos beijos seus,
Sem blasfemar das ilusões mais puras
E sem rir-se de Deus!
Mas, nesse doloroso sofrimento
Do pobre peito meu,
Sentir no coração que à dor da vida
A esperança morreu!...
Que me resta, meu Deus? aos meus suspiros
Nem geme a viração...
E dentro, no deserto do meu peito,
Não dorme o coração!

ÁLVARES DE AZEVEDO. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Questão 1

No poema do poeta ultrarromântico Álvares de Azevedo, sobressai:

A) o saudosismo.

B) o sofrimento amoroso.

C) a fuga da realidade.

D) o tédio.

E) a ironia.

Resolução:

Alternativa B.

No poema, o eu lírico fala do sofrimento causado pelo amor a uma mulher e demonstra certa inveja daquele que não teve o mesmo azar do eu lírico.

Questão 2

Todas as alternativas apresentam um verso em que se verifica a idealização da figura feminina, EXCETO:

A) “Feliz daquele que de um anjo as tranças/ Não respirou sequer”

B) “E não sentiu-lhe a mão cheirosa e branca/ Perdida em seus cabelos,”

C) “Quem nunca te beijou, flor dos amores,/ Flor do meu coração,”

D) “E pôde vê-la morta ou esquecida/ Dos longos beijos seus,”

Resolução:

Alternativa D.

No poema, a mulher amada apresenta elementos idealizadores, já que ela é comparada a um “anjo” e a uma “flor”, além de ter “mãos cheirosas”. Já os versos “E pôde vê-la morta ou esquecida/ Dos longos beijos seus,” não apresentam idealização, mas uma imagem sombria.

Créditos da imagem

[1] Editora Martin Claret (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

ÁLVARES DE AZEVEDO. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

COSTA, Edson Tavares. Licenciatura em Letras/ Português: literatura portuguesa. Campina Grande: EDUEPB, 2011.

D. MARIA II. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$d.-maria-ii.

D. PEDRO V. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$d.-pedro-v.

HIGA, Carlos César. Segundo reinado. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/segundo-reinado.htm.

SILVA, Tallyson Tamberg Cavalcante Oliveira da. Das reminiscências trovadorescas na poesia de Álvares de Azevedo: um estudo do aspecto amoroso na Lira dos vinte anos. 2021. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro de Ciências, Educação e Linguagens, Universidade Federal do Maranhão, Bacabal, 2021.  

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