Pleonasmo

Por Guilherme Viana

O pleonasmo é um recurso linguístico que utiliza a repetição de um termo ou de uma ideia para dar maior ênfase ou clareza. Dependendo do contexto e da intenção do falante, o pleonasmo pode configurar uma figura de linguagem ou um desvio da norma padrão. Por isso, vamos aprender mais sobre esse recurso estilístico.

Leia também: Ambiguidade – construções linguísticas com duplo sentido

Tipos de pleonasmo

Existem dois tipos de pleonasmo: o literário e o vicioso. São tipos diferentes a depender da intenção de quem enuncia o discurso e da maneira como isso é feito. Alguns gramáticos afirmam que o uso (se consagrado ou não) dos termos que geraram o pleonasmo pode validar sua ocorrência (tendo aí uma figura de linguagem) ou não (ocorrendo um vício de linguagem).

  • Pleonasmo literário

Muitas vezes, o pleonasmo literário é empregado para enfatizar uma ideia ou conceito, dando caráter poético à construção. É bastante comum que isso ocorra em epítetos da natureza. Veja um exemplo clássico do poeta Fernando Pessoa:

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Como se pode notar, explicitar o adjetivo “salgado” para o “mar” é redundante, porém traz um efeito poético no texto pela ênfase. A seguir, outro exemplo da cantora e compositora Vange Leonel:

Procuro só a escuridão

A purificação na calada da noite

Da noite preta

O substantivo “noite” já passa a ideia de escuridão, portanto, dar a ela o adjetivo “preta” é um recurso estilístico, o pleonasmo. É também comum a ocorrência de pleonasmo com outros elementos da natureza: “neve branca”, “água mole em pedra dura”, “mar azul”, “sol quente” etc.

Veja também: Cacofonia – vício de linguagem que pode gerar sentidos inconvenientes

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Objeto pleonástico

Há, ainda, o conceito de objeto pleonástico: para dar realce ao objeto (direto ou indireto), é possível colocá-lo no início da frase e repeti-lo com a forma pronominal na sequência. Observe as orações:

O meu desejo, confessei-o a ela.

Note que o objeto direto (“o meu desejo”) foi repetido após o verbo (“confessei-o”), configurando um objeto pleonástico, visto que a repetição tem a função de dar ênfase.

A mim não me enganas tu.

Novamente, um caso de objeto pleonástico nesse excerto do escritor Miguel Torga, agora do objeto indireto (“a mim”) repetido pelo pronome (“me”).

O pleonasmo é um recurso linguístico que, dependendo do uso, pode ser considerado uma figura de linguagem ou um vício de linguagem.
O pleonasmo é um recurso linguístico que, dependendo do uso, pode ser considerado uma figura de linguagem ou um vício de linguagem.
  • Pleonasmo vicioso ou redundância

Em certos contextos, o pleonasmo não é usado como recurso estilístico, configurando um vício de linguagem: a redundância. Trata-se de construções comumente não vistas como adequadas ou que não acrescentam efeito de ênfase ou de esclarecimento (nesse caso, ocorrendo por falta de atenção na construção do enunciado ou por desconhecimento do significado exato dos termos utilizados).

A seguir, alguns exemplos corriqueiros de pleonasmo vicioso:

  • Eu subi lá em cima para ver o que ela queria.
  • Ele era o principal protagonista da história.
  • Entrou num ciclo vicioso do qual não conseguia sair.

Nos três enunciados, não há justificativa para utilizar as redundâncias destacadas. Para evitar esse vício, basta um dos termos:

  • Eu subi para ver o que ela queria.
  • Eu fui lá em cima para ver o que ela queria.
  • Ele era o protagonista da história.
  • Ele era a personagem principal da história.
  • Entrou num ciclo do qual não conseguia sair.
  • Entrou num círculo vicioso do qual não conseguia sair.

Assim, os enunciados não estão mais redundantes.

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