Função fática
A função fática é a função da linguagem que está centrada no canal. O seu propósito é checar se o canal está funcionando e se a comunicação está bem estabelecida.
Por Mariana Carvalho Machado Cortes

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A função fática é uma função da linguagem que tem como foco o canal como elemento da comunicação. O canal é o meio físico em que a mensagem é transmitida, o qual pode ser o ar, o telefone, a internet, etc. Ela se preocupa em checar se o canal está funcionando. Também é importante para estabelecer o diálogo e prossegui-lo sem transmissão de informações. A função fática é a mais próxima do registro oral, por isso é comum que ela tenha marcas de informalidade.
Leia também: Quais são as funções da linguagem?
Resumo sobre função fática
- A função fática é a função da linguagem que está focada em checar o canal como elemento da comunicação.
- A função fática pode ser encontrada em diversos gêneros textuais, como em conversas casuais, na publicidade, na música e na literatura.
- A presença de marcas de informalidade e de oralidade são comuns na função fática.
- É responsável por saudações, como “oi”, “tudo bem” ou “alô”.
- É responsável por iniciar e continuar a comunicação, sem a transmissão de informações.
- É muito utilizada em diálogos.
- Também funciona como uma forma de chamar a atenção do interlocutor.
- O foco da função da fática é o canal, ou seja, o meio físico em que a mensagem é transmitida, que pode ser o telefone, a internet, o ar, etc.
Videoaula sobre função fática
O que é função fática?
A função fática é uma função da linguagem que se centra no canal da comunicação, ou seja, no meio físico em que a comunicação ocorre. A função fática é importante para checar se a comunicação está sendo estabelecida efetivamente e se o canal está funcionando.
Também é importante como uma forma de estabelecer a comunicação, seja como uma forma de prosseguir a conversa, seja de começar. É também a primeira função verbal que a criança adquire, já que o seu primeiro instinto é estabelecer uma comunicação antes de enviar ou receber informações.
Exemplos de função fática
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Função fática na publicidade

O anúncio publicitário ressalta a necessidade que uma propaganda tem de chamar a atenção do público. Para isso, o anúncio utiliza-se de mecanismos textuais próprios da função fática. A frase “Alô, mainha e painho!” é um exemplo dessa função, pois o único propósito dessa expressão é estabelecer a comunicação, assim como o propósito de um profissional de propaganda é conseguir se comunicar com as pessoas.
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Função fática na música
Ei, você aí,
Me dá um dinheiro aí
Me dá um dinheiro aí
Ei, você aí
Me dá um dinheiro aí
Me dá um dinheiro aí
Ei, você aí
Me dá um dinheiro aí
Me dá um dinheiro aí
Não vai dar? Não vai dar não?
Você vai ver a grande confusão
Que eu vou fazer, bebendo até cair
Me dá, me dá, me dá, oi
Me dá um dinheiro aí
Moacyr Franco
A famosa marchinha de Carnaval começa com uma expressão inerente à função ática: “Ei, você aí”. Isso mostra o caráter informal e oral que essa função pode adquirir. É uma expressão responsável por chamar a atenção do público. Além disso, dá a impressão de que seria alguém chamando o interlocutor na rua.
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Função fática em frases
Olá! Tudo bem? Falo com Valquíria?
Oi? Você está conseguindo me escutar?
Se vocês pararem de me escutar, me falem, por favor.
Muitas vezes, a função fática pode ocorrer em uma comunicação por telefone ou por chamada de vídeo, já que são canais muitas vezes passíveis de falha. Essas frases próprias da função fática ocorrem, uma vez que o locutor procura garantir a qualidade na transmissão da comunicação. A primeira frase já mostra a função fática em seu propósito exclusivo de iniciar a comunicação.
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Função fática na literatura
O Lixo
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612.
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim…
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo. - É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?
VERÍSSIMO, Luís Fernando. O analista de Bagé. RJ: Objetiva. 2002.
O texto de Verissimo retrata uma conversa entre dois vizinhos. Por isso, a função fática aparece frequentemente em expressões típicas do registro oral, como: “É”, “Pois é” e “Ah”, que não passam nenhuma informação, apenas contribuem para a continuidade da conversa. As saudações do início do texto também pertencem à função fática.
Leia também: Função metalinguística — a função da linguagem centrada no código
Características da função fática
- Marcas de informalidade e de oralidade: como a função fática é muito comum em conversas, as marcas de oralidades e informais são recorrentes nessa função para prosseguir ou iniciar uma comunicação. Algumas dessas expressões são: “pois é”, “eita” ou “hum”.
- Responsável por saudações: como a função fática é responsável por iniciar a comunicação, ela comumente apresenta saudações, tais como: “oi”, “tudo bom?”, “alô”, etc.
- Inicia e prossegue comunicações: a função fática é responsável por estabelecer e prosseguir a comunicação, sem ter transmissão de informação.
- Chamar a atenção do interlocutor: muitas vezes, a função fática tem como função simplesmente chamar a atenção do interlocutor, sem a transmissão de informação. São exemplos disso, então, expressões como: “psiu”, “ei”, “atenção”.
- Utilizada em diálogos: a função fática é muito utilizada em conversas, uma vez que se preocupa com a efetividade do estabelecimento da comunicação com o interlocutor.
Foco da função fática
Cada função da linguagem é responsável por um elemento da comunicação, a saber: locutor, interlocutor, canal, código, mensagem e contexto. A função fática é marcada por dar foco ao canal, ou seja, ao meio físico em que a mensagem é passada. Um canal pode ser: telefone, internet, caixas de som, o ar, etc.
O propósito da função fática é checar se o canal funciona com efetividade. Por isso, frases como: “Alô!”, “Você está me ouvindo?”, “A ligação está cortando.” evidenciam a preocupação com tal elemento da comunicação.
Exercícios sobre função fática
1. (FGV- adaptado) Assinale a frase abaixo em que predomina a função fática, a função de linguagem que centraliza seu interesse no contato social.
- Cocota é o nome que dão, em Minas, às maritacas…
- Três pessoas ficaram feridas com a colisão.
- Estou com uma terrível dor de dentes.
- Bom dia, amigos, como vão?
GABARITO: D.
Na letra A, a função da linguagem é a metalinguística, pois o foco está no código, já que explica o conceito da palavra. Na letra B, a função da linguagem é a referencial, já que fala sobre um contexto. Na letra C, a função da linguagem é a emotiva, já que está centrada no locutor. Na letra D, há a função fática, pois há a presença de saudação e do início do estabelecimento da comunicação.
2. (Instituto AOCP) Assinale a alternativa em que há expressão com função fática da linguagem.
- “Alô? Tá me ouvindo?”
- “Tenho Tanto Sentimento Tenho tanto sentimento Que é frequente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal. (...)”. Fernando Pessoa, in "Cancioneiro".
- “Frase é qualquer enunciado linguístico com sentido acabado.”
- “Não deixe para depois. Compre já seu carro novo!”
GABARITO: A.
Na letra A, há a função fática, pois há um foco no canal, no caso, um telefone. Na letra B, há a função emotiva e poética, pois há um foco na forma e no locutor. Na letra C, há a função metalinguística, pois há um foco no código, no caso a língua portuguesa. Na letra D, há a função conativa, pois há um foco no interlocutor.
Fontes:
JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 2003.
CHALHUB, Salmira. As funções da linguagem. São Paulo: Ática, 1999. 64 p.