Função emotiva
A função emotiva é a função da linguagem centrada no locutor como elemento de comunicação.
Por Mariana Carvalho Machado Cortes

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A função emotiva (também chamada de expressiva) é a função da linguagem centrada no emissor (ou seja, em quem fala na mensagem) como elemento da comunicação. Como, muitas vezes, ela está relacionada a textos em que há a expressão de sentimentos de um locutor, deu-se o nome de função emotiva. Há, nessa função, o predomínio da subjetividade, uma vez que a presença de quem fala e suas impressões e emoções são ressaltadas no texto. Por isso, textos emotivos são escritos em primeira pessoa.
Leia também: Qual é a função metalinguística?
Resumo sobre função emotiva
- A função emotiva é a função da linguagem que foca no emissor como elemento da comunicação.
- A função emotiva também pode ser chamada de expressiva.
- O emissor, também chamado de locutor ou de remetente, é aquele que fala ou transmite a mensagem.
- Em textos da função emotiva, há o predomínio da primeira pessoa por meio de pronomes pessoais, possessivos ou de verbos conjugados.
- Há também o predomínio de subjetividade nessa função da linguagem.
- Os textos literários são os mais associados a essa função da linguagem.
- As funções da linguagem são: emotiva, conativa, metalinguística, fática, poética e referencial.
- Os elementos da comunicação são: remetente, destinatário, código, canal, mensagem e contexto.
O que é a função emotiva?
A função emotiva é a função da linguagem centrada no locutor como elemento de comunicação. O locutor (também pode ser chamado de emissor ou de remetente) é quem fala, ou seja, quem transmite a mensagem. Dessa forma, se há um texto centrado em quem fala e se o assunto é desenvolvido em torno dele, utiliza-se a função emotiva. Isso pode ser percebido principalmente por meio do uso da primeira pessoa, responsável por colocar o remetente dentro do texto.
→ Exemplos da função emotiva
- Exemplo 1:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Cecília Meireles
É verdade que, em qualquer poema, o que predomina é a função poética da linguagem. No entanto, isso não quer dizer que não seja possível identificar outras funções também. Isso ocorre no poema “Retrato”, de Cecília Meirelles, em que o eu lírico fala sobre a mudança que ela percebeu em si ao longo do tempo.
No texto, o eu lírico faz uma autodescrição ao dizer tudo o que encontra em si que antes não encontrava. Esse autorretrato descritivo evidencia a melancolia do eu lírico ao perceber que não é mais o mesmo. Por fim, ele se questiona quando deixou de se reconhecer. Há nesse texto, então, o predomínio da primeira pessoa do singular aliado a uma autodescrição que evidencia a tristeza do eu lírico com o seu próprio estado.
- Exemplo 2:

Vincent Van Gogh fez um autorretrato em 1889 depois de cortar a sua própria orelha após uma discussão com Paul Gauguin. Van Gogh, então, retrata seu próprio estado e eterniza esse momento de acordo com a sua perspectiva.
O pintor faz a obra por meio de um espelho, o que já inverte a realidade. A orelha cortada, por exemplo, foi a esquerda, mas, na pintura, parece a direita. O artista não deixa de retratar o que parece ser uma pintura e um quadro com um rascunho atrás de si, o que reflete a pintura como parte do sujeito retratado. É válido, então, perceber que cada elemento da obra é uma escolha que evidencia como Van Gogh decidiu colocar-se em sua obra.
- Exemplo 3:
As três experiências
Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
E nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por quê, foi esta que eu segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever. Adestrei-me desde os sete anos de idade para que um dia eu tivesse a língua em meu poder. E no entanto cada vez que eu vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Quanto aos meus filhos, o nascimento deles não foi casual. Eu quis ser mãe. Meus dois filhos foram gerados voluntariamente. Os dois meninos estão aqui, ao meu lado. Eu me orgulho deles, eu me renovo neles, eu acompanho seus sofrimentos e angústias, eu lhes dou o que é possível dar. Se eu não fosse mãe, seria sozinha no mundo. Mas tenho uma descendência, e para eles no futuro eu preparo meu nome dia a dia. Sei que um dia abrirão as asas para o voo necessário, e eu ficarei sozinha. É fatal, porque a gente não cria os filhos para a gente, nós os criamos para eles mesmos. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.
Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia.
Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse à minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
Espero em Deus não viver do passado. Ter sempre o tempo presente e, mesmo ilusório, ter algo no futuro.
O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna. E depois morrer vai ser o final de alguma coisa fulgurante: morrer será um dos atos mais importantes de minha vida. Eu tenho medo de morrer: não sei que nebulosas e vias-lácteas me esperam. Quero morrer dando ênfase à vida e à morte. Só peço uma coisa: na hora de morrer eu queria ter uma pessoa amada por mim ao meu lado para me segurar a mão. Então não terei medo, e estarei acompanhada quando atravessar a grande passagem. Eu queria que houvesse encarnação: que eu renascesse depois de morta e desse a minha alma viva para uma pessoa nova. Eu queria, no entanto, um aviso. Se é verdade que existe uma reencarnação, a vida que levo agora não é propriamente minha: uma alma me foi dada ao corpo.
Eu quero renascer sempre. E na próxima encarnação vou ler meus livros como uma leitora comum e interessada, e não saberei que nesta encarnação fui eu que os escrevi.
Está-me faltando um aviso, um sinal. Virá como intuição? Virá ao abrir um livro? Virá esse sinal quando eu estiver ouvindo música? Uma das coisas mais solitárias que eu conheço é não ter a premonição.
Clarice Lispector
A crônica “As três experiências”, de Clarice Lispector, é um texto em que a escritora fala sobre si e valoriza princípios em sua vida. Essa é a primeira impressão que o texto promove. É necessário, no entanto, ressaltar que o texto não precisa, necessariamente, estar associado à pessoa da Clarice Lispector em si. Pode simplesmente ser a voz de um emissor criado pela escritora falando sobre as primícias em sua vida.
De qualquer forma, o remetente da crônica evidencia seus objetivos existenciais e ressalta porque eles são tão importantes. Quando faz isso, há uma reflexão sobre o sujeito que fala e sobre o seu próprio texto e seu próprio ato de escrita e sobre o que ele acha mais importante: o amor. Sendo uma reflexão tão pessoal, torna-se universal, já que fala sobre o lugar do amor, da escrita e da arte na vida do sujeito.
Quais as características da função emotiva?
As principais características da função emotiva são:
- Uso da primeira pessoa: como o texto de função emotiva é centrado no emissor, é necessário o uso da primeira pessoa do singular (eu) para que tal função se ressalte. Essa pessoa pode aparecer por meio de verbos e de pronomes pessoais.
- Subjetividade: um texto em que se ressalta a função emotiva deve ser carregado de subjetividade, uma vez que ela se define como a relação do sujeito com o seu meio. Portanto, características típicas da subjetividade, como a exposição de sentimentos, impressões e opiniões, são necessárias em textos que exploram essa função.
- Muito encontrado em textos literários: é verdade que textos literários têm como função principal a poética, uma vez que a arte escrita sempre cuida da escolha e da organização das palavras no texto. No entanto, em muitos casos, é possível perceber uma atenção especial à função emotiva, uma vez que poemas, crônicas e romances, por exemplo, exploram a subjetividade de seus eu líricos ou narradores como uma forma de o leitor criar vínculo com o remetente criado na obra. Nesse sentido, é importante saber identificar a função emotiva na literatura.
Como identificar a função emotiva?
A forma mais concreta de perceber a função emotiva é por meio do uso da primeira pessoa no texto. Pronomes pessoais do caso reto, do caso oblíquo, possessivos e verbos conjugados na primeira pessoa são classes gramaticais muito recorrentes no texto emotivo e ajudam em sua identificação.
Além disso, perceber um grau de subjetividade maior no texto, por meio da exposição de emoções, opiniões ou impressões, contribui para tal função da linguagem.
É necessário, então, que o remetente esteja, de alguma forma, colocando-se na mensagem, de maneira que seja possível ver que há um foco na pessoa que a transmite, ou seja, na primeira pessoa.
Onde é encontrada a função emotiva?
A função emotiva é muito frequente em textos literários, uma vez que há, muitas vezes, a necessidade de explorar e desenvolver e refletir sobre as emoções, a experiência e a existência humana de uma forma que só a literatura permite alcançar. Desse modo, utilizar a função emotiva permite uma liberdade subjetiva dos sujeitos construídos nas obras. A literatura inclui textos da poesia, da prosa e até mesmo do meio musical.
É necessário ressaltar, no entanto, que, em todo texto, há um pouco de função emotiva da linguagem, uma vez que é impossível anular o remetente do texto. Sempre é possível perceber na mensagem uma opinião ou um traço de emoção do locutor da mensagem. Dessa forma, em menor ou em maior grau, a função emotiva da linguagem pode ser encontrada em todos os gêneros textuais: desde uma conversa casual até um poema romântico, em que o eu lírico expressa suas emoções.
As seis funções da linguagem
As seis funções da linguagem representam focos no texto em cada um dos elementos da comunicação. Há, portanto, uma função da linguagem correspondente a um elemento da comunicação. Esse foco pode ser percebido em diversos níveis da linguagem, seja por meio de elementos concretos, como pronomes ou verbos, seja por meio da temática e do objetivo do texto.
É sempre necessário ressaltar que as funções da linguagem podem aparecer em todo e qualquer gênero textual, em diversos níveis diferentes. O que se procura analisar é o foco central do texto. Os elementos da comunicação são: remetente, destinatário, mensagem (em sua forma), canal, contexto e código. E suas respectivas funções referenciais são: emotiva, conativa, poética, fática, referencial e metalinguística.

Acesse também: Funções da linguagem — mais detalhes sobre essas seis funções
Exercícios resolvidos sobre função emotiva
(FGV) Assinale a frase que exemplifica a função emotiva da linguagem.
A) Se eu não fosse político, queria ser publicitário.
B) Juiz é um estudante de direito que dá notas a si próprio.
C) Um ladrão passa por cavalheiro depois que os roubos o enriqueceram.
D) Quase tudo vem de quase nada.
E) Não há regras. Apenas siga o seu coração.
Resolução:
Alternativa A.
Essa questão mostra que a função emotiva não precisa, necessariamente, estar falando de emoções, mas precisa apenas como foco o locutor, como ocorre na alternativa A, em que há a presença da primeira pessoa e a exposição dos desejos do emissor, o que não ocorre nas demais alternativas.
Questão 2
(FCM)
Ano-Novo
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa com a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)
GULLAR, Ferreira. Obra poética. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2003. p. 401.
A função emotiva da linguagem perpassa esse poema porque a (o)
A) intenção do eu lírico é persuadir o leitor sobre sua opinião.
B) escrita fornece explicações sobre o próprio ato de escrever.
C) construção do texto tem em vista uma linguagem denotativa.
D) eu lírico manifesta uma visão subjetiva sobre a passagem de ano.
E) texto é construído através de recursos estéticos próprios da literatura.
Resolução:
Alternativa D.
Na função emotiva, o locutor é aquele que deve ser ressaltado no texto. Na alternativa A, o foco é o interlocutor, a função é conativa. Na alternativa B, o foco é o ato da escrita, a função da linguagem é metalinguística. Na alternativa C, fala-se da função referencial, em que é característica a linguagem denotativa. A alternativa D é a única que fala sobre uma manifestação do emissor da mensagem, ou seja, o eu lírico; por isso é a alternativa correta. A alternativa E refere-se à função poética, já que esta preocupa-se com a forma, ou seja, com a estética do texto.
Fontes
CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. 11. ed. São Paulo: Ática, 2002.
JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 2003.