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Estilística

Estilística é a área dos estudos linguísticos que se dedica aos recursos expressivos de uma língua. A estilística pode ser fônica, sintática, morfológica ou semântica.

Por Warley Souza

Conceito de estilística.
A estilística trata da criatividade linguística.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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Estilística é a área dos estudos gramaticais dedicada ao estudo da expressividade ou subjetividade linguística. A estilística fônica trata da expressividade associada à sonoridade. A sintática, à organização dos elementos que compõem uma frase ou oração. A morfológica, à formação de palavras. E, por fim, a estilística semântica trata da expressividade relacionada ao significado das palavras.

Leia também: O que se aprende em gramática?

Resumo sobre estilística

  • A estilística é a área dos estudos linguísticos que estuda os recursos expressivos da língua.

  • Estes são os tipos da estilística:

    • fônica;

    • sintática;

    • morfológica;

    • semântica.

  • Os principais recursos estilísticos são as figuras de linguagem.

O que é estilística?

Estilística é a área dos estudos linguísticos relacionada ao estilo. Ela trata da criatividade linguística, ou seja, de formas de expressão mais imaginativas e conotativas, como, por exemplo, as figuras de linguagem.

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Campos da estilística

Estilística fônica

Fazem parte da estilística fônica fenômenos linguísticos relacionados à expressividade sonora, tais como:

  • Aliteração: figura de linguagem que consiste na repetição de consoantes:

O saci e o sabiá sabiam que o sábio sabia assobiar.

  • Assonância: figura de linguagem caracterizada pela repetição de vogais:

A cor do amor é a dor.

  • Onomatopeia: figura de linguagem que consiste no uso de palavra que significa e imita o som produzido por determinados seres:

O tique-taque do relógio e o pocotó dos cavalos na rua me impediam de dormir.

  • Paronímia: fenômeno linguístico caracterizado pela semelhança entre palavras no que se refere à grafia e ao som:

O tráfico de entorpecentes ocorria em meio ao tráfego congestionado.

  • Homonímia: fenômeno linguístico caracterizado pelo uso de palavras com mesma grafia e/ou mesmo som, mas significados diferentes:

Tenho que apressar meu marido para irmos logo até a loja e apreçar a tevê de 70 polegadas.

Estilística morfológica

O principal fenômeno linguístico associado à estilística morfológica é o neologismo, o qual consiste na formação ou criação de uma nova palavra ou mesmo na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente.

Alguns exemplos de neologismo:

  • tuitar;

  • empoderar;

  • bioterrorismo;

  • clicar.

É claro que, com o passar do tempo, o caráter de “novidade” dos neologismos é eliminado. E tais termos, se não forem apenas modismos, acabam definitivamente fazendo parte da língua.

Estilística sintática

Fazem parte da estilística sintática figuras de linguagem associadas a relações sintáticas, tais como:

  • Elipse: consiste na ocultação de uma palavra na frase:

No meu quarto, [] muitos livros.

  • Anáfora: é caracterizada pela repetição de palavras no início de frases ou versos:

Estava perdido. Como um barco à deriva. Como um peixe fora d’água. Como um girassol sem Sol. Estava definitivamente perdido.

  • Pleonasmo: consiste na repetição para enfatizar a mensagem:

Chorava muitas lágrimas de dor e desespero.

  • Anacoluto: é caracterizada pela quebra sintática, já que não há coesão entre o início da frase e a sequência de ideias:

As dores não há motivo para pensar que o alívio logo virá.

Apesar de a expressão “as dores” não apresentar uma função sintática, concluímos que o enunciador está se referindo ao alívio para as dores.

  • Silepse: consiste na concordância ideológica e não gramatical:

Os escritores somos introspectivos na maioria das vezes.

Na frase, ocorre concordância com a ideia de que o enunciador também é um escritor. Se a concordância fosse gramatical, o verbo seria “são” e não “somos”.

  • Hipérbato: é caracterizado pela inversão da ordem direta (sujeito + verbo + complemento ou predicativo) da oração:

De um motivo precisava Carlos para faltar à reunião.

A ordem direta é: “Carlos precisava de um motivo”.

  • Polissíndeto: é caracterizado pela repetição de conjunção, especialmente da conjunção “e”:

Lúcia sorria, e sonhava, e planejava, e nunca desistia.

Estilística semântica

Fazem parte da estilística semântica figuras de linguagem associadas a relações semânticas, tais como:

  • Comparação: analogia feita por meio de conjunção comparativa:

Sou como um poeta louco.

  • Metáfora: comparação implícita, isto é, sem uso de conjunção comparativa:

Paula é uma luz na minha vida.

  • Metonímia: caracterizada pela substituição de um elemento por outro na frase:

Comprei um van Gogh.

Houve a substituição da obra pelo nome do seu autor, já que o enunciador quer dizer que comprou um quadro do pintor Vincent van Gogh.

  • Sinestesia: desperta dois ou mais sentidos humanos:

O azul era quente e amargo.

Também integram a estilística semântica os seguintes fenômenos linguísticos:

  • Diminutivo: palavra que indica afeto ou desprezo:

Mãezinha, não demore muito.

Que livrinho fútil!

  • Aumentativo: termo que sugere afeição:

Seu Agenor é meu paizão!

  • Sinonímia: consiste em palavras que apresentam o mesmo significado:

Sua atitude é fatal, mortal, letal.

  • Paronímia: é caracterizada por termos que apresentam semelhança na grafia e no som, mas significados distintos:

Ascender socialmente é mais difícil do que acender uma fogueira sem usar fósforos.

  • Polissemia: consiste na existência de mais de um significado para uma mesma palavra:

Aquela mulher era uma dama e sabia jogar dama como ninguém.

Veja também: Qual a diferença entre denotação e conotação?

Recursos estilísticos

As figuras de linguagem são os principais recursos estilísticos. Elas estão associadas à subjetividade do enunciador e são recorrentes em textos literários. Assim, temos as figuras:

  • de palavras ou semântica (comparação, metáfora, metonímia, sinestesia, perífrase ou antonomásia);

  • de sintaxe ou construção (elipse, pleonasmo, silepse, hipérbato, polissíndeto, anáfora, pleonasmo, anacoluto);

  • de pensamento (hipérbole, eufemismo, ironia, antítese, paradoxo ou oximoro, litotes, prosopopeia, apóstrofe, gradação);

  • de som ou harmonia (aliteração, assonância, onomatopeia, paronomásia).

Livro, lápis com asas e cores em alusão aos recursos da estilística.
Os recursos estilísticos estão associados à subjetividade e são bastante utilizados em textos literários.

Mas textos não literários também recorrem, algumas vezes, às figuras de linguagem. Assim, é comum perceber, por exemplo, a ironia em textos jornalísticos. Contudo, o predominante em textos não literários é o estilo sucinto, formal, objetivo, em que a linguagem é primordialmente denotativa.

Análise estilística de um poema

Em literatura, a palavra “estilo” assume uma maior proporção, pois ela não só está associada a recursos estilísticos, mas também a uma época (escolas literárias) ou mesmo a particularidades autorais. No entanto, a expressão “análise estilística” é comumente utilizada para se referir à indicação dos recursos estilísticos utilizados no texto, como vamos mostrar no exemplo a seguir.

Leia este soneto de Álvares de Azevedo:

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada...
— Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia.

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti — as noites eu velei chorando
Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!

É perceptível, no primeiro verso, o paradoxo “lâmpada sombria”, o qual sugere tristeza. No terceiro verso, a comparação “como a lua” indica que a interlocutora do eu lírico é superior. Isso é reforçado com a metáfora “anjo” (na segunda estrofe), a qual sugere que a interlocutora é pura, sublime, idealizada.

O poema também possui hipérbatos, por exemplo, nos versos 10 e 13. Além disso, os dois últimos versos apresentam uma anáfora, que ressalta a dedicação do eu lírico. O eu lírico também aplica recursos fônicos, como a assonância relativa à vogal “a” e a aliteração obtida pela repetição da letra “l”, em “Pálida, à luz da mpada sombria”, só para citar um exemplo.

Saiba mais: Polissemia — fenômeno linguístico em que uma palavra apresenta mais de um significado

Exercícios resolvidos sobre estilística

Questão 1 (Enem)

Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasileiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema sobre a sua relação com as pequenas e grandes cidades.

Bicho urbano

Se disser que prefiro morar em Pirapemas

ou em outra qualquer pequena cidade do país

estou mentindo

ainda que lá se possa de manhã

lavar o rosto no orvalho

e o pão preserve aquele branco

sabor de alvorada.

.....................................................................

A natureza me assusta.

Com seus matos sombrios suas águas

suas aves que são como aparições

me assusta quase tanto quanto

esse abismo

de gases e de estrelas

aberto sob minha cabeça.

GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1991.

Embora não opte por viver numa pequena cidade, o poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das pequenas comunidades. Para expressar a relação do homem com alguns desses elementos, ele recorre à sinestesia, construção de linguagem em que se mesclam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção em que se observa esse recurso.

A) “e o pão preserve aquele branco/ sabor de alvorada”.

B) “ainda que lá se possa de manhã/ lavar o rosto no orvalho”.

C) “A natureza me assusta./ Com seus matos sombrios suas águas”.

D) “suas aves que são como aparições/ me assusta quase tanto quanto”.

E) “me assusta quase tanto quanto/ esse abismo/ de gases e de estrelas”.

Resolução:

Alternativa A.

Em “e o pão preserve aquele branco/ sabor de alvorada”, o eu lírico destaca o sentido da visão (“branco”) e do paladar (“sabor”).

Questão 2 (Enem)

Labaredas nas trevas

Fragmentos do diário secreto de

Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski

20 DE JULHO [1912]

Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se interessaria por qualquer coisa

que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe”.

20 DE DEZEMBRO [1919]

Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não. The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me pediram um artigo.

FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de

A) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência.

B) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.

C) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circunstâncias apresentadas na outra.

D) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto, em que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta à outra.

E) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma.

Resolução:

Alternativa B.

A metáfora “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal” estabelece uma relação semântica de temporalidade, já que indica a passagem do tempo. Afinal, se muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal, é porque muito tempo se passou.

Fontes

ÁLVARES DE AZEVEDO. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

CARDOSO, E. A. A criação neológica estilística. Matraga, Rio de Janeiro, ano 11, n. 16, 2004.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

PARENTE, Maria Cláudia Martins. O domínio da estilística: num convite a pesquisas e criações autônomas. Caderno Discente do Instituo Superior de Educação, Aparecida de Goiânia, ano 2, n. 2, 2008.

UCHÔA, Carlos Eduardo Falcão. Estudos estilísticos no Brasil. Matraga, Rio de Janeiro, v. 20, n. 32, jan./ jun. 2013.