Elipse

Por Guilherme Viana

A elipse é uma figura de linguagem que ocorre quando um termo é omitido em um enunciado, mas fica subentendido pelo contexto. Trata-se de um recurso estilístico muito utilizado em discursos e em ditados populares. Não deve ser confundido com o zeugma, que é outra figura de linguagem, caracterizada pela omissão de um elemento que já havia sido explicitado anteriormente, diferentemente do que ocorre na elipse.

Veja também: Hipérbato – figura de linguagem caracterizada pela inversão sintática

O que é elipse?

A elipse é uma figura de linguagem caracterizada pela omissão de um termo no enunciado; porém, esse termo pode ser subentendido pelo contexto. Por isso, embora o elemento esteja omitido, o contexto nos ajuda a perceber qual elemento é esse. Observe os exemplos a seguir!

  • Ele fez isso e eu: “Você está louco?”
  • Chove muito e não podemos sair de casa agora.
  • Iremos à festa sábado.
  • Casa de ferreiro, espeto de pau.
  • Lúcio andava hesitante, braços cruzados.

Entre as palavras destacadas, há um elemento omitido que foi subentendido pelo contexto: um verbo, o sujeito da oração ou uma preposição. O contexto ajuda de tal forma que a omissão pode passar despercebida.

  • Ele fez isso e eu [perguntei]: “Você está louco?”
  • Chove muito e [nós] não podemos sair de casa agora.
  • Iremos à festa [no] sábado.
  •  [Em] casa de ferreiro, [o] espeto [é] de pau.
  • Lúcio andava hesitante, [com os] braços cruzados.

O nome elipse vem do grego eleípsis, que significa “omissão”, “falta”, “insuficiência”. Assim, a elipse é classificada como uma figura de construção ou figura de sintaxe, já que se trata da omissão de um termo no enunciado.

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Elipse e zeugma

Não se deve confundir elipse e zeugma, duas figuras de linguagem caracterizadas pela omissão de termos linguísticos, mas com detalhes diferentes.

No caso da elipse, o termo omitido é depreendido pelo contexto, ou seja, não aparece em nenhum momento no enunciado, mas fica subentendido pelo contexto.

Quando ocorre zeugma, o termo omitido já apareceu antes no enunciado e, para evitar a repetição, omite-se tal elemento, criando uma equivalência semântica. Percebemos qual é o termo omitido porque a estrutura tende a ser a mesma da anterior. Isso ocorre para dar maior fluidez ao discurso.

Eu gosto de vôlei. A Renata, de futebol.

Note que o verbo “gostar” foi omitido, mas já havia sido citado anteriormente. Quando há zeugma, os sinais de pontuação (neste caso, a vírgula) marcam a omissão do termo. Para saber mais sobre essa figura de linguagem, leia o texto: zeugma.

A elipse é uma figura de linguagem que consiste na omissão de um termo que pode ser deduzido a partir do contexto do enunciado.
A elipse é uma figura de linguagem que consiste na omissão de um termo que pode ser deduzido a partir do contexto do enunciado.

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (UFF)

TEXTO

Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra.

Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição.

A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.

Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.

(ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira/INL, 1976.)

Assinale dentre as alternativas abaixo aquela em que o uso da vírgula marca a supressão (elipse) do verbo:

A) Ao vencido, ódio ou compaixão, ao vencedor, as batatas.

B) A paz, nesse caso, é a destruição (…)

C) Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.

D) (…) mas, rigorosamente, não há morte (…)

E) Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se (…)

Resolução

Alternativa A. Na frase, há supressão de um verbo que indique que “sejam dados” os respectivos prêmios ao vencido e ao vencedor.

Questão 2 - Assinale a alternativa que classifica corretamente a figura de linguagem utilizada nos enunciados abaixo:

1 – Compre sem susto: nossas lojas são virtuais; os seus direitos, reais.

2 – Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

3 – Na casa abandonada, teias de aranha, poeira e silêncio.

4 – Éramos seis.

A) 1 - elipse; 2 - zeugma; 3 - elipse; 4 - zeugma.

B) 1 - elipse; 2 - elipse; 3 - zeugma; 4 - zeugma.

C) 1 - zeugma; 2 - zeugma; 3 - elipse; 4 - elipse.

D) 1 - zeugma; 2 - elipse; 3 - zeugma; 4 - elipse.

Resolução

Alternativa C. No enunciado 1, há omissão em “os seus direitos [são] reais”, já citado anteriormente; no enunciado 2, há omissão em “do que dois [pássaros] voando”, já citado anteriormente na forma singular; no enunciado 3, há omissão em “Na casa abandonada, [] teias de aranha, poeira e silêncio”, que fica subentendido pelo contexto; no enunciado 4, há omissão em “[Nós] Éramos seis”, que também fica subentendido pelo contexto.

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