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Realismo

Realismo é um estilo de época do século XIX, de caráter antirromântico. Sua principal temática é o adultério. O primeiro romance realista foi Madame Bovary, de Flaubert.

Por Warley Souza

Casal de agricultores plantando sementes em uma pintura de Jean-François Millet, uma obra do realismo.
Plantadores de batatas, obra realista de Jean-François Millet (1814-1875).
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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O realismo é um estilo de época do século XIX. A literatura realista surgiu na França com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857. No Brasil, o realismo foi inaugurado por Machado de Assis, em 1881, com a publicação de seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas.

A literatura realista apresenta caráter antirromântico, ausência de sentimentalismo, análise psicológica, crítica à burguesia, e o tema principal é o adultério. Nas artes plásticas, o foco das obras está sobre a classe operária e os camponeses, os quais viviam em péssimas condições devido à desigualdade social resultante da Revolução Industrial.

Leia também: O que é o romantismo?

Resumo sobre realismo

  • O realismo é um estilo de época do século XIX.
  • Esse estilo de época apresenta as seguintes características:
    • antirromantismo;
    • objetividade;
    • crítica à burguesia;
    • fluxo de consciência;
    • temática do adultério.
  • O estilo realista surgiu no contexto europeu da Revolução Industrial.
  • O romance francês Madame Bovary, de Gustave Flaubert, inaugurou o realismo europeu.
  • O romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, inaugurou o realismo brasileiro.

Videoaula sobre realismo

O que é realismo?

O realismo é um estilo de época que esteve em evidência no século XIX. Surgiu no contexto da Revolução Industrial e caracteriza-se pelo antirromantismo.

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Características do realismo

→ Características do realismo na literatura

A literatura realista surgiu na Europa (com a publicação, em 1857, do romance francês Madame Bovary) e apresenta as seguintes características:

  • antirromantismo;
  • ausência de idealizações;
  • objetividade e racionalismo;
  • temas sociais;
  • crítica à burguesia;
  • fluxo de consciência;
  • análise psicológica;
  • temática do adultério;
  • foco na corrupção humana.

→ Características do realismo em outras artes

O pintor francês Gustave Courbet (1819-1877), por volta de 1855, introduziu a temática realista nas artes plásticas. Assim, as obras artísticas realistas apresentam estas características:

  • crítica sociopolítica;
  • realismo social;
  • foco na realidade de trabalhadores;
  • retrato de camponeses e operários;
  • ausência de emoção;
  • clareza e detalhamento.

Veja também: Em qual contexto surgiu o surrealismo?

Contexto histórico do realismo

A Revolução Industrial é o marco histórico relacionado ao realismo. Em tal contexto, ficaram em evidência as péssimas condições de trabalho dos operários. Os problemas urbanos foram acentuados com a migração de camponeses para as cidades. O crescimento econômico beneficiava os mais ricos e mantinha os pobres em precárias condições de vida.

Com o aumento do número de habitantes nas grandes cidades europeias, aumentaram as doenças, a miséria e a prostituição. Duas ideologias políticas estavam em foco: o marxismo e o liberalismo. Diante de uma realidade tão dura e conflitante, a idealização romântica cedeu espaço para a objetividade realista.

Autores do realismo

→ Autores realistas no Brasil

O autor reconhecidamente realista da literatura brasileira é o escritor Machado de Assis (1839-1908). Os outros autores de sua época optaram pelo estilo naturalista. Apesar de o naturalismo apresentar uma visão realista da sociedade, ele apresenta outros elementos caracterizadores inexistentes no realismo de Machado de Assis ou do escritor francês Gustave Flaubert.

→ Autores realistas no mundo

Obras do realismo

→ Obras realistas no Brasil

Os principais romances realistas de Machado de Assis são:

  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
  • Quincas Borba (1891)
  • Dom Casmurro (1899)

→ Obras realistas no mundo

  • Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert
  • Crime e castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski
  • Middlemarch (1872), de George Eliot (Mary Ann Evans)
  • O primo Basílio (1878), de Eça de Queirós 
  • Marianela (1878), de Benito Pérez Galdós
  • O príncipe e o mendigo (1881), de Mark Twain
  • Pedro e João (1888), de Guy de Maupassant
  • Effi Briest (1895), de Theodor Fontane
  • O pai Goriot (1897), de Honoré de Balzac

Realismo no Brasil

Ilustração de um homem sentado em um caixão, na capa do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, uma obra do realismo.
Capa do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, publicado pela editora Moderna. A obra inaugurou o realismo no Brasil.[1]

Em 1881, Machado de Assis publicou seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas e, dessa forma, inaugurou o realismo brasileiro. Sua obra realista é marcada pela ironia, diálogo com o leitor, ausência de sentimentalismo, análise psicológica, fluxo de consciência, crítica à burguesia e temática do adultério. É bom frisar que suas obras não apresentam nenhuma marca naturalista.

Desse modo, esse escritor carioca é o principal representante do realismo brasileiro. Os outros autores de sua época, como Aluísio Azevedo (1857-1913), Raul Pompeia (1863-1895) e Adolfo Caminha (1867-1897), optaram pelo estilo naturalista. Uma autora de destaque foi Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), cujas obras de caráter realista apresentam traços do naturalismo.

→ Videoaula sobre realismo no Brasil

Realismo, romantismo e naturalismo

ROMANTISMO

REALISMO

NATURALISMO

Amor idealizado, mulher idealizada, exagero sentimental, subjetividade, culto à liberdade, enaltecimento dos valores burgueses, valorização da religião.

Temática do adultério, crítica sociopolítica, ausência de sentimentalismo, objetividade, crítica à burguesia, antirromantismo.

Elementos realistas, determinismo, zoomorfização, cientificismo, evidenciação dos instintos em oposição à razão, caráter racista e homofóbico.

Saiba mais: Parnasianismo — outra escola literária que fez oposição ao romantismo

Exercícios resolvidos sobre realismo

Questão 1 (USP)

Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...

Machado de Assis. Dom Casmurro.

Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em Dom Casmurro, Machado de Assis

A) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequente recusa de leituras estrangeiras.

B) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.

C) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá caracterizar seus últimos romances.

D) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.

E) utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.

Resolução:

Alternativa E.

O autor cita seus predecessores, os autores românticos brasileiros José de Alencar e Álvares de Azevedo. Esses autores falam do costume de ir ver a namorada, a cavalo, em um contexto romântico. No entanto, Machado de Assis usa tal costume em um contexto distinto das obras românticas, já que o narrador Bentinho, já velho, rememora o passado, de forma a mostrar que os costumes românticos ficaram distantes do presente em que o narrador realiza seu relato.

Questão 2 (UFLA)

Referindo-se ao papel do leitor na leitura da obra literária, Machado de Assis comenta, no capítulo V, de Esaú e Jacó: “Há contradições explicáveis. Um bom autor, que inventasse a sua história ou prezasse a lógica aparente dos acontecimentos, levaria o casal Santos a pé ou em caleça de praça ou aluguel; mas eu, amigo, eu sei como as cousas se passaram, e refiro-as tais quais. Quando muito explico-as, com a condição de que tal costume não pegue. Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar. O melhor é ler com atenção”.

Assim, deve-se entender que:

A) O leitor deve exigir do narrador clareza para a lógica dos acontecimentos.

B) O leitor deve buscar, no romance, as explicações para os fatos apresentados no texto.

C) O leitor é elemento ativo na leitura do romance, devendo imaginar uma relação entre os fatos.

D) O leitor é elemento secundário na leitura do romance, devendo seguir as informações do narrador.

Resolução:

Alternativa C.

Para o irônico narrador machadiano, o leitor é elemento ativo na leitura do romance. Quando ele diz para o leitor “ler com atenção”, sugere que ele precisa preencher as lacunas da história, já que: “Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar”.a

Créditos da imagem

[1] Editora Moderna (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

PAIM, Ivana Soares. Por enxergar demais. A pintura de Hugo Adami. 2002. Dissertação (Mestrado em História da Arte) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

TORAL, André A. No limbo acadêmico: comentários sobre a exposição “Almeida Júnior — um criador de imaginários”. ARS, São Paulo, v. 5, n. 10, 2007.

WANNER, Maria Celeste de Almeida. Índices de contemporaneidade nas artes visuais. In: WANNER, Maria Celeste de Almeida. Paisagens sígnicas: uma reflexão sobre as artes visuais contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2010.

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