A relação transitividade x sentido referente a alguns verbos

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Ao nos referirmos à transitividade de um verbo, enfatizamos acerca de uma característica que lhe é intrínseca: o fato de ser considerado nocional, ou seja, aquele que exprime processos, revelando desta forma uma ação, fenômeno natural, desejo, atividade mental. Como expresso nos exemplos subsequentes:

Além de tal característica, há ainda outro aspecto um tanto quanto pertinente – o sentido expresso pelo verbo possui por si só uma ideia completa, ou prescinde de algo para conferir-lhe sentido?
O presente questionamento faz referência ao fato de que determinados verbos possuem sentido completo, como é o caso do primeiro exemplo. Caso disséssemos somente assim: “meus primos partiram”, perceberíamos que o discurso se mostra perfeitamente claro aos olhos do interlocutor. Defrontamo-nos, portanto, com um verbo intransitivo, isto é, sua ação não transita.

Diferentemente ocorreria ao analisarmos o segundo e terceiro exemplos, haja vista que os verbos que assim os representam necessitam de complementos, ora denominados de transitivos, cuja ação transita entre o complemento de forma direta – Analisamos todos os relatórios -, ou de forma indireta, ou seja, por meio de uma preposição – Todos gostaram muito do passeio.

Tais pressupostos subsidiaram-nos no intento de compreendemos melhor como se efetiva a transitividade verbal. Entretanto, focalizaremos de forma específica acerca de uma ocorrência que a ela se relaciona: casos em que a mudança de transitividade de alguns verbos incide de igual forma no significado revelado por estes. Eis que são:

a) Agradar, no sentido de “acariciar”, “fazer carinho”, classifica-se como transitivo direto.

Ex: Quando ausente, sente falta de agradar os filhos/ Quando ausente, sente falta de agradá-los.

Revelado pelo sentido de ser “agradável a”, “satisfazer”, “causar agrado a”, classifica-se como transitivo indireto.

Ex: A apresentação agradou a todos os convidados.

b) Assistir, no sentido de “ajudar”, “prestar assistência”, é transitivo direto.

Ex: Assisti a idosa ao atravessar o sinal.

No sentido de ver, presenciar, classifica-se como transitivo indireto.

Ex: Assistimos a todos os jogos deste último mundial.

c) O verbo aspirar denotando “sorver”, “inalar”, é transitivo direto.

Ex: Na loja, a cliente aspirou todas as fragrâncias.

Quando revelado pelo sentido de “almejar’’, “pretender”, assume a posição de transitivo indireto.

Ex: Aquele antigo funcionário aspirava a um cargo mais elevado.

d) Chamar, revelado pelo sentido de “convocar”, “solicitar a presença ou a atenção de”, classifica-se como transitivo direto.

Ex: Por várias vezes, a instituição chamou os candidatos classificados para tomarem posse/ Por várias vezes, a instituição chamou-os para tomarem posse.

No sentido de “denominar”, “tachar”, tanto pode ser transitivo direto quanto indireto.
Exemplos:

Todos os colegas chamavam a menina gordinha/ Todos os colegas chamavam-na.

Todos os colegas chamaram a menina de gordinha/ Todos os colegas chamaram-lhe de gordinha.

e) Implicar, revelando o sentido de “ter como consequência”, “acarretar em algo”, revela-se como transitivo direto.

Ex: A mudança de transitividade verbal implica a mudança de significado.

Quando expresso pelo sentido de “ter implicância, “embirrar”, classifica-se como transitivo indireto.

Ex: Nossa! Não vejo o porquê de eles implicarem tanto com você.

f) O verbo proceder, no sentido de “fazer sentido”, “ter fundamento”, classifica-se como intransitivo.

Ex: Tais discussões realmente não procedem.

Quando expresso no sentido de “provir”, “originar-se”, classifica-se como transitivo indireto, regido pela preposição “de”.

Ex: Esta arrogância procede da má convivência familiar.

Quando revelado pelo sentido de “dar início”, “realizar”, é também transitivo indireto:

Ex: Hoje o diretor procedeu à convocação de todos os alunos.

g) Querer, no sentido de “desejar”, “ter vontade de”, classifica-se como transitivo direto.

Ex: Muita paz, é somente o que queremos.

Expresso pelo sentido de “estimar”, “ter afeição a algo ou a alguém”, é transitivo indireto.

Ex: Todos se despediram do amigo que muito lhes queria bem.

h) Visar, no sentido de “mirar”, “pôr visto”, “rubricar”, classifica-se como transitivo direto.

Ex: Foi necessário que o gerente visasse o cheque.

Quando revelado pelo sentido de “ter em vista”, “objetivar”, é transitivo indireto.

Ex: As decisões conquistadas durante a reunião visavam à melhoria de salários.

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