A arte da construção textual

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

 A escrita requer habilidades específicas por parte do emissor

 

Catar feijão

Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
[...]
João Cabral de Melo Neto
Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
[...]
João Cabral de Melo Neto

 As construções poéticas em evidência retratam a metáfora da “arquitetura” textual, pois tal procedimento perfaz-se de habilidades específicas que a torna bastante complexa.

Tamanha complexidade faz com que nos reportemos aos dizeres de João Cabral, os quais retratam que o ato da escrita assemelha-se a uma situação cotidiana, a de catar feijão. O caráter verídico da afirmativa em questão parte do pressuposto de que um texto não se forma por meio de um aglomerado de palavras desconexas e atribuídas de maneira aleatória. Ao contrário, o mesmo deve ser composto por ideias justapostas e ordenadas, visando tornar clara a mensagem que ora pretende-se ressaltar.

Tendo em vista que a escrita visa estabelecer uma comunicação, faz-se necessário que haja uma efetiva interação entre os interlocutores. Assim sendo, depreende-se que o emissor disponha de certos recursos para que o discurso se materialize de forma plausível.

Para tal, alguns procedimentos específicos tendem a se tornar práticos, tais como o domínio dos recursos linguísticos, sendo que estes englobam os conhecimentos gramaticais e lexicais, concepção acerca da realidade que o constitui, evidenciando sua visão de mundo, dentre outros fatores.
Em meio a estas competências, é importante ressaltar que os textos não existem por si só, eles sempre estabelecem diálogos com os demais, assumindo um ponto de vista que se contrapõe a outro, integrando-se desta forma a um universo textual que remete a uma dada realidade.

Diante dos fatos mencionados, torna-se de fundamental importância aprimorarmos nossa competência diante da escrita, desenvolvendo o hábito da leitura, trocando experiência com pessoas dotadas de um conhecimento mais amplo, reforçando a capacidade argumentativa, posicionando-nos criticamente frente à realidade na qual estamos inseridos.

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