O anacoluto é uma figura de linguagem cuja base é a interrupção da estrutura oracional, de modo que ocasiona o isolamento de determinadas palavras e expressões, fazendo-as perder a função sintática. Ressalta-se o fato de esse recurso estilístico ser, principalmente, observado em contextos de comunicação oral. Levando em consideração que o anacoluto diz respeito à organização dos termos, faz-se necessário distingui-lo do hipérbato, o qual constitui apenas uma reordenação das palavras e expressões.
Leia também: Assíndeto – figura de linguagem que consiste em omitir conjunções coordenativas
Anacoluto é uma figura de linguagem relacionada à sintaxe, ou seja, que diz respeito à organização das palavras nas orações. Esse recurso estilístico é pautado no rompimento do sistema lógico-gramatical, o que desencadeia a perda da função sintática de algum elemento pertencente à oração, isto é, o termo ou locução que inicia a oração é seguido por uma estrutura estranha a ele, levando-o a ficar isolado e, portanto, a não exercer um papel no contexto.
O anacoluto ocorre de forma bastante frequente na oralidade, tendo em vista que os falantes, ao se comunicarem, são propensos a elaborar topicalizações (destacam o que será o tema do diálogo), mas utilizam outras estruturas sintáticas para desenvolver o assunto. Isso ocorre devido, principalmente, à dificuldade que a linguagem encontra em traduzir a velocidade do pensamento, assim, o indivíduo, no momento da externalização das suas ideias, não antevê que o início de sua manifestação impossibilita a conclusão de seu raciocínio, tornando imperativa, a partir do momento da consciência, a mudança de organização dos termos.
Exemplo
Esse seu jeito, sua forma de falar me incomoda!
Esse seu jeito, |
sua forma de falar |
me |
incomoda! |
Sem função sintática |
sujeito |
objeto direto |
verbo transitivo direto |
Perceba que “Esse seu jeito” ficou desconectado da frase e, inclusive, foi separado por vírgula, já que essa pontuação costuma marcar o anacoluto.
Além da oralidade, o anacoluto é encontrado em textos literários, entretanto a sua utilização em composições escritas que exijam a atenção à norma-padrão não é recomendada, pois é um recurso estilístico que origina falhas na coesão textual.
Exemplos dessa figura de linguagem em obras literárias:
Apesar de o anacoluto e o hipérbato serem construídos a partir do desvirtuamento da organização padrão das palavras na oração, eles possuem diferenças. O primeiro, conforme visto, diz respeito a uma interrupção do eixo sintagmático, levando uma palavra ou expressão a ficar sem classificação sintática, enquanto o segundo mantém a categorização de todos os elementos, mas há uma mudança da disposição típica deles. Assim, se a nossa língua se configura num sistema SVO (sujeito + verbo + objeto), quando o hipérbato acontece, a oração pode assumir a ordem OSV (objeto + verbo + sujeito), desde que a transformação conte com um objetivo expressivo.
Exemplos de hipérbato:
“Essas que ao vento vêm
Belas chuvas de junho!” (J. Cardoso)
Para saber mais sobre essa figura de linguagem caracterizada pela inversão sintática, leia o texto: hipérbato.
Questão 1 – Identifique a alternativa que contém um hipérbato.
A) “Sobre o banco de pedra que ali tens/ Nasceu uma canção.” (Vinícius de Moraes)
B) “Ando devagar porque já tive pressa/ Levo este sorriso porque já chorei demais.” (Almir Satter/Renato Teixeira)
C) “Jamais permitiria que seu marido fosse para o trabalho com a roupa mal, não dissessem os colegas que era esposa descuidada.” (Marina Colasanti)
D) “Ser ou não ser, eis a questão.” (William Shakespeare)
Resolução
Alternativa A, pois houve uma inversão da ordem sintática. Observe: Nasce uma canção sobre o banco de pedra que ali tens.
Questão 2 – Indique a frase em que há um anacoluto.
A) Não estou ciente se eles virão, aqueles mentirosos.
B) A primogênita, que tanto gostava da mãe, impactou-lhe muito a falta de união.
C) O presidente americano, diante desta acusação, corre o risco de não ser reeleito.
D) Senhores, que se intitulam donos da verdade, por acaso, já se policiaram para não falar besteira.
E) Quando visito um museu, reflito sobre como a história nos parece distante, mas faz parte do presente.
Resolução
Alternativa B, pois houve uma interrupção sintática, deixando “a primogênita” sem função na oração.
Que tal fazer uma revisão sobre complementos verbais agora?
Aprenda o que são as vanguardas europeias
Conheça mais sobre o pretérito perfeito, tempo verbal que expressa ações passadas.
Veja sobre o movimento artístico surgido na Europa em 1919.
Saiba como separar as sílabas das palavras que possuem hiato.