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Pedir para, pedir que, pedir para que

“Pedir para”, “pedir que”, “pedir para que” têm sentidos distintos. “Pedir que” e “pedir para” são formas corretas na língua culta, mas “pedir para que” é incorreta.

Por Warley Souza

Demarcação de qual é correto: pedir para, pedir que, pedir para que.
Nas expressões “pedir para” e “pedir que”, o “para” e o “que” exercem funções diferentes.
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Quando utilizar “pedir para”, “pedir que”, “pedir para que”? Devemos usar “pedir que” quando o verbo “pedir” exige um objeto oracional, ou seja, é seguido de oração subordinada substantiva objetiva direta. Utilizamos “pedir para” quando está subentendida a palavra “licença” após o verbo, isto é, “pedir licença para”. Nesse caso, o “para” inicia uma oração subordinada adverbial final. Por fim, é incorreto usar “pedir para que”.

Leia também: Acerca de, a cerca de ou há cerca de?

Resumo sobre pedir para, pedir que, pedir para que

  • Usamos “pedir que” quando o “que” inicia uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

  • Usamos “pedir para” quando, após o verbo, está implícita a palavra “licença” ou “permissão”.

  • Quando usamos “pedir para”, a preposição “para” inicia uma oração subordinada adverbial final.

Quando usar “pedir que”?

O verbo “pedir” é bitransitivo. Isso significa que quem pede, pede algo a alguém. Por exemplo:

Pedi uma chance ao professor e refiz a prova.

Nesse enunciado, “uma chance” é o objeto direto e “ao professor” é objeto indireto.

Portanto, utilizamos “pedir que” diante de oração subordinada substantiva objetiva direta:

Peço-lhe que saia agora, por favor.

Os bombeiros pediram aos moradores que abandonassem o prédio.

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Quando usar “pedir para”?

A norma culta da língua portuguesa permite o uso de “pedir para” apenas quando está subtendida a ideia de licença ou permissão:

O advogado pediu para falar.
[O advogado pediu licença para falar.]

Meu vizinho pediu para me abraçar.
[Meu vizinho pediu permissão para me abraçar.]

Nesses casos, as orações iniciadas por “para” são subordinadas adverbiais finais.

No entanto, é preciso cautela no uso de “pedir para”, já que a frase pode ficar ambígua:

Nora pediu-lhe para sair.

Nesse caso, a construção da frase traz dúvida, pois não sabemos se quem deve sair é Nora ou seu/sua interlocutor(a). Enfim, Nora pediu permissão para ela própria sair ou Nora pediu que alguém saísse?

Além disso, no dia a dia, são bastante comuns (apesar de ainda não aceitas pela gramática normativa) construções como:

Jurandir pediu uma bicicleta para o pai.

Nesses casos, o falante da língua substitui a preposição “a” pela preposição “para”. Mas, de acordo com a norma-padrão, a frase deveria ser escrita assim:

Jurandir pediu uma bicicleta ao pai.

Por que “pedir para que” é errado?

O uso de “pedir para que” surge a partir da confusão entre oração subordinada substantiva objetiva direta e oração subordinada adverbial final.

Veja este enunciado que contraria a norma culta:

Eleanor pediu para que Júlio viajasse com ela.

Observe que há proximidade de ideias em relação à oração subordinada substantiva, pois ela pode ser objetiva direta:

Eleanor pediu que Júlio viajasse com ela.

Ou adverbial final reduzida de infinitivo:

Eleanor pediu [permissão] para Júlio viajar com ela.

Portanto, ou usamos “pedir que” ou usamos “pedir para”, já que tais expressões iniciam orações com funções distintas.

Dicas para usar “pedir para” e “pedir que”

Verifique se, após o verbo “pedir”, está implícita a palavra “licença” ou sinônimos dessa palavra, tais como: “permissão”, “autorização” ou “consentimento”. Se for esse o caso, é lícito o uso de “pedir para”:

O funcionário pediu para sair mais cedo.

Ou seja, o funcionário pediu licença, permissão, autorização para sair mais cedo.

Se não for esse o caso, o correto é utilizar “pedir que”:

O cantor pediu que ouvissem a música em silêncio.

Nesse caso, o cantor não está pedindo permissão. Portanto, não há ideia de finalidade, de forma que a oração iniciado por “que” apenas completa o sentido do verbo “pedir”.

Leia também: Coco, côco ou cocô?

Exercícios sobre “pedir para” e “pedir que”

Questão 1

Leia este parágrafo do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis:

Manduca enterrou-se sem mim. A muitos outros aconteceu a mesma coisa, sem que eu sentisse nada, mas este caso afligiu-me particularmente pela razão já dita. Também senti não sei que melancolia ao recordar a primeira polêmica da vida, o gosto com que ele recebia os meus papéis e se propunha a refutá-los, não contando o gosto do carro... Mas o tempo apagou depressa todas essas saudades e ressurreições. Nem foi só ele; duas pessoas vieram ajudá-lo: Capitu, cuja imagem dormiu comigo na mesma noite, e outra que direi no capítulo que vem. O resto deste capítulo é só para pedir que, se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção mais da que lhe exigir o preço do exemplar, não deixe de concluir que o diabo não é tão feio como se pinta. Quero dizer...

MACHADO DE ASSIS. Dom Casmurro. 2. ed. Brasília: Edições Câmara, 2019.

Agora analise estas afirmações acerca do fragmento lido:

I. A expressão “pedir que” é complementada pela oração “se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção”.

II. A expressão “pedir que” é complementada pela oração “não deixe de concluir”.

III. É possível substituir “pedir que” para “pedir para”, sem alteração no sentido do período.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s):

A) I apenas.

B) II apenas.

C) III apenas.

D) I e II apenas.

E) I, II e III.

Resolução:

Alternativa B.

A expressão “pedir que” exige um complemento direto, ou seja, a oração subordinada substantiva objetiva direta “não deixe de concluir”: “pedir que não deixe de concluir”. Já a oração “se alguém tiver de ler o meu livro com alguma atenção” é subordinada adverbial condicional. Por fim, ao usarmos a expressão “pedir para” (“pedir [permissão] para não deixar de concluir”), ela passa a ser seguida por uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo. O caráter de finalidade, assim, dá um novo sentido para o período, além, é claro, de acrescentar a ideia de que o narrador pede licença para alguém “não deixar de concluir” algo, o que, no contexto, não faz sentido.

Questão 2

Assinale a alternativa em que o uso do verbo “pedir” está incorreto.

A) O ator pediu que as filmagens começassem logo.

B) Foi até a mãe e pediu para ir ao cinema.

C) Eu pedia que você estivesse ali comigo.

D) Pedia para que o pai chegasse cedo.

E) Pedirei que tirem o lixo da minha calçada.

Resolução:

Alternativa D.

A expressão “pedir para que” é considerada incorreta pela gramática normativa. Desse modo, o correto seria escrever “Pedia que o pai chegasse cedo”.

Fontes:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 40. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2024.

PEDIR. In: Aulete Digital. Disponível em: https://www.aulete.com.br/pedir.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.