As entrelinhas do texto literário

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Ler nas entrelinhas do texto literário é, sobretudo, compreender a ideologia de cada autor
Ler nas entrelinhas do texto literário é, sobretudo, compreender a ideologia de cada autor

“Ler nas entrelinhas”... tal assertiva relaciona-se de forma significativa com o universo literário. Sim, pois compreender a Literatura é, antes de tudo, entregar-se à reflexão. Dessa forma, desejamos perguntar a você, prezado (a) usuário (a):

Diante da leitura de um poema, ou até mesmo de um conto, ou qualquer outra modalidade narrativa (escrita em prosa), você o concebe como um simples emaranhado de palavras, cujo sentido para você ainda é obscuro, ou você consegue “captar”, digamos assim, o que o autor deseja lhe transmitir? Para que você possa dar vazão às suas ideias, ora firmadas, você precisa partir do princípio de que a arte literária é a arte da palavra. Assim, cada autor, vivendo em meio a uma realidade histórica, faz da expressão verbal o seu modo de ver e sentir aquilo que o rodeia. Por isso, muitas vezes, a depender da intenção de quem escreve, a literatura atua como verdadeiro instrumento de denúncia, sem dúvida. Contudo, você, enquanto leitor, precisa estar apto a desvendar o “indizível”, “o não dito”, quase sempre camuflado por entre as palavras notadamente explícitas. Como desenvolver tal habilidade?

Veja alguns exemplos, de modo a entender melhor essa questão:

[...]
Frequentemente surgiam brigas, e seus estremecimentos repercutiam longe, derrubavam paredes distantes e causavam novas brigas, até que os empurrões, chifradas, ancadas forçassem uma arrumação temporária. O boi que perdesse o equilíbrio e ajoelhasse nesses embates não conseguia mais se levantar, os outros o pisavam até matar, um de menos que fosse já folgava um pouco o aperto – mas só enquanto os empurrões vindos de longe não restabelecessem a angústia.
                                             [...]
      (Trecho extraído do livro “A hora dos ruminantes”, de José J. Veiga) 

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O trecho acima trata-se de uma narrativa fantástica, na qual os personagens são representados por animais, cuja manifestação se encontra relacionada ao contexto histórico demarcado pela época ditatorial. Como sabemos, a censura atuava como meio de represália àqueles que ousassem se posicionar de forma contrária aos mandos impostos à sociedade – razão pela qual muita gente foi exilada, desaparecida, enfim, punida. Assim, como entender a mensagem expressa pelo autor, se isso não se encontra explícito em lugar algum da narrativa? Eis o porquê da importância do conhecimento de mundo, e, em especial, do contexto que tanto norteou a história do povo brasileiro.

Outro exemplo, agora sob o estilo poético:

O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

                                          Manuel Bandeira

Como interpretar as palavras desse nobre poeta se não temos conhecimento das ideias que tanto demarcaram os representantes modernistas? Saiba que uma delas foi a denúncia social. Dessa forma, contradizendo o que tanto cultuavam os representantes da era romântica, parnasiana e simbolista, os modernista chegaram para mostrar a “cara” do Brasil.

Assim, imprime-se nas palavras de Manuel Bandeira um verdadeiro espírito de indignação frente ao contexto político da era em questão.

Perguntamos: mediante uma leitura superficial da criação que nos serviu de exemplo, você conseguiu decifrar o que realmente quis dizer o autor?

Se sim, você realmente se mostra hábil a ler nas entrelinhas do texto literário.

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