Cinco poemas de amor de Fernando Pessoa

Por Luana Castro Alves Perez

Falar de amor sempre foi um dos temas favoritos dos poetas. Selecionamos, então, cinco poemas de amor de Fernando Pessoa, o poeta múltiplo.

Fernando Pessoa
Um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa falou sobre o amor como poucos.

Fernando Pessoa, poeta português que ao longo de sua vida produziu não só em língua portuguesa, mas também em língua inglesa, deixou uma vasta contribuição para a literatura universal. Poeta de múltiplas faces, foi vários e ao mesmo tempo um só: seus heterônimos são sua marca registrada, todos eles com biografias e estilos próprios, característica que fez dele um escritor incomparável.

Seus poemas mais conhecidos foram assinados por seus principais heterônimos: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o alter ego do escritor. Como o amor sempre foi uma temática constante em sua obra literária, o sítio de Português escolheu cinco poemas de amor de Fernando Pessoa para você adentrar no universo desse enigmático e surpreendente poeta. Poucos souberam traduzir em palavras, e com tamanha maestria, esse sentimento que nutre a vida humana. Boa leitura!

Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis estão entre os heterônimos de Pessoa. O Livro do desassossego é assinado por Bernardo Soares
Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis estão entre os heterônimos de Pessoa. O Livro do desassossego é assinado por Bernardo Soares.

Presságio

 O AMOR, quando se revela,
 Não se sabe revelar.
 Sabe bem olhar p'ra ela,
 Mas não lhe sabe falar.
 
 Quem quer dizer o que sente
 Não sabe o que há de dizer.
 Fala: parece que mente...
 Cala: parece esquecer...
 
 Ah, mas se ela adivinhasse,
 Se pudesse ouvir o olhar, 
 E se um olhar lhe bastasse
 P'ra saber que a estão a amar!
 
 Mas quem sente muito, cala;
 Quem quer dizer quanto sente
 Fica sem alma nem fala,
 Fica só, inteiramente!
 
 Mas se isto puder contar-lhe
 O que não lhe ouso contar,
 Já não terei que falar-lhe
 Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

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Álvaro de Campos

Quando Eu não te Tinha

Quando eu não te tinha 
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo. 
Agora amo a Natureza 
Como um monge calmo à Virgem Maria, 
Religiosamente, a meu modo, como dantes, 
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ... 
Vejo melhor os rios quando vou contigo 
Pelos campos até à beira dos rios; 
Sentado a teu lado reparando nas nuvens 
Reparo nelas melhor — 
Tu não me tiraste a Natureza ... 
Tu mudaste a Natureza ... 
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim, 
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma, 
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, 
Por tu me escolheres para te ter e te amar, 
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente 
Sobre todas as cousas. 
Não me arrependo do que fui outrora 
Porque ainda o sou. 

Só me arrependo de outrora te não ter amado.

Alberto Caeiro

O Amor É uma Companhia

O amor é uma companhia. 
Já não sei andar só pelos caminhos, 
Porque já não posso andar só. 
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa 
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. 
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. 
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. 

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. 
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. 
Todo eu sou qualquer força que me abandona. 
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro

Não Sei se é Amor que Tens, ou Amor que Finges

Não sei se é amor que tens, ou amor que finges, 
O que me dás. Dás-mo. Tanto me basta. 
            Já que o não sou por tempo, 
            Seja eu jovem por erro. 
Pouco os deuses nos dão, e o pouco é falso. 
Porém, se o dão, falso que seja, a dádiva 
            É verdadeira. Aceito, 
            Cerro olhos: é bastante. 
            Que mais quero?

Ricardo Reis

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