Epopeia

Por Leandro Guimarães

A epopeia é um gênero poético estruturado em versos e estrofes, caracterizado, sobretudo, pela exaltação de ações nobres e guerreiras feitas por pessoas de relevância social e cultural em determinado povo. Foi criada na Grécia Antiga, e as epopeias Ilíada e Odisseia, cuja autoria é atribuída a Homero, constituem os modelos mais famosos desse gênero.

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O que é epopeia?

De origem grega, epopeia ou poesia épica designa um gênero poético predominantemente narrativo, dedicado à exaltação de feitos históricos, lendários ou míticos considerados representativos de uma determinada cultura. A palavra grega épopoia é composta pelo substantivo épos (aquilo que é expresso pela fala) e por um derivado do verbo poien (fazer, fabricar). Assim, pode-se dizer que a epopeia é a sistematização formal de uma fala essencial — o épos — proferida pelos poetas que contavam sobre a origem e a verdade do mundo.

Características de uma epopeia

Aspectos temáticos

  • Aventuras de um herói e suas façanhas guerreiras, tendo como contexto a história de povos e civilizações;

  • Representação, em versos, de homens tidos como “superiores” em uma determinada cultura;

  • Presença do elemento maravilhoso, ou seja, do sobrenatural, mais especificamente, interferência dos deuses da mitologia greco-romana nas ações em torno do herói.

Aspectos formais

  • Poema narrativo em que a narração acontece por meio de um narrador onisciente em terceira pessoa do discurso;

  • Estruturado em estrofes e versos, os quais se agrupam em cantos ou livros;

  • Presença de uma linguagem mais objetiva;

  • Apresenta, geralmente, as seguintes partes: introdução, invocação, narração e epílogo.

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Exemplos de epopeias

Os principais modelos de epopeia no Ocidente são as obras Ilíada e Odisseia, ambas de autoria atribuída a Homero. Os textos homéricos foram criados por volta do ano 750 a.C., sendo reproduzidos, oralmente, por adedos, nome atribuído aos poetas-cantores que os reproduziam oralmente, até que essas duas epopeias ganhassem versões escritas, por volta do ano 500 a.C.

Além desses dois modelos clássicos de epopeia, existiu, na Grécia Antiga, em um período anterior ao de criação das obras de Homero, o poema épico A epopeia de Gilgamesh, que narra os feitos do rei Gilgamesh, que governou a cidade sumeriana de Uruk (1900-1600 a.C.).

  • Ilíada

Representação de uma das cenas de luta da epopeia Ilíada, de Homero.
Representação de uma das cenas de luta da epopeia Ilíada, de Homero.

Do grego llias, relativo à cidade troiana de Ílion ou à Troia, Ilíada narra o incidente ocorrido no cerco dos gregos à cidade de Ílion, fato que teria correspondido a, aproximadamente, 50 dias de uma guerra que durou 10 anos.

Em seus versos, Homero apresenta personagens famosos da história e da mitologia grega, como Páris, Helena, Heitor, Ulisses, Aquiles e Agamêmnon. Apesar da presença desses personagens e da intervenção dos deuses do Olimpo, o que acontece frequentemente, o protagonismo da epopeia reside na narrativa da tragédia de Aquiles.

Esse personagem, que é um semideus, irrita-se com Agamêmnon, líder do exército grego, e retira-se da batalha da qual participava, o que faz com que os troianos imponham derrotas aos gregos. Inconformado com a reviravolta desfavorável aos gregos, seu escudeiro e amigo Pátroclo volta ao combate e acaba morto por Heitor, filho do rei de Troia. Tomado por ódio pela perda de seu escudeiro, Aquiles retorna à guerra disposto a vingar-se dos troianos e mata Heitor.

Entretanto Aquiles é atingido por uma flecha em seu calcanhar, parte do corpo em que se encontrava sua única fragilidade física. Segundo a lenda, sua mãe, ciente, por meio dos oráculos, do destino trágico que seu filho teria na juventude, mergulhou-o, ainda criança, no rio Estige, um dos rios que banham o Mundo dos Mortos, querendo, com isso, que ele ficasse imortal. No entanto, como ela o segurava pelo calcanhar para imergi-lo na água, essa parte do corpo não foi banhada, o que fez com que ficasse vulnerável.

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  • Odisseia

Odisseia narra as aventuras de Ulisses.
Odisseia narra as aventuras de Ulisses.

A epopeia Odisseia, estruturada em mais de 12 mil versos, centra-se na narração do regresso de Ulisses, nome latino para Odisseu, a sua terra natal, o reino de Ítaca, após guerrear na Guerra de Troia, episódio narrado na epopeia Ilíada. Quando partiu para Troia, Ulisses deixou em seu reino sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco, que na ocasião tinha um mês de vida.

Como a Guerra de Troia durou 10 anos, e seu regresso para Ítaca mais 10 anos, sua família ficou privada de sua companhia por 20 anos, o que fez com que o posto de rei fosse cobiçado. Assim, muitos pretendentes apresentaram-se a Penélope com a justificativa de que Ulisses não mais retornaria, pois certamente já havia sido morto em combate. Para driblá-los, já que sempre nutria a esperança do regresso de seu amado, Penélope trama a seguinte artimanha: comunica que só se casaria novamente após terminar de tecer uma mortalha com a qual seu sogro, pai de Ulisses, pudesse ser enterrado. No entanto, toda noite ela desfaz o que passou o dia costurando, de modo que nunca termina a feitura da peça.

Enquanto isso, Ulisses, no caminho de volta a sua casa, vivencia uma série de aventuras e perigos, como o período em que se tornou prisioneiro da ninfa Calipso em sua ilha. Além disso, em alto-mar, sofreu as ameças das sedutoras e perigosas sereias, as quais têm um canto mágico capaz de enlouquecer quem as escute.

Após muitas peripécias, Ulisses chega a Ítaca, onde se encontra com o filho na casa do pastor Eumeu, seu antigo servo. Fingindo ser um mendigo, o protagonista retorna a sua casa, onde presencia a falta de escrúpulos dos pretendentes de sua esposa, os quais esperam ansiosos para ver quem conseguirá a mão de Penélope e, consequentemente, o trono de Ítaca.

Sua identidade é descoberta pela caseira, Euricleia, quando ela lava seus pés e descobre uma antiga cicatriz que seu rei tinha, resultado de uma caçada a javalis, momento da narrativa em que Homero dedica-se a narrar os acontecimentos que resultaram no ferimento que deu origem ao ferimento.

No dia seguinte, Penélope convence os pretendentes a participarem de uma competição de arco e flecha utilizando-se do arco e flecha de seu marido, sendo que o vencedor se casaria com ela. Nenhum dos pretendentes acerta o alvo, já que não conseguem dobrar suficientemente o pesado arco. Ainda disfarçado de mendigo, Ulisses candidata-se a pretendente e verga o arco, disparando uma flecha certeira no alvo e vencendo, assim, a disputa. Após isso, dispara flechas contra os pretendentes. Nessa ocasião, Ulisses se apresenta a Penélope, a qual se mostra incrédula inicialmente, mas passa a acreditar no retorno de seu marido quando o ouve descrever a cama de madeira que construíra após se casarem.

A importância dessa epopeia para a cultura ocidental é tão grande que a palavra Odisseia tornou-se também um substantivo comum que denomina jornadas longas marcadas por perigos e eventos, e o adjetivo homérico, originário do nome de Homero, passou a ser usado para caracterizar feitos grandiosos.

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