O eu poético versus o autor

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Eu poético não é o mesmo que autor
Eu poético não é o mesmo que autor

Fazendo referência a esses dois elementos importantes da arte literária – o eu poético versus o autor –, discorreremos primeiro acerca do termo que pertence essencialmente ao gênero lírico – o eu poético, eu lírico.

Pois bem, ele se revela como a voz que fala, que expressa, em meio à criação poética. Dessa maneira, ele poderia ser confundido com o próprio autor? Para chegarmos a uma conclusão, voltemos nosso olhar para as palavras expressas a seguir, as quais o definem como:

Voz que expressa suas emoções no poema, um eu poético, simulado, inventado pelo poeta que não pode ser confundido com o próprio poeta.
Fonte: NICOLA, José de. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal: livro do professor /José de Nicola; colaboração Lorena Mariel Menón. São Paulo: Scipione, 2006.

Ao analisá-las, reconhecemos que há uma diferença que demarca ambos os elementos, mas para ficar ainda mais claro, analisemos a criação de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “Confidência do Itabirano”:

Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

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A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Carlos Drummond de Andrade

Como sabemos, o poeta em questão é natural de Itabira, razão pela qual fazemos a seguinte indagação: haveria um ponto de contato, uma identificação, que aproxima autor (Drummond) e a voz que fala no poema? O fato é que mesmo havendo certa semelhança, ou seja, alguns pontos que porventura possam convergir, precisamos sempre fazer tal distinção – o autor representa aquela pessoa que cria por meio de sua capacidade imaginativa. Ao contrário do eu poético, que materializa toda essa emoção, mediante a magia e o encantamento que a arte poética nos proporciona, assumindo uma outra voz, uma outra identidade.

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