Poemas de forma fixa

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

Entre as formas poéticas que constituem o gênero lírico estão aquelas constituídas de forma fixa, tais como soneto, balada, rondó, entre outros.

As formas fixas, pré-definidas, estão presentes em algumas modalidades de poemas
As formas fixas, pré-definidas, estão presentes em algumas modalidades de poemas

O texto “Recursos da linguagem poética” nos conduz ao universo dos múltiplos recursos presentes na linguagem literária, sobretudo em se tratando da poética. Assim, falar sobre ela significa, de forma específica, fazer referência aos poemas que, por sua vez, pertencem ao gênero lírico.

Conceitos retomados, características atestadas, como, por exemplo, ritmo, métrica, rima, entre outros, dediquemo-nos ao estudo daqueles poemas considerados como formas fixas, ou seja, aqueles cuja estrutura segue um modelo pré-definido, pronto, determinado. Entre os casos representativos estão:

Soneto

Constituído de duas quadras (estrofes com quatro versos) e de dois tercetos (estrofes com três versos), o soneto expressa em torno de uma ideia do início até o penúltimo verso. Já no último verso, considerado como chave de ouro, costuma apresentar uma síntese de tudo que foi abordado. Dessa forma, destacamos como autênticos sonetistas Vinícius de Morais, Camões, Antero de Quental e Bocage, sendo esses últimos representantes da Literatura Portuguesa. Certifiquemo-nos, pois de um exemplo, demarcado pelo “Soneto de separação”, de Vinícius de Morais:

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Não menos importante que o soneto, outras modalidades também atestam a preocupação formal do poeta em relação às composições que elabora, cujo intuito é seguir à risca todas as normas de versificação, tendo em vista o efeito que deseja obter mediante as criações artísticas em que se destaca. Entre elas, destacamos:

Balada

Inicialmente, na Idade Média, a balada surgiu na forma de canto acompanhado de coreografia, tornando-se concebida posteriormente apenas como recitação lírica. A partir do século XIV ganhou moldes que se assemelham aos atuais, constituída de três oitavas e uma quadra. Vejamos, pois, um exemplo da modalidade em questão, sob a autoria de François Villon, intitulada:

Balada das damas dos tempos idos

Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana;
Eco, a imitar na água que mana
de rio ou lago, a voz que a aflora,
E de beleza sobre-humana?
Mas onde estais, neves de outrora?

E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana
Que a Buridan mandou pôr fora
Num saco ao Sena arremessado?
Mas onde estais, neves de outrora?

Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?

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Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?

Vilancete

Surgido pela primeira vez no Cancioneiro Geral, segundo os aspectos etimológicos, “vilancete” diz respeito à “cantiguinha vilã”. Tal composição origina-se de um mote pequeno, sendo esse popular ou alheio, desenvolvendo depois nas coplas (estrofes) da glosa ou volta e se constituindo do metro tradicional, ou seja, aquele formado de cinco a sete sílabas. Destinando-se de forma específica ao canto, desapareceu no século XVIII, haja vista que os árcades e pré-românticos deixaram de cultivá-lo.

Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata1,
Cinta de fina escarlata2,
Sainho de chamalote3;
Traz a vasquinha de cote4,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado5
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

1.    mãos de prata = mãos alvas
2.    escarlata = tecido vermelho de lã
3.    sainho = casaco curto
4.    vasquinha de cote = saia com muitas pregas de uso diário
5.    cabelos louros arrumado em tranças

Inferimos que o exemplo em estudo se constitui de um mote de três versos e de duas voltas de sete versos (redondilha maior).

Rondó

Caracteriza-se como um poema formado de treze versos distribuídos em três estrofes, sendo duas quadras seguidas de uma quintilha. Dessa forma, constatamos que os dois primeiros versos da primeira quadra se repetem no final da segunda, e o primeiro verso da quadra inicial se repete no fecho da quintilha, materializando-se da seguinte forma: ABab|abAB|abbaA. As letras maiúsculas representam os versos que são repetidos como estribilho.

Outro aspecto que se refere à modalidade em questão diz respeito ao fato de ela não obedecer a um esquema fixo no que tange à métrica e às rimas, contudo, de forma predominante, faz-se prevalecer versos de sete ou oito sílabas poéticas. Vejamos, pois, um exemplo sob a autoria de Manuel Bandeira, intitulado:

Rondó dos Cavalinhos
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...

Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!

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