Operadores argumentativos

Por Rafael Camargo de Oliveira

Operadores argumentativos são essenciais na coesão e coerência de um texto. Eles são os principais elementos responsáveis pela construção da argumentação.

Pequena roda de pessoas conversando.
Um bom debate ocorre com argumentos bons e bem organizados. Os operadores argumentativos ajudam nesse processo.

Os operadores argumentativos podem ser representados por palavras ou locuções que visam a produzir, em determinado texto, um conjunto de elementos que se dirigem a um processo conclusivo, os quais podem ser elucidados de forma crescente ou decrescente (argumentação).

Eles podem ser utilizados para estabelecer uma ligação entre orações e períodos (nível micro) ou ainda conectar os parágrafos de um texto (nível macro). Em ambos os casos, eles são utilizados para se obter um todo coeso e coerente, processo visível na construção estrutural do texto

Saiba mais: Textualidade — os aspectos que fazem com que um texto possa ser tido como texto

Resumo sobre operadores argumentativos

  • São elementos marcados no texto, responsáveis por evidenciar a argumentação em um texto.

  • Estão presentes tanto em textos em que prevalece a tipologia argumentativa quanto em produções de outra natureza (narrativa ou expositiva, por exemplo).

  • São divididos em tipos: junção ou soma; oposição; disjunção argumentativa; redefinição e correção; exemplificação; comparação; condição; oposição; e explicação.

Videoaula sobre operadores argumentativos

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O que são os operadores argumentativos?

Os operadores argumentativos, de acordo com a pesquisadora Ingedore Villaça Koch, são as marcas responsáveis pelo encadeamento de segmentos textuais de qualquer extensão. Nesses termos, os operadores argumentativos correspondem a palavras ou locuções que ajudam na fluidez das construções argumentativas (defesa de ideias) em um texto.

Por se tratar de um elemento argumentativo, eles estão presentes principalmente em textos de base dissertativo-argumentativa, mas também são recursos utilizados em diversas outras modalidades, como a narração, a exposição, entre outras.

O uso adequado dos operadores garante coesão e coerência ao texto. Por outro lado, a ausência ou o uso equivocado podem trazer incompreensões e falhas na defesa de uma tese/ponto de vista. Assim, os operadores argumentativos são elementos essenciais na composição de um texto bem articulado e com poder de argumentação capaz de convencer o leitor.

Leia também: Texto dissertativo-argumentativo — o texto que defende um ponto de vista por meio de argumentos

Quais são as funções dos operadores argumentativos?

Os operadores argumentativos podem executar funções distintas em determinado texto. Abaixo, listamos as principais funções que os operadores argumentativos podem assumir em uma produção textual, seguidas, cada uma, de um exemplo.

  • Podem ser usados, no texto, como articuladores para estabelecer relações espaciais por meio de uma sequência de ideias:

Exemplo: Em primeiro lugar, é preciso compreender a função dos Três Poderes da república. Em segundo, é preciso identificar as esferas públicas responsáveis pela demanda da população. Por fim, o debate deve ocorrer em torno da esfera do Poder responsável por mudanças.

  • Podem possibilitar uma relação de tipo lógico-semântico entre enunciados (causalidade, condicionalidade, entre outros):

Exemplo: Se os acordos forem cumpridos, é provável que ocorra um cessar-fogo no conflito.

  • Podem ligar um enunciado a outro de modo que, ao final, eles apresentem uma mesma conclusão:

Exemplo: O público masculino e o feminino demonstram os mesmos interesses políticos, segundo as últimas pesquisas eleitorais divulgadas.

  • Podem dispor ainda de elementos que evidenciam ideias opostas (contrárias):

Exemplo: O pedido foi aceito, mas só deve ser protocolado após a avaliação da banca.

  • Podem vir representados por termos que explicam ou justificam algo:

Exemplo: Ele não compareceu porque não se sentiu bem.

  • Podem ser utilizados em comparações, de igualdade, inferioridade ou superioridade, entre os enunciados destacados em uma sentença:

Exemplo: É melhor morrer do que perder a vida.

  • Podem ter seu uso associado à correção, à suspensão ou ao reforço de um enunciado anterior:

Exemplo: As populações marginalizadas, isto é, jovens negros e pobres, vêm sofrendo com a constante violência policial.

Quais são os tipos de operadores argumentativos?

Os operadores argumentativos, conforme exposto, estão alinhados a estratégias argumentativas distintas a depender da sua função e, consequentemente, de seu uso. Seus tipos estabelecem uma lógica no processo de argumentação por meio dos conectivos colocados dentro do texto. Desse modo, eles são tipificados da seguinte forma:

  • Junção ou soma: “e”, “e nem”, “e também”, “como também”, “mas também”, “tanto… como”, “além de”, “além disso”, “ainda”.

Exemplo: O fascismo é um movimento político que surgiu na Itália do século XX. Além disso, ele se espalhou por todo o continente Europeu, ganhando versões próprias em países como Alemanha, Romênia, Hungria, entre outros.

  • Oposição:mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”, “no entanto”.

Exemplo: Procurei chegar o quanto antes à reunião, todavia me atrasei.

  • Disjunção argumentativa: “ou”, “ou então”, “quer… quer”, “seja… seja…”, “caso contrário”, “ao contrário”.

Exemplo: Ao contrário do esperado, ele não venceu as eleições.

  • Redefinição e correção: “ou seja”, “ou melhor”, “quer dizer”, “melhor dizendo”, “melhor”, “ou”, “em outras palavras”.

Exemplo: Os operadores argumentativos proporcionam a argumentatividade de um texto. Em outras palavras, eles constroem, de maneira estratégica, os elementos que garantem a compreensão e validação de um ponto de vista.

  • Exemplificação: “por exemplo”, “como”, “a exemplo de”, “a título de exemplificação”.

Exemplo: A desigualdade persiste no Brasil do século XXI. A título de exemplificação, podemos verificar os índices de desigualdade entre gênero e raça publicados em pesquisas recentes.

  • Comparação: “tão... quanto”, “tão menos… quanto”, “tão mais… quanto”, “quanto”, “tanto quanto”, “menos… (do) que”, “mais… (do) que”.

Exemplo: Para Walter Benjamin, a arte surrealista é mais inquietante do que a arte do chamado período clássico.

  • Condição: “se”, “caso”, “desde que”, “contanto que”, “a menos que”, “a não ser que”.

Exemplo: As negociações serão concluídas desde que uma das partes estejam dispostas a aceitar as perdas.

  • Oposição: “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”, “no entanto”.

Exemplo: Tudo caminhava para um final feliz. Contudo, um banho de sangue trouxe um enorme anticlímax para a história.

  • Explicação: “pois”, “porque”, “como”, “por isso que”, “já que”, “visto que”, “uma vez que”.

Exemplo: O ser humano é um ser racional, pois possui a capacidade de pensar sobre si e sobre a sua condição.

Veja também: Coesão referencial e coesão sequencial — qual a diferença?

Exercícios resolvidos sobre operadores argumentativos

Questão 1

(Enem)

Dois parágrafos de um texto que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, com cinco operadores argumentativos destacados.

O texto, que narra uma parte do jogo final do Campeonato Carioca de futebol, realizado em 2009, contém vários conectivos, sendo que

A) “após” é conectivo de causa, já que apresenta o motivo de a zaga alvinegra ter rebatido a bola de cabeça.

B) “enquanto” tem um significado alternativo, porque conecta duas opções possíveis para serem aplicadas no jogo.

C) “no entanto” tem o significado de tempo, porque ordena os fatos observados no jogo em ordem cronológica de ocorrência.

D) “mesmo” traz ideia de concessão, já que “com mais posse de bola", ter dificuldade não é algo naturalmente esperado.

E) “por causa de” indica consequência, porque as tentativas de ataque do Flamengo motivaram o Botafogo a fazer um bloqueio.

Resolução:

Alternativa D

O termo “mesmo” refere-se mesmo a uma concessão. As concessivas são compostas por expressões como “ainda que”, “mesmo que”, “mesmo”, “se bem que”, “nem que”, “por menos que” etc. Assim, o conectivo “após” não indica causa, mas uma sequência de informações. Da mesma forma, “enquanto” não apresenta alternância e sim proporcionalidade entre os acontecimentos, e “no entanto” é uma ideia de oposição. Por fim, “por causa de” indica finalidade e não consequência.

Questão 2

(Enem)

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe

Nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

Na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

No breve espaço de beijar.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)

Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e expressões linguísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido de:

A) comparação

B) conclusão

C) oposição

D) alternância

E) finalidade

Resolução:

Alternativa C

No poema de Drummond, o uso da conjunção “e” não exerce sua função tradicional de adição. O seu uso, no texto, é o de conjunção adversativa. Sendo assim, a alternativa correta é a C, pois passa uma ideia de oposição. É válido lembramos que, tratando-se de gêneros textuais mais subjetivos e conotativos, como é o caso do poema, é possível que as expressões e termos sejam ressignificados e assumam outra função, o que foi exatamente o que ocorreu com a conjunção “e”.   

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