Mário de Andrade

Por Warley Souza

Mário de Andrade nasceu em 9 de outubro de 1893, na cidade de São Paulo. Ele é um dos principais nomes da primeira geração modernista. Suas obras apresentam nacionalismo crítico, liberdade formal e valorização da linguagem coloquial. Macunaíma é seu livro mais famoso e uma das obras mais importantes do movimento.

Além da literatura, o autor tinha outros interesses artísticos, por isso estudou piano e canto. Também foi professor de História da Música e da Estética no Conservatório Dramático e Musical da cidade de São Paulo, em 1922. Nesse ano, participou da Semana de Arte Moderna. A partir de então, foi um dos porta-vozes do movimento modernista até a sua morte, ocorrida em 25 de fevereiro de 1945, em São Paulo.

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Biografia de Mário de Andrade

Mário de Andrade (de óculos), em companhia de Candido Portinari, Antonio Bento e Rodrigo Melo Franco, em 1936.
Mário de Andrade (de óculos), em companhia de Candido Portinari, Antonio Bento e Rodrigo Melo Franco, em 1936.

Mário de Andrade é um escritor brasileiro nascido em 9 de outubro de 1893, na cidade de São Paulo. Tinha grande interesse pela arte e cultura brasileiras. Estudou piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e, em 1922, começou a trabalhar como professor de História da Música e da Estética nesse Conservatório.

Nesse ano, participou da Semana de Arte Moderna, que inaugurou o Modernismo no Brasil. Além disso, escrevia para periódicos como A Gazeta, A Cigarra e Jornal do Comércio. Entre seus múltiplos interesses, estava também a fotografia, à qual se dedicou intensamente entre 1923 e 1931. Durante esse período, em 1927, fez uma viagem à Amazônia e ao Nordeste, com o intuito de observar e registrar a cultura desses locais.

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Era também um estudioso do folclore brasileiro, além de crítico de literatura. Assim, entre 1935 e 1938, foi diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Em 1936, ajudou a criar o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Já em 1938, tornou-se o diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. E, em 1942, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Escritores (Abre), contrária ao Estado Novo (1937-1945).

O escritor morreu em 25 de fevereiro de 1945, na cidade de São Paulo. Além de uma obra aclamada pela crítica especializada, deixou também a dúvida sobre a sua homossexualidade, um assunto que era tabu para alguns críticos literários. Só em 2015 essa questão foi esclarecida, com a divulgação, pela Fundação Casa de Rui Barbosa, de carta do escritor a Manuel Bandeira (1886-1968).

Nessa carta, o escritor escreve:

“Mas si agora toco nesse assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui a sair sozinho comigo na rua [...] e si saio com alguém é porque esse alguém me convida, si toco no assunto é porque se poderia tirar dele um argumento pra explicar minhas amizades platônicas, só minhas”.

Para os críticos que analisam a obra de um escritor a partir de suas características puramente estruturais, a vida pessoal de um autor em nada contribui para a sua escrita. No entanto, há críticos que defendem que detalhes da vida íntima do artista podem auxiliar no desvendamento de seus textos.

Características literárias de Mário de Andrade

Mário de Andrade é um escritor da primeira geração modernista. Suas obras, portanto, apresentam as seguintes características:

  • antiacademicismo;
  • liberdade formal;
  • nacionalismo crítico;
  • busca da identidade nacional;
  • releitura dos símbolos de nacionalidade;
  • valorização da linguagem coloquial;
  • resgate do folclore brasileiro;
  • regionalismo;
  • crítica sociopolítica.

Leia também: Cubismo e futurismo vanguardas presentes no Modernismo 

Obras de Mário de Andrade

  • Há uma gota de sangue em cada poema (1917)
  • Pauliceia desvairada (1922)
  • A escrava que não é Isaura (1925)
  • O losango cáqui (1926)
  • Primeiro andar (1926)
  • Amar, verbo intransitivo (1927)
  • Clã do jabuti (1927)
  • Modinhas imperiais (1930)
  • Remate de males (1930)
  • Música, doce música (1934)
  • Belazarte (1934)
  • O Aleijadinho e Álvares de Azevedo (1935)
  • Poesias (1941)
  • O movimento modernista (1942)
  • O empalhador de passarinho (1944)
  • Contos novos (1947)

Macunaíma

Capa do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]
Capa do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]

Macunaíma é uma das obras mais emblemáticas do movimento modernista, devido ao seu caráter irônico e antirromântico; pois, ao contrário dos heróis indígenas românticos, o herói (ou anti-herói) Macunaíma não tem nenhum caráter. Além disso, é adepto da preguiça e gosta de “brincar” (eufemismo usado por Mário de Andrade para se referir ao ato sexual).

Macunaíma é um índio brasileiro que, como qualquer herói, vive aventuras. A diferença é que o protagonista não se destaca pela sua valentia, como ocorre com qualquer herói típico, mas pela sua esperteza e desonestidade. Assim como o índio romântico representava o povo brasileiro, de forma idealizada, o índio Macunaíma também cumpre esse papel, mas destituído de qualquer idealização.

Nessa perspectiva, o autor põe em evidência a identidade brasileira, mas a partir de um olhar crítico. Assim, a cultura brasileira (marcada por referências indígenas e africanas) é colocada em foco. Seres lendários como o Curupira e Ci (a Mãe do Mato) coexistem com a realidade de um grande centro urbano e industrial como São Paulo, de maneira que os contrastes de nossa cultura são evidenciados.

Quando criança, a partir de um acontecimento extraordinário, Macunaíma se transforma em “um príncipe fogoso” e “brinca” com Sofará, a companheira de seu mano Jiguê. Mais tarde, o herói conhece Ci, a Mãe do Mato, que fica grávida dele. Ao filho, Macunaíma dá o seguinte conselho: “Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro”. Mas o curumim acaba morrendo. Então, Ci dá uma muiraquitã para o companheiro. Depois, sobe “pro céu por um cipó” e vira uma estrela.

Mais tarde, Macunaíma perde o amuleto dado por Ci. A pedra vai parar nas mãos de Venceslau Pietro Pietra ou Piaimã, o gigante comedor de gente. Macunaíma decide ir para São Paulo, em busca da muiraquitã. Os manos Jiguê e Maanape acompanham o herói e precisam enfrentar o gigante e sua companheira, Ceiuci. Ao conseguir de volta o amuleto, Macunaíma e os irmãos voltam para a beira do Uraricoera, onde nasceu Macunaíma.

Mas Vei, a Sol, para se vingar de Macunaíma, que rejeitou uma de suas filhas, torce para ele cair nos braços da Uiara, sereia de rios e lagos. O herói é seduzido, e a Uiara come partes de seu corpo:

“Quando Macunaíma voltou na praia se percebia que brigara muito lá no fundo. Ficou de bruços um tempão com a vida dependurada nos respiros fatigados. Estava sangrando com mordidas pelo corpo todo, sem perna direita, sem os dedões sem os cocos-da-Baía, sem orelhas sem nariz sem nenhum dos seus tesouros. Afinal pôde se erguer. Quando deu tento das perdas teve ódio de Vei. A galinha cacarejava deixando um ovo na praia. Macunaíma pegou nele e chimpou-o no carão feliz da Sol. O ovo esborrachou bem nas bochechas dela que sujou-se de amarelo pra todo o sempre. Entardecia.”

Dessa forma, em meio a situações fantásticas e elementos da cultura africana e indígena, o romance Macunaíma revela a identidade nacional e lança luz sobre o caráter do povo brasileiro. Portanto, elementos como o misticismo, a preguiça, o erotismo, a esperteza são usados na construção da imagem heroica ou anti-heroica desse povo.

Veja também: Romantismo no Brasil – escola literária em que o indígena era idealizado

Frases de Mário de Andrade

Vamos ler, a seguir, algumas frases de Mário de Andrade, extraídas de carta enviada a Fernando Sabino (1923-2004) em 16 de fevereiro de 1942.

  • “A arte tem entre os elementos que a constituem a insatisfação.”
  • “O artista verdadeiro jamais estará satisfeito consigo mesmo nem com a obra de arte que produziu.”
  • “Não existe um só artista verdadeiro que não arte faça com a intenção de ser amado.”
  • “Esta é a cilada que o homem encontra cotidianamente em seu caminho, o conformismo.”
  • “Nós devemos viver sempre nascendo.”
  • “Toda facilidade, toda felicidade é desmoralizante.”
  • “A gente tem vergonha de se repensar.”
  • “A felicidade no amor nem é apenas justa, é uma espécie de dever.”
  • “O momento da criação é um prazer sublime.”
  • “A maioria dos seres vegeta em vez de humanamente viver.”
  • “A arte jamais é independente da vida.”

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução) 

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