Antítese e paradoxo
A antítese e o paradoxo são dois tipos de figuras de pensamento que exploram, respectivamente, a contradição das palavras e a contradição da ideia geral.
Por Talliandre Matos
Antítese e paradoxo são duas figuras de linguagem, especificamente figuras de pensamento. A antítese ocorre quando se utilizam palavras ou expressões de sentidos opostos para construir uma ideia. O paradoxo ocorre quando se expressa algo por meio de uma afirmação simbólica que é “ilógica” do ponto de vista racional. Embora ambas explorem “contradições”, a antítese foca no sentido “individual” das expressões, enquanto o paradoxo foca no sentido geral da ideia. Elas podem aparecer juntas ou separadas.
Resumo sobre antítese e sobre paradoxo
- A antítese e o paradoxo são figuras de linguagem, especificamente figuras de pensamento.
- A antítese explora o uso de palavras com sentidos opostos, como “dia” e “noite”, “alegria” e “tristeza”.
- O paradoxo explora a contradição da ideia, expressando algo logicamente impossível, como “gritar em silêncio”.
- Às vezes, a antítese e o paradoxo podem atuar juntos em uma mesma construção.
O que é antítese e paradoxo?
A antítese e o paradoxo são dois tipos de figuras de linguagem, especificamente figuras de pensamento. Muito embora sejam diferentes, muitas vezes podem surgir unidas em uma mesma construção.
- Antítese: designa a proximidade de termos ou de ideias opostas na construção de um pensamento, como no exemplo abaixo, em que se percebe a oposição entre as palavras “dia” e “noite”.
Dançávamos de dia, chorávamos de noite.
- Paradoxo: expressa uma contradição de pensamento, que simboliza alguma emoção ou intensidade, por exemplo. No exemplo abaixo, a contradição entre “ver” e “não enxergar” expressa como o indivíduo estava alienado pelo sentimento amoroso.
Eu via tudo acontecer, mas estava cega de amor.
Quais as diferenças entre antítese e paradoxo?
A antítese é a figura de pensamento que se refere à aproximação de palavras ou de ideias opostas em uma mesma ideia, apresentando ou não contradição. Veja os exemplos abaixo:
Eu ligava de dia, ela ligava de noite.
Eu me acusava e me defendia de mim mesma.
Nos dois exemplos acima, há antítese, visto que se nota a oposição semântica entre as palavras “dia” e “noite” e “acusava” e “defendia”. Na primeira frase, não há contradição, apenas oposição de sentidos. Já na segunda antítese, há oposição e contradição. Logo, o que define a antítese é o caráter oposto que certas expressões apresentam.
O paradoxo é uma construção racionalmente contraditória ou impossível, mas que simbolicamente representa alguma sensação, sentido ou pensamento. Nesse caso, o paradoxo pode usar a antítese (oposição de termos) ou não. Veja os exemplos abaixo:
Eu me acusava e me defendia de mim mesma.
Era tanto amor, que nem sentia a dor.
Nos exemplos acima, há contradições em ambas as frases. O primeiro exemplo já foi analisado e, como vimos, a antítese entre “acusava” e “defendia” foi utilizada para criar uma contradição, logo um paradoxo. Já no segundo exemplo, a contradição está em não sentir a dor, o que é humanamente impossível, de modo que, nesse caso, houve contradição sem o uso de antítese.
Confira também: Hipérbole — figura de pensamento que se caracteriza por dar ênfase por meio do exagero
Exemplos de antítese e de paradoxo
→ Exemplos de antítese
"Nasce o sol, e não dura mais que um dia;
Depois da luz se segue à noite escura;"
Gregório de Matos
"Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!"
Cecília Meireles
“Quem não tem pra quem se dar
O dia é igual à noite
Tempo parado no ar, há dias
Calor, insônia , oh! noite
Quem ama vive a sonhar de dia
Voar é do homem
Vida foi feita pra estar em dia
Com a fome, com a fome, com a fome”
Djavan
“Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim"
Lulu Santos
“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.”
Vinícius de Moraes
→ Exemplos de paradoxo
"Se você quiser me prender
Vai ter que saber me soltar
Você me parece dizer
Que os dois somos um só lugar
E que esse lugar é você
E o resto não deve contar
E é isso que eu chamo tiranizar"
Caetano Veloso
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer."
Luís de Camões
"Eu tô te explicando pra te confundir
Eu tô te confundindo pra te esclarecer
Tô iluminado pra poder cegar
Tô ficando cego pra poder guiar"
Tom Zé
“Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.”
Vinícius de Moraes
“Porque é outro amigo. A explosiva descoberta
ainda me atordoa. Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.
Furo as paredes e vejo. Através do mar sanguíneo vejo.
Minucioso, implacável, sereno, pulverizado,
é outro amigo. São outros dentes. Outro sorriso.
Outra palavra, que goteja.”
Carlos Drummond de Andrade
Veja também: Eufemismo — figura de pensamento usada para tornar enunciados mais brandos e menos agressivos
Exercícios resolvidos sobre antítese e paradoxo
Questão 1
(FCC - Adaptada) Leia o texto abaixo:
ESTA VELHA angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que…,
Isto.
Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim…
Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer –
Júpiter, Jeová, a Humanidade –
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?
Estala, coração de vidro pintado!
Fernando Pessoa. Obra Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997
No poema, o eu lírico recorre a um enunciado paradoxal no seguinte verso:
A) Mal sei como conduzir-me na vida (2a estrofe).
B) Esta velha angústia, (1a estrofe).
C) Estou lúcido e louco, (3a estrofe).
D) Um internado num manicômio é, ao menos, alguém. (3a estrofe).
E) Estou assim... (3a estrofe).
Resolução:
Alternativa C.
No verso “Estou lúcido e louco”, há um paradoxo, pois há uma contradição lógica no sujeito experienciar, simultaneamente, os estados de lucidez e de loucura.
Questão 2
(Prefeitura de Bauru) Assinale a alternativa que apresenta uma ANTÍTESE:
A) Embarcaremos no trem amanhã.
B) O ódio o matou, porque ele queria o amor.
C) Vim, vi, venci.
D) Os jovens eram leões defendendo suas famílias.
Resolução:
Alternativa B.
Há antítese na alternativa B, pois as palavras “ódio” e “amor” possuem sentidos opostos.
Fontes
CIPRO NETO, Pasquale. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 2008.
LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.