Noémia de Sousa é uma poetisa africana nascida em Moçambique. Seus poemas privilegiam o verso livre e fazem crítica sociopolítica. Sangue negro é o único livro da autora.
Noémia de Sousa é uma escritora moçambicana. Ela nasceu em 20 de setembro de 1926, em Catembe. Mais tarde, morou em Portugal e na França, além de trabalhar como jornalista e tradutora. Seus poemas foram escritos entre 1948 e 1951, quando a autora decidiu não mais escrever poesia.
A escritora, que faleceu em 4 de dezembro de 2002, em Portugal, é um dos principais nomes da poesia moçambicana. Seus textos apresentam elementos nacionalistas, crítica social e valorizam o universo feminino. Em 2001, toda a poesia de Noémia de Sousa foi reunida no livro Sangue negro.
Leia também: Maya Angelou — uma grande representante da literatura afro-americana
Noémia de Sousa é uma escritora moçambicana.
Ela nasceu em 1926 e morreu em 2002.
Além de poetisa, também trabalhou como jornalista e tradutora.
As poesias da autora valorizam a identidade negra e o universo feminino.
Sangue negro é seu único livro e reúne todas as suas poesias.
A moçambicana Noémia de Sousa nasceu em Catembe, no dia 20 de setembro de 1926. O pai da autora era Antônio Paulo Abranches de Gama e Sousa, que ocupava um importante cargo no serviço público. A poetisa foi alfabetizada em português com quatro anos de idade.
Dois anos depois, a família se mudou para Lourenço Marques (atualmente, Maputo). Incentivada pelo pai, Noémia de Sousa desenvolveu interesse pelos livros. Da mãe, aprendeu o idioma ronga. Do pai, o português. Contudo, ficou órfã de pai quando tinha oito anos de idade.
A família então foi morar no distrito de Munhuana. E a mãe precisou trabalhar para sustentar os filhos, os quais, até então, viviam com certo conforto. Assim, por questões financeiras, Noémia de Sousa, em vez de ingressar na universidade, teve que estudar na escola comercial, onde aprendeu inglês e francês.
A autora tinha 16 anos quando conseguiu seu primeiro emprego, como secretária, em uma empresa indiana. Em 1948, no jornal Mocidade Portuguesa, publicou seu primeiro poema. Além disso, Noémia de Sousa fez parte da Associação Africana e foi responsável pela página destinada às leitoras do jornal O Brado Africano.
Em 1951, foi morar em Portugal. Residindo em Lisboa, trabalhava como tradutora para uma agência de notícias. A partir de então, decidiu não mais escrever poesia. Abriria uma exceção, em 1986, quando escreveria o poema 19 de outubro para homenagear Samora Machel (1933-1986), o primeiro presidente de Moçambique.
No ano de 1962, ela se casou com o poeta Gualter Soares. Com ele, mudou-se para Paris, na França, em 1964. Desse relacionamento, tiveram uma filha chamada Virgínia Soares. Porém, em 1970, o casamento chegou ao fim e, três anos depois, a escritora decidiu voltar para Portugal. Então passou a trabalhar para as agências de notícias Reuters e Lusa.
Apesar de a autora não produzir novos textos literários, sua poesia continuou a circular em antologias, entre as décadas de 1950 e 1990. Somente em 2001, foi lançada a primeira edição de seu livro Sangue negro, que reúne toda a sua poesia. A autora faleceu em 4 de dezembro de 2002, em Cascais, município português.
Veja também: Quem são os principais autores da literatura africana?
A poesia de Noémia de Sousa privilegia os versos livres (sem metrificação e sem rimas). Apresenta caráter nacionalista, além de fazer crítica social. Em seus textos, predomina a voz de um eu lírico feminino. Sua poética valoriza a identidade negra e a cultura africana. E possui elementos memorialísticos.
A emoção, a nostalgia, a adjetivação e o uso recorrente de exclamações são outras características marcantes das obras da poetisa. Noémia de Sousa também costuma utilizar anáforas, aliterações e apóstrofes. Por fim, seus textos falam de injustiças, opressão, mas também de esperança.
A autora possui apenas uma obra, chamada Sangue negro. Nesse livro, estão todas as poesias de Noémia de Sousa. O livro é dividido nas seguintes partes:
Nossa voz;
Biografia;
Munhuana 1951;
Livro de João;
Sangue negro;
Dispersos.
Saiba mais: Cinco poemas do escritor Mia Couto, outro grande poeta moçambicano
No poema Súplica, o eu lírico enaltece a música. Para isso, acaba expondo traços da cultura moçambicana e deixando viva a memória da escravidão:
Tirem-nos tudo,
mas deixem-nos a música!
Tirem-nos a terra em que nascemos,
onde crescemos
e onde descobrimos pela primeira vez
que o mundo é assim:
um labirinto de xadrez...
Tirem-nos a luz do sol que nos aquece,
a tua lírica de xingombela
nas noites mulatas
da selva moçambicana
(essa lua que nos semeou no coração
a poesia que encontramos na vida)
tirem-nos a palhota — humilde cubata
onde vivemos e amamos,
tirem-nos a machamba que nos dá o pão,
tirem-nos o calor de lume
(que nos é quase tudo)
— mas não nos tirem a música!
Podem desterrar-nos,
levar-nos
para longes terras,
vender-nos como mercadoria,
acorrentar-nos
à terra, do sol à lua e da lua ao sol,
mas seremos sempre livres
se nos deixarem a música!
[...]
E tudo será novamente nosso,
ainda que cadeias nos pés
e azorrague no dorso...
E o nosso queixume
será uma libertação
derramada em nosso canto!
— Por isso pedimos,
de joelhos pedimos:
Tirem-nos tudo...
mas não nos tirem a vida,
não nos levem a música!
Já no poema Deixa passar o meu povo, o eu lírico dialoga com a cultura afro-americana ao ser inspirado pela expressão “Let my people go”. Isso faz com que a voz poética se volte para a realidade do povo moçambicano, e diga em tom de revolta:
Noite morna de Moçambique
e sons longínquos de marimbas chegam até mim
— certos e constantes —
vindos não sei eu donde.
Em minha casa de madeira e zinco,
abro e deixo-me embalar...
Mas vozes da América remexem-me a alma e os nervos.
E Robeson e Marian cantam para mim
spirituals negros do Harlém.
“Let my people go”
— oh deixa passar o meu povo,
deixa passar o meu povo! —
dizem.
E eu abro os olhos e já não posso dormir.
[...]
Escrevo...
Na minha mesa, vultos familiares se vêm debruçar.
Minha Mãe de mãos rudes e rosto cansado
e revoltas, dores, humilhações,
tatuando de negro o virgem papel branco.
E Paulo, que não conheço
mas é do mesmo sangue e da mesma seiva amada de Moçambique,
e misérias, janelas gradeadas, adeuses de magaíças,
algodoais, o meu inesquecível companheiro branco
e Zé — meu irmão — e Saúl,
e tu, Amigo de doce olhar azul,
pegando na minha mão e me obrigando a escrever
com o fel que me vem da revolta.
[...]
E enquanto me vierem do Harlém
vozes de lamentação
e meus vultos familiares me visitarem
em longas noites de insônia,
não poderei deixar-me embalar pela música fútil
das valsas de Strauss.
Escreverei, escreverei,
com Robeson e Marian gritando comigo:
Let my people go,
OH DEIXA PASSAR O MEU POVO!
Créditos da imagem
[1] Editora Kapulana (reprodução)
Fontes
BONINI, Roseleine Vitor. A poética de Noémia de Sousa: História e identidade em Moçambique colonial. 2018. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
GORIČKI, Petra. A poesia de Noémia de Sousa e a negritude. 2018. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade de Zagreb, Zagreb, 2018.
MENDONÇA, Fátima. Moçambique, lugar para a poesia: uma pedrada no charco. In: SOUSA, Noémia de. Sangue negro. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2001.
NOA, Francisco. Noémia de Sousa: a metafísica do grito. In: SOUSA, Noémia de. Sangue negro. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2001.
OLIVEIRA, Jaqueline da Silva. Percursos poéticos de Alda Lara e Noémia de Sousa: vozes que emergiram do silêncio. 2021. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) – Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Linguagem, Universidade do Estado de Mato Grosso, Tangará da Serra, 2021.
SAÚTE, Nelson. Noémia de Sousa: a mãe dos poetas moçambicanos. In: SOUSA, Noémia de. Sangue negro. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2001.
SOUSA, Noémia de. Deixa passar o meu povo. In: SOUSA, Noémia de. Sangue negro. São Paulo: Kapulana, 2016.
SOUSA, Noémia de. Súplica. In: SOUSA, Noémia de. Sangue negro. São Paulo: Kapulana, 2016.
O substantivo desempenha distintas funções sintáticas, tais como: sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc
As palavras sessão, seção e cessão são homófonas heterográficas, entenda.
Foi um dos principais autores realistas do século XIX, e uma de suas obras mais famosas é o romance O idiota.
A literatura africana em língua portuguesa é dividida em três fases: colonização, pré-independência e pós-independência.
Consistem nas figuras de linguagem em que há o emprego de palavras com um sentido conotativo ou figurado