O parnasianismo nasceu na França, em 1866, com a publicação Parnasse Contemporain (“Parnaso Contemporâneo”) e teve como prioridades o culto à forma, a “arte pela arte”, a objetividade temática e o distanciamento de questões de cunho social. Assim como o realismo, foi um movimento de oposição ao romantismo, que já estava em franco declínio.
Contemporâneo das escolas realista e naturalista, o parnasianismo é um herdeiro das escolas cientificista, determinista e positivista do último quarto do século XIX. À época, popularizavam-se as ideias positivistas de Auguste Comte, que exaltavam o método científico como o único meio de se chegar ao conhecimento e ao progresso.
A burguesia industrial consolidava-se no poder, ocasionando o surgimento de um proletariado explorado e, por consequência, da luta de classes. Temas relacionados a acontecimentos sociais e históricos, entretanto, não eram abordados pelos autores parnasianos.
O nome do movimento remete ao monte Parnaso, na Grécia Antiga, morada de Apolo, o deus inspirador dos artistas e dos poetas, patrono da beleza ideal. Foi, portanto, uma tendência literária que valorizava e retomava elementos da Antiguidade Clássica.
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O Brasil dos anos 1800 foi marcado por intensa influência da cultura francesa. O abandono do estilo romântico preconizado pelos parnasianos tencionava equiparar a produção artística brasileira àquela feita em Paris.
A tendência literária importada pelos parnasianos vinha acompanhada de outro ideal importante para o entendimento do Brasil do final do século XIX: o positivismo. Escola filosófica de Auguste Comte, considerado o pai da Sociologia, preconizava o progresso científico como o principal horizonte da humanidade, que, por sua vez, também seria regida por leis naturais e positivas, como as leis da Física.
O positivismo foi muito popular entre os intelectuais da época e, principalmente, entre os militares que integravam o movimento republicano. Os dizeres “Ordem e progresso”, que compõem a Bandeira Nacional, são inspirados em uma citação de Comte: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.
Os poetas parnasianos, em sua maioria, também eram republicanos. A partir de 1889, o parnasianismo tornou-se um método de composição “oficial” no Brasil: o Hino Nacional Brasileiro, o Hino da Proclamação da República e o Hino à Bandeira do Brasil são composições parnasianas.
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A chamada trindade ou tríade parnasiana brasileira é composta pelos três autores mais célebres do movimento: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
O mais conhecido dos poetas parnasianos brasileiros e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac foi também jornalista e orador ativo na política brasileira. Defensor dos ideais republicanos, participou de campanhas com alcance nacional, sendo perseguido e preso durante a Revolta da Armada, que ocorreu entre os anos de 1893 e 1894.
Teve notória estreia literária com a publicação Poesias, em 1888. Em seus diversos livros, Bilac contemplou as temáticas do amor – platônico, espiritual, sensual –, da mitologia greco-romana e de cunho filosófico, criando atmosferas de reflexão sobre o sentido da vida. Escreveu também poesias didáticas e patrióticas, além de ser o autor do Hino à Bandeira do Brasil.
O soneto XIII do livro Via Láctea (1888) é um exemplo de sua lírica amorosa e uma de suas obras mais conhecidas:
Via Láctea
XIII
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
(Via Láctea, 1888)
“A Pátria” é um exemplo de sua obra voltada ao público infantil, onde se nota a inclinação nacionalista do autor:
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(Poesias Infantis, 1904)
Livros de poesia
Livros de crítica e teoria literária
Outras publicações
Antônio Mariano Alberto de Oliveira foi poeta, professor de literatura e diretor de Instrução Pública do Rio de Janeiro. Em meados de 1880, conheceu o grupo de intelectuais formado, entre outros nomes, por Olavo Bilac, Raimundo Correa, Aluísio Azevedo e Raul Pompeia, que se reuniam em Niterói, na casa de Alberto de Oliveira. Publicou seu primeiro livro em 1877, ainda sob influência da estética romântica. O livro seguinte, de 1884, tem prefácio assinado por Machado de Assis.
Uma de suas composições mais famosas é “Vaso chinês”, exemplo de soneto parnasiano que toma por tema a descrição de um objeto que inspira pela perfeição de sua forma, pelo trabalho artístico de sua feitura:
Vaso chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Sonetos e poemas, 1886)
Em “Vestígios divinos”, pode-se notar a influência da mitologia greco-romana na composição, inspirada pelos montes da Serra do Marumbi, localizada no estado do Paraná, cujo cume mais alto chama-se Olimpo.
Vestígios divinos
(Na Serra de Marumbi)
Houve deuses aqui, se não me engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.
Nos arredores, na montanha ou plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.
Por toda esta extensíssima campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.
Os convivas pagãos ainda hoje os topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.
(Poesias, 4ª série, 1928)
Nascido a bordo de um navio no litoral maranhense, Raimundo da Mota Azevedo Correia foi poeta, juiz e professor. Formou-se em Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, e foi juiz e promotor nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Foi também fundador da Academia Brasileira de Letras.
Sua primeira obra, Primeiros sonhos (1879), ainda evidencia traços da poesia romântica. Recebeu influência da filosofia de Arthur Schopenhauer, de ressonância pessimista, registrando em seus versos tons mais sombrios, imagens de ruínas, da moralidade deteriorada. Consolidou-se como autor parnasiano com Sinfonias (1883), e segundo os métodos de composição dessa escola literária, foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa.
“As pombas” é um de seus sonetos mais conhecidos, no qual se nota o estilo parnasiano, especialmente pela temática e composição rigorosa dos versos:
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(Sinfonias, 1883)
“Desdéns” é um exemplo de sua lírica amorosa, evidência de como os parnasianos abordam o amor e a mulher de maneira muito diferente dos poetas românticos:
Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evola;
O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...
Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!
Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!
(Versos e versões, 1887)
O substantivo desempenha distintas funções sintáticas, tais como: sujeito, objeto direto, objeto indireto, etc
As palavras sessão, seção e cessão são homófonas heterográficas, entenda.
Foi um dos principais autores realistas do século XIX, e uma de suas obras mais famosas é o romance O idiota.
A literatura africana em língua portuguesa é dividida em três fases: colonização, pré-independência e pós-independência.
Consistem nas figuras de linguagem em que há o emprego de palavras com um sentido conotativo ou figurado