Segunda geração do romantismo
A segunda geração do romantismo intensificou as características do movimento, com a exacerbação das emoções e o mergulho na introspecção.
Por Mariana Carvalho Machado Cortes

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A segunda geração do romantismo, também é conhecida como ultrarromantismo, intensificou características que já eram vistas na primeira geração, como o sentimento exacerbado, o amor platônico, a melancolia, a valorização da morte etc.
No Brasil, grandes escritores se destacaram, principalmente na escrita poética, como Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. No mundo, o principal nome do ultrarromantismo é Lord Byron, que se tornou tão representante que o movimento também herdou seu nome. A segunda geração romântica também pode, portanto, ser chamada de byronismo.
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Resumo sobre segunda geração do romantismo
- A segunda geração do romantismo foi marcada por muitas características, a maior delas é o individualismo, que ocorre por meio da introspecção e da atenção a problemas subjetivos e individuais.
- O individualismo da segunda geração levou ao conceito de “mal do século”, que se refere ao sentimento de tédio, à decepção e à angústia que pairavam sobre a juventude artística da época.
- Além disso, devido ao alto grau de idealização presente na escola literária, uma das características que mais se ressaltaram foi o tema do amor idealizado.
- Houve, como temática artística, a valorização da morte como uma fuga da realidade caracterizada por esse “mal do século”.
- Houve a presença de temas macabros que vão além da morte, como o grotesco e, até mesmo, o satânico.
- A demonstração de sentimento exacerbado foi também uma característica muito marcante nesse período.
- Em relação à forma do poema, há a flexibilidade própria da escola artística. Porém, além disso, devido à predominância de poemas na época, é possível perceber um aumento na musicalidade dos versos.
- Uma característica recorrente nos poemas desse período é a valorização da natureza, que pode contribuir como uma forma de busca do absoluto ou como projeção das emoções humanas.
- Houve grandes representantes da segunda geração do romantismo, como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Lord Byron.
Características da segunda geração do romantismo
- Individualismo: os ideais liberais que influenciaram o movimento trouxeram uma perspectiva individualista que foi amplamente explorada por essa fase. Desenvolviam-se os conflitos pessoais inerentes aos problemas internos do indivíduo.
- Mal do século: refere-se a um sentimento de tédio, desilusão e melancolia explorado nesse contexto. Devido ao aprofundamento de uma percepção individualista, o poeta precisava lidar com seus conflitos internos e, devido a isso, aprofundava-se em um vazio existencial que influenciou uma geração de escritores.
- Amor platônico: a ideia se amor platônico se refere a Platão e à sua teoria sobre o “mundo das ideias”, a qual guardaria a verdade. Assim, o amor platônico trata sobre o sentimento que não se concretiza no mundo dos sentidos, mas ele é perfeito, porque é idealizado. Devido a isso, em poemas que exploram a ideia do amor platônico, a mulher é inatingível e a relação com o eu lírico nunca se concretiza, por isso, é uma relação perfeita.
- Relação com a morte: devido ao sentimento melancólico sofrido pelo poeta ultrarromântico, uma das temáticas mais recorrentes dessa fase é a morte. Esta aparece como forma de redenção, de busca pela paz e, até mesmo, de fuga do tédio existencial. A morte, nesse sentido, torna-se um refúgio e uma busca da completude do ser.
- Macabro: a relação com a morte evidencia uma característica inerente a esse movimento: a exploração do macabro, ou seja, do grotesco, do obsceno e até mesmo do cômico, uma vez que, nesses temas, também há sarcasmo e ironia. Tal característica está muito relacionada ao caráter subversivo de uma juventude que também procurava ser transgressora em sua escrita.

- Exagero nas emoções: o ultrarromantismo é conhecido pela exacerbação na demonstração dos sentimentos humanos. A melancolia, o amor e até mesmo o tédio eram retratados de maneira intensa e exagerada, de maneira a evidenciar o caos do interior humano.
- Avanço na musicalidade do verso: o ultrarromantismo é muito conhecido pelo seu repertório lírico, uma vez que a musicalidade nos versos foi muito explorada nessa fase a fim de despertar os sentimentos dos leitores por meio da estética poética.
- Sentimento pela natureza: também é possível ver ainda a valorização da natureza nessa fase. Tal característica aparece para o eu lírico como uma forma de: estar perto e de unir-se a uma completude divina e absoluta; ou projetar os sentimentos humanos por meio da descrição do espaço à sua volta.
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Segunda geração do romantismo no Brasil
No Brasil, a segunda geração do romantismo se destacou devido ao repertório poético produzido nessa geração por uma juventude que se reunia para criar e ler poesia. Foram grandes representantes dessas tendências os grupos de estudantes de Direito de São Paulo que contribuíram para a imagem do romantismo como rebeldia e sofrimento. Foram grandes representantes desse movimento no país:
- Bernardo de Guimarães;
- Casimiro de Abreu;
- Sousândrade;
- Álvares de Azevedo.
Contexto histórico da segunda geração do romantismo
Assim como ocorre no Brasil, a segunda geração do romantismo no mundo é conhecida por ser uma literatura de mocidade, já que foi muito promovida por jovens universitários que consumiam e produziam literatura, o que favorecia a circulação da poesia. Assim, foi possível que até mesmo produções mais ousadas e disruptivas pudessem ser reconhecidas no meio social.
Os anos mais característicos dessa literatura juvenil no Brasil ocorreram entre 1840 e 1860, quando houve muitas publicações conhecidas, como a Revista do Ensaio Filosófico Paulistano (1850-64) e os Ensaios Literários do Ateneu Paulistano (1852-60). Vale ressaltar, também, que o romantismo como um todo foi influenciado por certas características iluministas, e isso pode ser percebido nessa geração devido a uma perspectiva individualista e idealista.
O ultrarromantismo conseguiu se desassociar mais das características árcades e ressaltar certos traços já iniciados na primeira geração romântica, como: um maior mergulho no mundo das ideias, acarretando maior aprofundamento das idealizações sobre a mulher, sobre o amor e sobre o mundo à sua volta; uma exploração das ideias de sensibilidade e de liberdade moral em suas obras.
Autores da segunda geração do romantismo
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Álvares de Azevedo
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852) ficou conhecido por ter sido um garoto que deixou um grande legado para a escola ultrarromântica brasileira, mesmo tendo vivido apenas até os 20 anos. No entanto, a sua produção se mostra diversa e, principalmente, complexa, ao aprofundar-se nos conflitos entre espírito e sensibilidade e ao equilibrar contrastes com eficiência, tais quais a melancolia e sarcasmo, o patético e o cômico, o grandioso e o prosaico.
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Bernardo de Guimarães
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1827-1884) foi companheiro de Álvares de Azevedo em poemas de teor reflexivo ao explorar elementos da natureza como forma de projeção da subjetividade. O que mais se evidencia em sua obra poética, no entanto, é a parte cômica, grotesca e obscena. Da mesma forma que seu colega, Guimarães explorou as contradições, o sentimentalismo e foi subversivo ao criar poemas obscenos.
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Casimiro de Abreu
O autor é reconhecido pelo sentimentalismo em seus textos, muitas vezes projetado em elementos da natureza. Uma das suas principais obras é Primaveras (1859). Seus poemas apresentam uma leitura fluida que os tornou mais acessíveis para o público de sua época. Entretanto, não deixou de explorar um erotismo em suas obras, o que era subversivo para o período.
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Sousândrade
Sousândrade teve uma obra com uma percepção singular e demonstrava domínio sobre a língua ao brincar com as palavras. Em seus textos, percebe-se uma visão crítica sobre a América e a exploração de tal temática com subversões na linguagem que eram ousadas para sua época. Nesse sentido, sua obra apresenta traços grotescos e joga com a sonoridade das palavras e das construções.
Muitos teóricos consideram suas ideias à frente do seu tempo ao perceberem nelas questões sobre a América ainda não muito discutidas até então. O poeta distanciava-se de seus contemporâneos ao afastar-se de um sentimentalismo exacerbado típico da época.
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Lord Byron
George Gordon nasceu em 1788 e, aos 16 anos, herdou o título de Lord Byron. O escritor britânico morreu aos 36 anos, de tuberculose. Apresentou um grande repertório de poemas, muitos deles subversivos, com um teor satírico e apresentando temas polêmicos, como o satanismo. A poeta inglês construiu a sua imagem com base nas figuras de Satã, Fausto e Don Juan. O escritor se tornou um grande representante do ultrarromantismo, de modo que o termo byronismo é utilizado também para se referir ao movimento.
Obras da segunda geração do romantismo
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Macário
Do autor Álvares de Azevedo e publicada em 1852, a peça teatral Macário é uma representação satânica da mentalidade dos jovens estudantes de São Paulo. A primeira parte do texto é caracterizada pela desilusão e pelo tédio. Também há grande presença de sarcasmo e de desespero, uma vez que critica questões sociais.
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Lira dos vinte anos
Obra poética de Álvares de Azevedo, publicada depois da sua morte, em 1853. Os seus poemas caracterizam bem o ultrarromantismo devido à aproximação com a morte como uma forma de refúgio ao tédio e à angústia da existência. Os poemas evidenciam a intensidade das emoções do sujeito romântico, a idealização da mulher amada e o vazio existencial que ocorre devido à introspecção do eu lírico.
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Primaveras
A obra, de 1859, de Casimiro de Abreu, se tornou uma das mais populares da época, devido à sua musicalidade e ao equilíbrio entre o tom de morbidez e de leveza. No entanto, a delicadeza de seus textos, muitas vezes, esconde um tom subversivo, disfarçado pelo aspecto convencional do texto.
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Don Juan
A obra de Lord Byron, de 1819, é um poema épico satírico baseado no mito de Don Juan, cuja figura é amplamente subvertida na história. No texto, a ironia e a sátira são recorrentes e contribuem para a construção de críticas sociais e políticas por meio de comentários inteligentes e reflexivos.
Poemas da segunda geração do romantismo
O gênero poema foi muito utilizado no ultrarromantismo no Brasil e seus grandes representantes foram Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Por meio da leitura de suas obras, é possível entender como as características dessa geração se concretizavam nos textos e como refletiam as ideias de uma escola artística. O próximo poema é um grande exemplo desse momento.
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“Lembranças de morrer”, de Álvares de Azevedo

O poema de Álvares de Azevedo evidencia características típicas do ultrarromantismo. O título já evidencia a aproximação com a morte, uma vez que o texto passa a mensagem que ela é sempre uma lembrança, uma vez que está sempre por perto. Muitos associam tal obra com a vida do autor, que faleceu muito jovem. Antes de iniciar, há uma epígrafe que faz referência à emblemática autora romântica Mary Shelley e que evidencia a agonia do eu lírico em viver mergulhado em sua angústia e em seu tédio.
As primeiras estrofes do poema refletem a facilidade que o eu lírico apresenta em aceitar a morte sem medo algum, uma vez que ele vê a vida de forma tediosa. No entanto, ele diz mais adiante que só sentiria falta da ilusão amorosa que viveu, ou seja, para o eu lírico, iludir-se com o amor não era algo ruim, pois ele vivia tal sentimento na ideia. Tal assunto retorna na sétima estrofe, quando o eu lírico se refere à mulher amada e deixa claro que o seu amor nunca se concretizou.
A antepenúltima estrofe reúne grandes princípios românticos, e o primeiro deles é a morte, a qual acontecerá na natureza, à sombra de uma cruz. Há, então, a reunião de elementos que referenciam um absoluto, uma completude que se mostra distante da fragmentação da subjetividade humana.
O eu lírico ainda pede que seu epitáfio o evidencie em sua identidade como poeta, representante de uma juventude artística; como sonhador, uma vez que valorizava as suas idealizações; e como amante, uma vez que vivia intensamente o seu amor nas ideias, apesar de não concretizá-lo.
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“Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu
No poema de Casimiro de Abreu, a fuga da realidade (característica típica da segunda geração do romantismo) ocorre por meio da nostalgia com as lembranças da infância. Há, inclusive, certa idealização dessa época e a valorização dos sonhos de criança. Tal descrição é envolta em um ambiente de natureza que evidencia a completude que era possível experimentar quando criança.
É possível perceber que esse mergulho nostálgico ocorre devido à angústia e insatisfação do sujeito com o seu presente, pois já não vivia o “despontar da existência”. Esta, na verdade, só era preenchida por mágoa e sofrimento. A obra, como é possível perceber em ambos os textos apresentados, não deixa o seu consciente religioso, o qual aparece no texto como uma boa lembrança que se relacionada à completude e ao absoluto relacionados à infância.
Saiba mais: Realismo — estilo de época de caráter antirromântico
Exercícios sobre segunda geração do romantismo
1. (ADM&TEC) É uma característica contrária ao ultrarromantismo, movimento conhecido como Segunda Geração Romântica no Brasil:
a) temática otimista.
b) sarcasmo e ironia.
c) exagero sentimental.
d) egocentrismo.
Gabarito: A
A letra A é a única característica contrária à segunda geração do romantismo, uma vez que a temática do movimento é pessimista, já que, muitas vezes, o eu lírico apresenta uma percepção desiludida sobre a realidade em que vive.
2. (Essa) O poeta da Segunda Geração Romântica que soube utilizar, de forma sensível e surpreendente, os temas e as formas estereotipados do Ultrarromantismo, bem como poetizar figuras e imagens retiradas do cotidiano mais banal foi:
a) Gonçalves Dias
b) José de Alencar
c) Álvares de Azevedo
d) Machado de Assis
e) Castro Alves
Gabarito: C
O único autor representante da segunda geração do romantismo é o Álvares de Azevedo. Gonçalves Dias e José de Alencar são representantes da primeira geração. Machado de Assis é mais associado ao realismo. Castro Alves pertence à terceira geração do romantismo.
Fontes
CÂNDIDO, Antônio. O romantismo no Brasil. São Paulo: Humanistas- FFLCH-USP, 2002.
AGUIAR E SILVA, Vitor Emanuel de. Teoria da Literatura. 8ª edição. Coimbra, Livraria Almedina, 1999.