Queísmo
O queísmo é um fenômeno linguístico que se caracteriza pela supressão desnecessária da preposição “de” antes do “que”.
Por Warley Souza
Queísmo é um desvio da norma culta da língua portuguesa que consiste na omissão equivocada da preposição “de” antes do “que”. Um exemplo seria dizer ou escrever “tenho certeza que vi você lá” em vez de “tenho certeza de que vi você lá”, pois o substantivo “certeza” exige a preposição “de”, e sua regência deve ser respeitada.
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Resumo sobre o queísmo
- O queísmo é a supressão equivocada da preposição “de” antes do “que”, em desrespeito à regência de verbos e de nomes.
 - Cometer queísmo é um desvio da norma padrão da língua portuguesa e, portanto, um desvio do registro formal da língua.
 - O exagero no uso do “que” pode ser evitado a partir de uma escrita mais atenta e e de uma revisão cuidadosa do que é escrito.
 - O “que” pode ser usado como pronome, advérbio, conjunção, preposição e interjeição.
 
O que é queísmo?
O queísmo é um fenômeno linguístico caracterizado pela omissão da preposição “de” antes do “que”, quando o uso dessa preposição é gramaticalmente necessário.
Importante: Vale mencionar que o termo “queísmo” às vezes é empregado popularmente com a ideia de uso excessivo do “que”. É verdade que o uso exagerado do “que” é inapropriado, como veremos adiante, mas, academicamente, o conceito de “queísmo” é o que explicamos acima, ou seja, a omissão equivocada da preposição “de” antes do “que”. Esse conceito acadêmico é encontrado também na definição da palavra “queísmo” em dicionários como Michaelis, Infopédia e Houaiss. Além, é claro, de estar presente em artigos científicos relacionados a estudos linguísticos.
→ Exemplos de queísmo
A fruta que gosto mais é a melancia.
Juca tem medo que você vá embora.
Tenho certeza que ele vem.
Elaine se lembra que o pai gostava de cantar.
Matoso esqueceu-se que era o aniversário do filho.
Foi ao trabalho, apesar que estava doente.
Os cinco primeiros enunciados acima contrariam a regência.
Quem gosta, gosta DE alguma coisa:
A fruta de que gosto mais é a melancia.
Quem tem medo, tem medo DE algo:
Juca tem medo de que você vá embora.
Quem tem certeza, tem certeza DE alguma coisa:
Tenho certeza de que ele vem.
Quem se lembra, lembra-se DE algo:
Elaine se lembra de que o pai gostava de cantar.
Quem se esquece, esquece-se DE alguma coisa:
Matoso esqueceu-se de que era o aniversário do filho.
Por fim, a locução conjuntiva “apesar de” apresenta “de” em sua composição:
Foi ao trabalho, apesar de que estava doente.
Como evitar o exagero no uso do “que”?
O exagero no uso do “que” pode ser evitado a partir de uma escrita mais atenta e e de uma revisão cuidadosa do que é escrito. Vamos ver um exemplo de repetição exagerada do “que”:
O homem que veio aqui e a mulher que estava com ele, trouxeram um menino que chorava muito e um cachorro que latia bastante, mas que logo se calou, já que lhe dei um pedaço de carne.
É visível o uso excessivo do “que” no enunciado acima, o que torna a leitura cansativa ou desagradável. Tudo se resolve quando eliminamos o “que” em algumas situações ou trocamos esse termo por outro equivalente:
O homem que veio aqui, em companhia de uma mulher, trouxe um menino e um cachorro. A criança chorava muito. Já o cachorro, o qual latia bastante, logo se calou, pois lhe dei um pedaço de carne.
Queísmo na redação
O queísmo na redação evidencia o desconhecimento de algumas regras da gramática normativa e que não se possui domínio do registro formal da língua portuguesa.
Ao escrever uma redação, é preciso estar atento(a) à regência de alguns verbos e nomes que podem gerar certa confusão, já que, no dia a dia, são usados coloquialmente, sem respeito à regência adequada. Por exemplo, isso acontece bastante com os verbos “gostar”, “lembrar-se” e “esquecer-se”, além dos substantivos “certeza” e “medo”.
Uso do “que”
O “que” pode ser usado como:
Que amor difícil de encontrar!
Que título daremos ao livro?
Todos viram o homem que a agredira.
- advérbio de intensidade:
 
Que bonito você é!
Dinah sabia que eu estava pronto para partir.
[Oração subordinada substantiva objetiva direta]
Não fuja, que venho em paz.
[Oração coordenada sindética explicativa]
- partícula expletiva:
 
Que louco que você é!
[Usado para realçar, enfatizar]
- preposição:
 
Não tinha que me tratar assim.
[Não tinha de me tratar assim]
Acentuado, o “quê” é usado como:
- substantivo:
 
Meu irmão tem um quê de gênio.
[Meu irmão tem algo de gênio]
O quê é a décima sétima letra do alfabeto.
Quê! Ele fugiu?
Acesse também: Funções do “que” — mais detalhes e exemplos sobre as funções dessa partícula
Exercícios resolvidos sobre queísmo
Questão 1
Assinale a alternativa em que se verifica a ocorrência de queísmo.
A) Estava desconfiado de que os vizinhos eram fugitivos.
B) Tinha necessidade de que os amigos estivessem presentes.
C) Adilson sempre queria que as pessoas o admirassem.
D) Em dias sombrios, Elza duvidava que existia felicidade.
E) Ter que agradar a todos é um comportamento cansativo.
Resolução:
Alternativa D.
O verbo “duvidar” é transitivo indireto. Portanto, segundo a gramática normativa, o correto é escrever: “Elza duvidava de que existia felicidade”. Nesse caso, o não uso da preposição “de” se configura em queísmo.
Questão 2
Em todas as alternativas abaixo, é possível apontar a ocorrência de queísmo, EXCETO:
A) Todos na sala viam que o casamento era uma grande farsa.
B) Juliano tinha confiança que os pais entenderiam a situação.
C) As amigas estavam certas que o espetáculo seria hoje.
D) A professora foi lembrada que a prova final valia mais.
E) O carinho dos pais era a coisa que o menino mais gostava.
Resolução:
Alternativa A.
O uso da preposição é necessário em: “Juliano tinha confiança de que os pais entenderiam a situação”, “As amigas estavam certas de que o espetáculo seria hoje”, “A professora foi lembrada de que a prova final valia mais” e “O carinho dos pais era a coisa de que o menino mais gostava”.
Fontes
BRASIL. A redação do ENEM 2025: cartilha do(a) participante. Brasília: Inep, 2025.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
MOLLICA, Maria Cecilia. (De)queísmo: variação em conexões intersentenciais. Organon, Porto Alegre, v. 5, n. 18, 1991.
NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.
PAIVA, Maria da Conceição de; SCHERRE, Maria Marta Pereira. Retrospectiva sociolinguística: contribuições do PEUL. DELTA, São Paulo, v. 15, n. especial, p. 201-232, 1999.
QUE. In: INFOPÉDIA. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/que.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.