Cruz e Sousa

Por Warley Souza

Cruz e Sousa foi um poeta simbolista brasileiro. Suas poesias são caracterizadas por pessimismo e profundidade filosófica. Suas principais obras são “Missal” e “Broquéis”.

Cruz e Sousa, aproximadamente em 1898.
Cruz e Sousa, aproximadamente em 1898.

Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, na cidade de Desterro, em Santa Catarina. Nessa data, seu pai ainda era escravizado, mas sua mãe já tinha sido alforriada. Mais tarde, ele se tornou um abolicionista e fixou residência no Rio de Janeiro, onde se casou, teve filhos e publicou suas duas obras mais famosas: Missal e Broquéis.

O autor, que faleceu em 19 de março de 1898, vítima da tuberculose, foi o poeta mais importante do simbolismo brasileiro. Assim, suas obras apresentam características de estilo, como o pessimismo, a sinestesia e o rigor formal, mas também elementos particulares, como a presença da cor branca e a temática social.

Leia também: Castro Alves — um dos poetas mais engajados na luta contra a escravidão

Resumo sobre Cruz e Sousa

  • O escritor brasileiro Cruz e Sousa nasceu em 1861 e faleceu em 1898.

  • O autor, além de escrever poesias, era também um abolicionista.

  • Foi um dos principais autores do simbolismo brasileiro.

  • A presença da cor branca é uma das principais características de suas poesias.

  • Seus livros mais conhecidos são Missal e Broquéis.

Biografia de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa (João da Cruz e Sousa) nasceu em 24 de novembro de 1861, em Desterro (hoje, Florianópolis). Seu pai era pedreiro e ainda escravo do militar Guilherme Xavier de Sousa (1818-1870), mas sua mãe já era alforriada e trabalhava como lavadeira. Dessa forma, a criança acabou recebendo o sobrenome daquele que era considerado dono de seu pai.

Assim, a esposa do militar e futuro marechal, em 1866, começou a ensinar o menino a ler e a escrever. Quatro anos depois, ele passou a estudar na escola do irmão dela, e, em 1872, ingressou no Colégio da Conceição, dirigido por Rozalina Paes Leme. Já em 1874, foi aceito no Ateneu Provincial Catarinense.

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Em 1877, Cruz e Sousa se tornou professor particular e publicou seus primeiros poemas em periódicos da época. Já em 1881, foi um dos fundadores do semanário Colombo. Além disso, trabalhou na Companhia Dramática Julieta Santos, onde exercia a função de ponto (pessoa que, oculta do público, lembra as falas aos atores).

No ano de 1883, tornou-se amigo do médico Francisco Luís da Gama Rosa (1851-1918), então presidente da província de Santa Catarina, o qual, no ano seguinte, fez do escritor o promotor público de Laguna. Contudo, a nomeação foi logo anulada. Então, envolvido na causa abolicionista, o poeta decidiu conhecer a Bahia.

Em Desterro, no ano de 1885, dirigiu o jornal abolicionista O Moleque. No ano seguinte, apaixonou-se por uma pianista. Em 1887, passou a trabalhar na Central de Imigração. Em 1888, foi para o Rio de Janeiro, onde, em janeiro de 1889, publicou poesias no periódico Novidades. No entanto, em março, voltou a morar em sua cidade natal.

Fixou residência no Rio de Janeiro, em 1890, e passou a escrever para a Revista Ilustrada. No ano seguinte, publicou textos em O Tempo e na Folha Popular. Nessa cidade, em 1892, conheceu Gavita Rosa Gonçalves. Já em 1893, publicou seus livros Missal e Broquéis, casou-se com Gavita e conseguiu um emprego na Central do Brasil.

Em 1898, o poeta buscou tratamento para a tuberculose, na atual cidade de Antônio Carlos, em Minas Gerais, onde morreu em 19 de março desse ano, deixando três filhos e um por nascer. Seu corpo foi enviado para o Rio de Janeiro, em um vagão que transportava cavalos.

Características da obra de Cruz e Sousa

Cruz e Sousa foi um autor do simbolismo brasileiro, portanto, suas obras são caracterizadas pelo(a):

  • pessimismo (visão sombria e negativa da realidade);

  • oposição à racionalidade e ao pensamento científico (incapazes de revelar a essência das coisas);

  • sinestesia (figura de linguagem em que há a associação de dois ou mais dos cinco sentidos humanos).

Assim, os poetas simbolistas acreditavam na existência de um mundo ideal, que não pode ser alcançado por meio da razão, mas dos sentidos. Para eles, a realidade que conhecemos é enganosa, e, por isso, preocupavam-se mais com o plano das essências, de forma que se entregavam à alienação social.

Nessa perspectiva, a poesia simbolista seria capaz de, por meio de elementos sugestivos, fazer com que tivéssemos contato com um plano superior. Contudo, apesar de seu caráter místico, ela é antirromântica, já que não apresenta traços políticos presentes no romantismo, como o nacionalismo (1a fase) e a crítica social (3a fase).

Os simbolistas valorizavam a estrutura do poema e privilegiavam o rigor formal, isto é, o uso de versos regulares, também responsáveis pela musicalidade do poema, já que tais poetas acreditavam no poder das sensações. Já o uso de reticências dá ao texto um caráter de coisa indefinida, e a maiúscula alegorizante (palavra com inicial maiúscula) assume um aspecto simbólico, pois tem o poder de nos unir ao plano ideal.

Além disso, a poesia de Cruz e Sousa possui elementos autorais específicos, como a profundidade filosófica associada a uma angústia metafísica, a morbidez, e a presença recorrente da cor branca. Além disso, fugindo um pouco do estilo, o autor, às vezes, tocava em questões sociais, como a pobreza e o preconceito racial.

  • Videoaula sobre o simbolismo

Obras de Cruz e Sousa

  • Missal (1893)

  • Broquéis (1893)

  • Evocações (1898)

  • Faróis (1900)

  • Últimos sonetos (1905)

  • Poemas inéditos (1996)

  • Últimos inéditos (2013)

Capa do livro “Broquéis”, de Cruz e Sousa, publicado pela editora L&PM.[1]
Capa do livro “Broquéis”, de Cruz e Sousa, publicado pela editora L&PM.[1]

Leia também:  Fases do romantismo – características e temáticas abordadas

Poemas de Cruz e Sousa

No soneto “Lubricidade”, do livro Broquéis, o eu lírico dialoga com alguém que ele chama de “Flor maravilhosa”, e manifesta o desejo de ser uma serpente venenosa para poder se envolver nos cabelos de sua interlocutora, além de saltar em seus seios e “babujá-los e depois mordê-los”.

No entanto, a sensualidade dá lugar à condenação moral, ao dizer que o sangue dela é “impuro” e seu corpo, “de bacante”. Desse modo, o eu lírico revela que o desejo de ser uma serpente se deve ao fato de querer purificar o “sangue” da mulher, já que “um veneno de áspide vorace/ Deve ser morto com igual veneno”:

Quisera ser a serpe venenosa
Que dá-te medo e dá-te pesadelos
Para envolver-me, ó Flor maravilhosa,
Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.

Quisera ser a serpe veludosa
Para, enroscada em múltiplos novelos,
Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
E babujá-los e depois mordê-los...

Talvez que o sangue impuro e flamejante
Do teu lânguido corpo de bacante,
Da langue ondulação de águas do Reno

Estranhamente se purificasse...
Pois que um veneno de áspide vorace
Deve ser morto com igual veneno...

Nesse poema de Cruz e Sousa, é possível identificar características simbolistas, como: o rigor formal (versos decassílabos e rimas); a maiúscula alegorizante (“Flor”); e a sinestesia (“flavos”, “cheirosa” e “flamejante”).

Além disso, a musicalidade é obtida por meio das rimas e da metrificação. Já a aliteração formada pela repetição da consoante “s”, nas duas primeiras estrofes, lembra o sibilar de uma serpente.

Já em “Múmia”, também do livro Broquéis, o eu lírico conversa com uma “múmia”, possivelmente uma mulher, pois foi “amamentada na lascívia de Eva”. Assim, o elemento erótico se confunde com o “terror maldito” que a múmia espalha com o “doloroso grito” humano.

Como no soneto anterior, aqui também é perceptível a condenação moral do eu lírico ao associar “luxúria” a “tétricos” e “ferozes” uivos. Além disso, o riso dessa “múmia”, possuidora de um “beijo de pedra horrendo e frio”, é relacionado a punhal e frios sarcasmos:

Múmia de sangue e lama e terra e treva,
Podridão feita deusa de granito,
Que surges dos mistérios do Infinito
Amamentada na lascívia de Eva.

Tua boca voraz se farta e ceva
Na carne e espalhas o terror maldito,
O grito humano, o doloroso grito
Que um vento estranho para os limbos leva.

Báratros, criptas, dédalos atrozes
Escancaram-se aos tétricos, ferozes
Uivos tremendos com luxúria e cio...

Ris a punhais de frígidos sarcasmos
E deve dar congélidos espasmos
O teu beijo de pedra horrendo e frio!...

Como características do simbolismo, podemos apontar o rigor formal (versos decassílabos e rimas), a maiúscula alegorizante (“Infinito”) e a sinestesia (“treva”, “granito”, “boca”, “carne”, “grito”, “vento”, “uivos”, “ris”, “frígidos”, “espasmos”, “pedra” e “frio”).

Créditos da imagem

[1] Editora L&PM (reprodução)

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