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Redação do Enem nota 1000

A redação do Enem nota 1000 é aquela que atende a todas as exigências das 5 competências avaliadas.

Por Warley Souza

Dicas para uma redação nota 1000 no Enem.
A redação do Enem nota 1000 exige estudo e muita prática de escrita. (Créditos: Gabriel Franco | Português)
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A redação do Enem nota 1000 é aquela que cumpre todas as exigências expressas nas 5 competências. Assim, o(a) participante precisa dominar a norma culta da língua portuguesa e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento na defesa de seu ponto de vista, sem fugir ao tema.

Além disso, é necessário demonstrar seus conhecimentos linguísticos na estruturação de um texto dissertativo-argumentativo coeso e, por fim, elaborar uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos e que explicite o(a) agente da ação proposta, seu meio de realização e suas consequências.

Leia também: Como é a redação do Enem?

Exemplos de redação do Enem nota 1000

EXEMPLO 1

ANO

TEMA

AUTORIA

2018

“Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet

Luisa Sousa Lima Leite

A Revolução Técnico-científico-informacional, iniciada na segunda metade do século XX, inaugurou inúmeros avanços no setor de informática e telecomunicações. Embora esse movimento de modernização tecnológica tenha sido fundamental para democratizar o acesso a ferramentas digitais e a participação nas redes sociais, tal processo foi acompanhado pela invasão da privacidade de usuários, em virtude do controle de dados efetuado por empresas de tecnologia. Tendo em vista que o uso de informações privadas de internautas pode induzi-los a adotar comportamentos intolerantes ou a aderir a posições políticas, é imprescindível buscar alternativas que inibam essa manipulação comportamental no Brasil.

A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por servidores de tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes nas redes sociais. Em consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se considerar a diversidade como inerente à condição humana, de modo que os indivíduos deveriam estar habituados à convivência com o diferente. Todavia, a filtragem de informações efetivada pelas redes digitais inibe o contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus pontos de vista, uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações compatíveis com o perfil do internauta. Observam-se, por consequência, restrições ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez, favorecem a segmentação da comunidade virtual. Esse cenário dificulta o exercício da convivência com a diferença, conforme defendido por Arendt, o que reforça condutas intransigentes como a discriminação.

Em seguida, é relevante examinar como o controle sobre o conteúdo que é veiculado em sites favorece a adesão dos internautas a certo viés ideológico. Tendo em vista que os servidores de redes sociais como “Facebook” e “Twitter” traçam o perfil de usuários com base nas páginas por eles visitadas, torna-se possível a identificação das tendências de posicionamento político do indivíduo. Em posse dessa informação, as empresas de tecnologia podem privilegiar a veiculação de notícias, inclusive daquelas de procedência não confirmada, com o fito de reforçar as posições políticas do usuário, ou, ainda, de modificá-las para que se adequem aos interesses da companhia. Constata-se, assim, a possibilidade de manipulação ideológica na rede.

Portanto, fica evidente a necessidade de combater o uso de informações pessoais por empresas de tecnologia. Para tanto, é dever do Poder Legislativo aplicar medidas de caráter punitivo às companhias que utilizarem dados privados para a filtragem de conteúdos em suas redes. Isso seria efetivado por meio da criação de uma legislação específica e da formação de uma comissão parlamentar, que avaliará as situações do uso indevido de informações pessoais. Essa proposta tem por finalidade evitar a manipulação comportamental de usuários e, caso aprovada, certamente contribuirá para otimizar a experiência dos brasileiros na internet.

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EXEMPLO 2

ANO

TEMA

AUTORIA

2019

“Democratização do acesso ao

cinema no Brasil”

Gabriel Melo Caldas Nogueira

Para o filósofo escocês David Hume, a principal característica que difere o ser humano dos outros animais é o poder de seu pensamento, habilidade que o permite ver aquilo que nunca foi visto e ouvir aquilo que nunca foi ouvido. Sob essa ótica, vê-se que o cinema representa a capacidade de transpor para a tela as ideias e os pensamentos presentes no intelecto das pessoas, de modo a possibilitar a criação de novos universos e, justamente por esse potencial cognitivo, ele é muito relevante. É prudente apontar, diante disso, que a arte cinematográfica deve ser democratizada, em especial no Brasil — país rico em expressões culturais que podem dialogar com esse modelo artístico —, por razões que dizem respeito tanto à sociedade quanto às leis.

Em primeiro lugar, é válido frisar que o cinema dialoga com uma elementar necessidade social e, consequentemente, não pode ser deixada em segundo plano. Para entender essa lógica, pode-se mencionar o renomado historiador holandês Johan Huizinga, o qual, no livro “Homo Ludens”, ratifica a constante busca humana pelo prazer lúdico, pois ele promove um proveitoso bem-estar. É exatamente nessa conjuntura que se insere o fenômeno cinematográfico, uma vez que ele, ao possibilitar a interação de vários indivíduos na contemplação do espetáculo, faz com que a plateia participe das histórias, de forma a compartilhar experiências e vivências — o que representa o fator lúdico mencionado pelo pensador. É perceptível, portanto, o louvável elemento benfeitor dessa criação artística, capaz de garantir a coesão da comunidade.

Em segundo lugar, é oportuno comentar que o cenário do cinema supracitado remete ao que defende o arcabouço jurídico do país. Isso porque o artigo 215 da Constituição Federal é claro em caracterizar os bens culturais como um direito de todos, concebidos com absoluta prioridade por parte do Estado. Contudo, é desanimador notar que tal diretriz não dá sinais de plena execução e, para provar isso, basta analisar as várias pesquisas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que demonstram a lamentável distribuição irregular das práticas artísticas — dentre elas, o cinema —, uma vez que estão restritas a poucos municípios brasileiros. Vê-se, então, o perigo da norma apresentada findar em desuso, sob pena de confirmar o que propunha Dante Alighiere, em “A Divina Comédia”: “As leis existem, mas quem as aplica?”. Esse cenário, certamente, configura-se como desagregador e não pode ser negligenciado.

Por fim, caminhos devem ser elucidados para democratizar o acesso ao cinema no Brasil, levando-se em consideração as questões sociais e legislativas abordadas. Sendo assim, cabe ao Governo Federal — órgão responsável pelo bem-estar e lazer da população — elaborar um plano nacional de incentivo à prática cinematográfica, de modo a instituir ações como a criação de semanas culturais nacionais, bem como o desenvolvimento de atividades artísticas públicas. Isso pode ser feito por meio de uma associação entre prefeituras, governadores e setores federais — já que o fenômeno envolve todos esses âmbitos administrativos —, os quais devem executar periódicos eventos, ancorados por atores e diretores, que visem exibir filmes gratuitos para a comunidade civil. Esse projeto deve se adaptar à realidade de cada cidade para ser efetivo. Dessa forma, o cinema poderá ser, enfim, democratizado, o que confirmará o que determina o artigo 215 da Constituição. Assim, felizmente, os cidadãos poderão desfrutar das benesses advindas dessa engrandecedora ação artística.

EXEMPLO 3

ANO

TEMA

AUTORIA

2021

“Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”

Fernanda Karolinne Quaresma Nunes

Em “Vidas secas”, obra literária do modernista Graciliano Ramos, Fabiano e sua família vivem uma situação degradante marcada pela miséria. Na trama, os filhos do protagonista não recebem nomes, sendo chamados apenas como o “mais velho” e o “mais novo”, recurso usado pelo autor para evidenciar a desumanização do indivíduo. Ao sair da ficção, sem desconsiderar o contexto histórico da obra, nota-se que a problemática apresentada ainda percorre a atualidade: a não garantia de cidadania pela invisibilidade da falta de registro civil. A partir desse contexto, não se pode hesitar — é imprescindível compreender os impactos gerados pela falta de identificação oficial da população.

Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida, na persistente falta de pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece, porque, como já estudado pelo historiador José Murilo de Carvalho, para que haja uma cidadania completa no Brasil é necessária a coexistência dos direitos sociais, políticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que, quando o pilar civil não é garantido — em outras palavras, a não efetivação do direito devido à falta do registro em cartório —, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada na sociedade. Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais velho” de Graciliano Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome oficial, sem reconhecimento pelo Estado e, por fim, sem a dignidade de um cidadão.

Além disso, a falta do sentimento de cidadania na população não registrada reflete, também, na manutenção de uma sociedade historicamente excludente. Tal questão ocorre, pois, de acordo com a análise da antropóloga brasileira Lilia Schwarcz, desde a Independência do Brasil, não há a formação de um ideal de coletividade — ou seja, de uma “Nação” ao invés de, meramente, um “Estado”. Com isso, o caráter de desigualdade social e exclusão do diferente se mantém, sobretudo, no que diz respeito às pessoas que não tiveram acesso ao registro oficial, as quais, frequentemente, são obrigadas a lidar com situações humilhantes por parte do restante da sociedade: das mais diversas discriminações até o fato de não poderem ter qualquer outro documento se, antes, não tiverem sua identificação oficial.

Portanto, ao entender que a falta de cidadania gerada pela invisibilidade do não registro está diretamente ligada à exclusão social, é tempo de combater esse grave problema. Assim, cabe ao Poder Executivo Federal, mais especificamente o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ampliar o acesso aos cartórios de registro cívil. Tal ação deverá ocorrer por meio da implantação de um Projeto Nacional de Incentivo à Identidade Civil, o qual irá articular, junto aos gestores dos municípios brasileiros, campanhas, divulgadas pela mídia socialmente engajada, que expliquem sobre a importância do registro oficial para garantia da cidadania, além de instruções para realizar o processo, a fim de mitigar as desigualdades geradas pela falta dessa documentação. Afinal, assim como os meninos em “Vidas secas”, toda a população merece ter a garantia e o reconhecimento do seu nome e identidade.

EXEMPLO 4

ANO

TEMA

AUTORIA

2022

“Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”

Luiz André Lomeu de Almeida

A Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento que se propôs a se empenhar a contemplar todos os povos existentes no país. No entanto, a concessão do direito ao pleno reconhecimento legal e social limita-se meramente ao segmento normativo, uma vez que, na realidade, indígenas, ciganos, extrativistas e tantos outros grupos de tradição nacional sofrem ataques diários a sua existência. Nesse sentido, há óbices para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil, haja vista a negligência do sistema educacional em não difundir integralmente sua cultura e os históricos ataques aos seus territórios.

Em primeira instância, o significativo entrave que causa a desvalorização desses segmentos da sociedade advém da inobservância da educação quanto à pluralidade identitária da nação. Sob esse prisma, a Lei de Diretrizes e Bases, ao instituir a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), determina o conteúdo e as prescrições do que será estudado nas instituições de ensino brasileiro, bem como objetiva promover a inclusão e o respeito por meio do ato de lecionar. Todavia, essa legislação falha, em seu modelo atual, em cumprir seus princípios no que tange a esses grupos tradicionais. O currículo nacional, nessa perspectiva, aborda superficialmente essas comunidades, apresentando materiais escritos que se limitam a tratar de indígenas e de quilombolas. Assim, essa distorção leva a um processo de alienação frente à diversidade cultural brasileira.

Outrossim, as persistentes agressões à integridade territorial dos povos da tradição do país agravam o atual cenário. Nesse contexto, é marcante na história nacional a afronta da expansão econômica diante de terras socialmente ocupadas. A década de 1970, por exemplo, destaca-se pela diminuição de áreas indígenas, em virtude da ampliação de fronteiras agrícolas, em meio às demandas da Revolução Verde. Posteriormente, a construção da hidrelétrica do Rio Xingu foi responsável pela perda de moradia de ribeirinhos. Desse modo, a continuidade desse processo reforça a subvalorização dessas organizações, na medida que são paulatinamente privadas de locais para se desenvolver.

Infere-se, portanto, que o Brasil vivencia desafios para valorizar seus grupos tradicionais, tendo em vista as disfunções educacionais e a ampliação da economia. Isso posto, urge ao Governo Federal, mediado pelo Ministério da Educação, realizar mudança na BNCC, aumentando a abordagem sobre esses povos nas aulas de ciências humanas, de modo a especificá-los integralmente e versar sobre sua cultura. Ademais, cabe ao Ministério do Meio Ambiente realizar sólida demarcação de suas terras de vivência, de maneira a bloquear expansões de mercado que as ocupem, ocorrendo também o monitoramento militar. Assim, as medidas terão o fim de garantir o reconhecimento e o desenvolvimento dessas comunidades.

EXEMPLO 5

ANO

TEMA

AUTORIA

2023

“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”

Bruno Henrique Alves dos Santos

 

No filme nacional “Que horas ela volta?”, a empregada doméstica de origem nordestina Val é crucial para o funcionamento de uma casa. Ao mesmo tempo, a personagem é subjugada e mal remunerada por seus patrões, tendo que dormir no quarto dos fundos, por exemplo. De forma semelhante, o Brasil encontra desafios para a valorização do trabalho de cuidado, majoritariamente exercido por mulheres. Isso ocorre porque os papéis de gênero estão enraizados na sociedade e por conta da maioria dessas trabalhadoras compor grupos sociais que já são invisibilizados.

Diante desse cenário, existe uma inerente posição na sociedade dada ao sexo feminino que contribui para a falta de amparo em relação a essa forma de trabalho. O conceito de “fato social”, do sociólogo Émile Durkheim, diz respeito às ações coletivas que estão arraigadas a um povo e que acontecem por si só, coercitivamente e sem questionamentos. Dessa maneira, a contínua conduta de dispensar o trabalho de cuidado à mulher é um fato social e, como essa função é exercida por um contingente que possui um mínimo espaço político, tal forma de labor é desprezada por todos.

Ademais, o descaso aumenta em relação à parte da identidade desses indivíduos que não corresponde ao gênero. Segundo a filósofa Carla Akotirene, em seu trabalho “Interseccionalidade”, os cidadãos sofrem opressão da sociedade por fatores identitários que não agem de forma independente, como idade, origem, etnia, entre outros. Sendo assim, há uma maior desvalorização desse trabalho porque as mulheres que o realizam, em sua maioria, também integram parcelas vulneráveis do corpo social, fazendo com que sua forçada subserviência de gênero seja aliada aos problemas que seus grupos societários já enfrentam.

Portanto, é necessária uma mobilização para mitigar tais mazelas. Dessarte, cabe ao Ministério do Trabalho, órgão responsável pela supervisão das relações de trabalho no Brasil, conceder maior participação política para as mulheres e para os responsáveis pelo trabalho de cuidado, separadamente, através do fomento à criação de partidos políticos e sindicatos que representem essas pessoas (e as partes complementares de suas identidades). Tal ação, teria como finalidade garantir seus direitos, principalmente os trabalhistas, e promover a solidificação da figura feminina em qualquer área de trabalho.

Para tirar nota 1000 na redação do Enem, é preciso cumprir todas as exigências relacionadas às 5 competências, o que aconteceu em todas as redações destacadas acima. Portanto, é necessário “demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa” (competência 1), como se observa, por exemplo, neste trecho da primeira redação:

A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por servidores de tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes nas redes sociais. Em consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se considerar a diversidade como inerente à condição humana, de modo que os indivíduos deveriam estar habituados à convivência com o diferente. Todavia, a filtragem de informações efetivada pelas redes digitais inibe o contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus pontos de vista, uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações compatíveis com o perfil do internauta. Observam-se, por consequência, restrições ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez, favorecem a segmentação da comunidade virtual. Esse cenário dificulta o exercício da convivência com a diferença, conforme defendido por Arendt, o que reforça condutas intransigentes como a discriminação.

Note como a participante faz a concordância correta ao utilizar os verbos “contribuir”, “inibir” e “observar”, em estruturas que, normalmente, levam a equívocos por parte de quem escreve. Ela também sabe utilizar corretamente o acento grave indicador de crase.

Também é necessário “compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa” (competência 2). Observe que, nos textos, autoras e autores citam, desde obras literárias como Vidas secas (redação 3) e obras cinematográficas como Que horas ela volta? (redação 5), até conceitos de filosofia, de história e de legislação, como o autor da segunda redação:

Para o filósofo escocês David Hume, a principal característica que difere o ser humano dos outros animais é o poder de seu pensamento, habilidade que o permite ver aquilo que nunca foi visto e ouvir aquilo que nunca foi ouvido. [...]

[...]. Para entender essa lógica, pode-se mencionar o renomado historiador holandês Johan Huizinga, o qual, no livro “Homo Ludens”, ratifica a constante busca humana pelo prazer lúdico, pois ele promove um proveitoso bem-estar. [...]

[...]. Isso porque o artigo 215 da Constituição Federal é claro em caracterizar os bens culturais como um direito de todos, concebidos com absoluta prioridade por parte do Estado. [...].

Além das competências já indicadas, para tirar nota 1.000, o(a) participante precisa “selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista” (competência 3), como vemos neste trecho da terceira redação:

Com efeito, é nítido que o deficitário registro civil repercute, sem dúvida, na persistente falta de pertencimento como cidadão brasileiro. Isso acontece, porque, como já estudado pelo historiador José Murilo de Carvalho, para que haja uma cidadania completa no Brasil é necessária a coexistência dos direitos sociais, políticos e civis. Sob essa ótica, percebe-se que, quando o pilar civil não é garantido — em outras palavras, a não efetivação do direito devido à falta do registro em cartório —, não é possível fazer com que a cidadania seja alcançada na sociedade. Dessa forma, da mesma maneira que o “mais novo” e o “mais velho” de Graciliano Ramos, quase 3 milhões de brasileiros continuam por ser invisibilizados: sem nome oficial, sem reconhecimento pelo Estado e, por fim, sem a dignidade de um cidadão.

É necessário, também, que o(a) participante demonstre “conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação” (competência 4), como é perceptível neste trecho da quarta redação, em que são marcantes os elementos coesivos:

[...]

Em primeira instância, o significativo entrave que causa a desvalorização desses segmentos da sociedade advém da inobservância da educação quanto à pluralidade identitária da nação. Sob esse prisma, a Lei de Diretrizes e Bases, ao instituir a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), determina o conteúdo e as prescrições do que será estudado nas instituições de ensino brasileiro, bem como objetiva promover a inclusão e o respeito por meio do ato de lecionar. Todavia, essa legislação falha, em seu modelo atual, em cumprir seus princípios no que tange a esses grupos tradicionais. O currículo nacional, nessa perspectiva, aborda superficialmente essas comunidades, apresentando materiais escritos que se limitam a tratar de indígenas e de quilombolas. Assim, essa distorção leva a um processo de alienação frente à diversidade cultural brasileira.

Por fim, o(a) participante deve “elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos” (competência 5). Leia o último parágrafo da quinta redação:

Portanto, é necessária uma mobilização para mitigar tais mazelas. Dessarte, cabe ao Ministério do Trabalho, órgão responsável pela supervisão das relações de trabalho no Brasil, conceder maior participação política para as mulheres e para os responsáveis pelo trabalho de cuidado, separadamente, através do fomento à criação de partidos políticos e sindicatos que representem essas pessoas (e as partes complementares de suas identidades). Tal ação, teria como finalidade garantir seus direitos, principalmente os trabalhistas, e promover a solidificação da figura feminina em qualquer área de trabalho.

Note que o autor explicita:

  • a ação que deve ser executada: “conceder maior participação política para as mulheres e para os responsáveis pelo trabalho de cuidado”;
  • o agente da ação: o “Ministério do Trabalho”;
  • o modo de execução: “através do fomento à criação de partidos políticos e sindicatos que representem essas pessoas (e as partes complementares de suas identidades)”;
  • as consequências da ação: “Tal ação, teria como finalidade garantir seus direitos, principalmente os trabalhistas, e promover a solidificação da figura feminina em qualquer área de trabalho”.

Veja também: Você sabe como fazer a redação do Enem?

Dicas para uma redação nota 1000 no Enem

  • Estude e domine tópicos gramaticais importantes na escrita formal, como: crase, pronomes relativos, acentuação, pontuação, concordância e regência.
  • Estude coesão e coerência e aprenda maneiras de fazer a coesão textual entre frases, orações, períodos e parágrafos.
  • Busque estar sempre atualizado(a) e leia muito, não só textos literários, mas também informativos e científicos.
  • Em suas leituras, quando encontrar alguma citação de cunho político, científico, social ou cultural interessante, anote e memorize para uso eventual na redação.
  • Meses ou anos antes da prova, estabeleça uma rotina semanal de escrita de textos de cunho dissertativo-argumentativo, pois é a prática que vai fazer com que você escreva bem.
  • Leia os textos motivadores com atenção e preste muita atenção na proposta de redação para não fugir ao tema.
  • Depois de ler os textos motivadores e a proposta, problematize o tema e crie, no mínimo, dois argumentos para nortearem a defesa de suas ideias.
  • Use linguagem direta, clara e formal, com explicações, citações contextualizadas e exemplos.
  • Lembre-se que a redação deve ser objetiva.
  • Não se esqueça de que um texto dissertativo apresenta introdução (problematização do tema e apresentação de argumentos), desenvolvimento (defesa dos argumentos apresentados) e conclusão (elaboração da proposta de intervenção).
  • Na elaboração da proposta de intervenção, informe a ação a ser realizada, quem ou que instituição deve executar tal ação, como ela deve ser posta em prática e suas possíveis consequências.
  • Ao elaborar a proposta de intervenção, procure acrescentar alguma informação a mais acerca da ação, do(a) agente, do meio de execução ou das consequências.
  • Faça uma proposta de intervenção clara, específica e que respeite os direitos humanos.

Competências da redação do Enem

Competência 1

Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

Competência 2

Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Competência 3

Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Competência 4

Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Competência 5

Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Fontes

BRASIL. A redação no ENEM 2019: cartilha do participante. Brasília: Inep, 2019.

BRASIL. A redação no ENEM 2020: cartilha do participante. Brasília: Inep, 2020.

BRASIL. A redação no ENEM 2022: cartilha do participante. Brasília: Inep, 2022.

BRASIL. A redação no ENEM 2023: cartilha do participante. Brasília: Inep, 2023.

BRASIL. A redação no ENEM 2024: cartilha do(a) participante. Brasília: Inep, 2024.

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