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Redação do Enem

A redação do Enem é um texto dissertativo-argumentativo composto de introdução, desenvolvimento e conclusão. O texto é avaliado por meio de 5 competências.

Por Mariana Carvalho Machado Cortes

Estrutura da redação do Enem.
Estrutura da redação do Enem: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Crédito da Imagem: Gabriel Franco | Português
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A redação do Enem é uma dissertação-argumentativa que tem como composição básica a estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão. Algumas especificidades da prova do Enem são a obrigatoriedade da proposta de intervenção, de um repertório sociocultural produtivo e da presença de um projeto de texto. As competências do Enem são: C1 (modalidade escrita), C2 (tema e tipologia textual), C3 (argumentação e coerência), C4 (coesão) e C5 (proposta de intervenção).

Leia também: Dicas para escrever uma tese de redação nota 1000

Resumo sobre redação do Enem

  • A redação do Enem é um texto dissertativo-argumentativo composto por introdução, desenvolvimento e conclusão.
  • A introdução é composta de contextualização e tese.
  • Cada parágrafo de desenvolvimento é composto por: tópico frasal, argumento, aprofundamento e retomada de tema.
  • A conclusão é composta por retomada de ideias, proposta de intervenção e desfecho.
  • A elaboração da tese deve ser o primeiro ato para a confecção da redação.
  • Há 5 competências que servem como critério para a correção da redação.
  • A competência I é responsável pela avaliação sobre o domínio da  modalidade escrita formal da língua portuguesa.
  • A competência II é responsável pela avaliação sobre a compreensão acerca da proposta do tema em sua totalidade, sobre a aplicação do repertório sociocultural e sobre o domínio do gênero dissertativo-argumentativo.
  • A competência III é responsável pela avaliação sobre a seleção e a articulação de informações, opiniões e argumentos acerca de um ponto de vista.
  • A competência IV é responsável pela avaliação sobre o domínio acerca dos mecanismos coesivos necessários para a construção da argumentação.
  • A competência V é responsável pela avaliação sobre a elaboração da proposta de intervenção.

Estrutura da redação do Enem

A estrutura da redação do Enem é basicamente composta por introdução, desenvolvimento e conclusão e não há a obrigatoriedade de um título. A introdução tem como função apresentar o tema e a tese, ou seja, o ponto de vista a ser defendido no texto. O desenvolvimento aprofunda o tema, construindo argumentos que fundamentam a tese. A conclusão retoma as principais ideias do texto, apresenta uma proposta e dá o desfecho à dissertação.

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  • Introdução

É composta pela contextualização e pela tese. A contextualização é uma forma de apresentar o tema de maneira que já introduza o ponto de vista a ser defendido no texto, ou seja, a tese. Esta é a parte central da dissertação, uma vez que ela evidencia a opinião que será desenvolvida, aprofundada e retomada no decorrer do texto. Ela também pode evidenciar os pontos que serão desenvolvidos em cada parágrafo de desenvolvimento.

  • Desenvolvimento

O desenvolvimento é composto pelo tópico frasal, pelo argumento, pelo aprofundamento e pelo fechamento das ideias no parágrafo. O tópico frasal apresenta a ideia que será desenvolvida no parágrafo específico. O argumento consiste na explicação do ponto de vista que está sendo defendido.

O aprofundamento é a fundamentação do argumento. O desfecho do parágrafo deve retomar as ideias trabalhadas e relacioná-las à tese, de maneira que haja uma coesão entre as ideias de cada parágrafo. É importante que a dissertação argumentativa tenha, no mínimo, dois parágrafos de desenvolvimento.

  • Conclusão

A conclusão é composta de uma retomada de ideias, de uma proposta e de um desfecho. É importante que não haja informações novas na conclusão. Ela deve retomar a tese e pode também retomar os pontos principais de cada argumento.

A proposta consiste em uma sugestão sobre uma (ou mais) forma de resolver os problemas levantados nos parágrafos de desenvolvimento. A proposta é composta pelos seguintes elementos: agente, ação, meio, detalhamento e finalidade. O desfecho consiste no fechamento do texto, que deve ser encerrado de maneira bem relacionada à tese.

Veja também: Os erros mais comuns em redações — quais são e como evitar

Como fazer a redação do Enem?

Inicialmente, é importante ler com atenção a proposta de redação e os textos motivadores para que não haja falta de compreensão sobre o tema. Normalmente, o tema do Enem apresenta dois ou mais pontos que devem ser bem relacionados, como ocorre com o tema de 2024: “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Nesse caso, o candidato deveria relacionar quatro principais palavras ou expressões: “desafios”, “valorização”, “herança africana”, “Brasil”. Assim, é importante que todos os pontos sejam abordados não apenas no texto, mas na elaboração da tese.

Para fazer a redação do Enem, a tese deve ser o primeiro item a ser elaborado, uma vez que é sobre ela que todo o texto será construído. Com base nisso, é importante que haja um projeto de texto predefinido, uma vez que ele é importante para que todas as ideias sejam bem relacionadas e desenvolvidas.

O projeto de texto é um elemento observado na correção da redação. Ele consiste em um esquema geral da estrutura de um texto, no qual se estabelecem os princípios pelos quais deve passar a argumentação a ser desenvolvida. Assim, essa estrutura do texto precisa ser pensada para que, então, a dissertação possa ser construída de forma coerente e coesa. Essas características fazem parte dos critérios de correção.

  • Para fazer a introdução: deve ser selecionada uma forma de contextualização que esteja diretamente relacionada com a tese e, se a relação não for clara, ela deve ser traçada no texto. Não se deve esquecer que é importante que a opinião a ser defendida esteja muito clara. Não pode haver parágrafo expositivo em uma dissertação-argumentativa.
  • Para fazer o desenvolvimento: é interessante que os parágrafos de desenvolvimento sejam iniciados pelo tópico frasal e que a opinião seja explicada, fundamentada e que as ideias sejam bem amarradas no final.
  • Para fazer a conclusão: as principais ideias devem ser retomadas e todos os mecanismos da proposta (agente, ação, meio, detalhamento e finalidade) devem ser bem claros. Vale, inclusive, colocar expressões que contribuam para essa clareza a fim de introduzir cada elemento, como “por meio de” para o meio, ou “a fim de” para a finalidade. Algumas formas de desfecho podem ser: uma finalidade geral da proposta que retome o tema; ou um texto-circuito, que consiste em retomar uma ideia já mencionada no texto para finalizá-lo.

É importante que, durante todo o texto, haja uso de conjunções inter e intraparagrafais para que a relação entre as ideias esteja clara.

Exemplos de redação do Enem nota 1000

Analisar redações que tiraram nota 1000 é uma forma eficiente de entender como fazer uma dissertação-argumentativa no Enem e os parâmetros de construção do texto. Assim, seguem alguns exemplos de redação nota 1000:

  • Exemplo 1:

Tema 2023: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”

Ana Luiza Teodoro Coutinho Loureiro

Um dos contos presentes no livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector, acompanha a epifania da personagem Ana ao fugir de seus afazeres domésticos. Ela, que se via sentenciada a cuidar da casa e dos filhos, assemelha-se a muitas mulheres brasileiras, que exercem essas e outras tarefas diariamente, sem valorização e, até mesmo, sem remuneração. Nesse sentido, cabe analisar as causas socioeconômicas da invisibilidade do trabalho de cuidado no Brasil contemporâneo.

Em primeira perspectiva, a sociedade limita a mulher e sua função social ao ambiente caseiro e à realização de cuidados especiais. Isso ocorre porque, de acordo com o corpo social estabelecido, a essência cuidadosa é algo inerente ao feminino, muitas vezes associada à maternidade. Todavia, essa característica é construída e imposta às mulheres, que são frequentemente moldadas — assim como elucidado por Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se”. Esse cenário é instigado pela cultura patriarcal e machista da nação, que atribui o cuidado e o lar somente ao sexo feminino. Desse modo, esse trabalho é visto como uma obrigação da mulher e não como um trabalho de fato, o que, por conseguinte, gera a desvalorização de tão importante exercício.

Ademais, o cuidado não é percebido com valor de mercado. Isso, porque não é uma atividade altamente lucrativa e produtiva, do ponto de vista mercadológico, o que, segundo Byung Chul-Han em “A sociedade do cansaço”, são fatores valorizados nos dias atuais. Esse panorama se dá pela lógica capitalista que norteia as relações de trabalho no mundo hoje, priorizando o lucro de indústrias e empresas em detrimento do cuidado com pessoas — majoritariamente exercido por mulheres. Consequentemente, há a má remuneração dessa ocupação, o que afeta a igualdade de gênero na inserção no mercado de trabalho e atrapalha a emancipação feminina.

Portanto, fazem-se evidentes as matrizes da invisibilidade do trabalho de cuidado em solo nacional. Logo, não se deve hesitar: são necessárias medidas para a erradicação da problemática. É responsabilidade, então, do Ministério da Educação — órgão federal que gere o ensino brasileiro — alterar a estrutura machista e patriarcal nas salas de aula. Isso pode ser feito por meio da inserção na Base Nacional Comum Curricular de formas de empoderamento feminino como assunto obrigatório na formação cidadã. Essa mudança deve ser alcançada com a finalidade de valorizar o trabalho exercido por mulheres, principalmente os mais invisíveis, como o de cuidado. Outrossim, cabe ao Governo Federal aumentar o salário mínimo atual, com o objetivo de garantir uma remuneração adequada a todos, bem como às mulheres que se ocupam com o cuidado, favorecendo suas independências financeiras. Quem sabe, assim, todas as “Anas” que cuidam do Brasil tornar-se-ão visíveis, valorizadas e prestigiadas.

A contextualização da dissertação relaciona-se efetivamente com o tema, uma vez que fala sobre a personagem Ana, do livro Laços de família, que se via presa nos trabalhos de cuidados domésticos. Assim, a tese é elaborada de maneira que o problema fica evidente e há um encaminhamento para a análise de suas causas.

O primeiro parágrafo de desenvolvimento apresenta o problema relacionado à imposição da sociedade no tópico frasal. Essa premissa é explicada inicialmente e depois é fundamentada com a frase de Simone de Beauvoir. Nesse momento, outro ponto demandado na correção é corretamente preenchido: a presença de um repertório sociocultural produtivo para o texto. Em seguida, há a retomada efetiva dos elementos pertencentes ao tema.

No segundo parágrafo de desenvolvimento, o tópico frasal evidencia o lugar dos trabalhos de cuidado dentro de uma sociedade mercadológica. Em seguida, há uma explicação sobre tal premissa, fundamentada por conceitos encontrados na sociedade do cansaço. Mais uma vez, há um repertório produtivo, uma vez que é utilizado para a fundamentação do argumento.

Na conclusão, há a retomada do tema e da tese e a construção da proposta com todos os elementos que lhe são necessários. Além disso, ambas as propostas estão diretamente relacionadas aos problemas mencionados nos parágrafos de desenvolvimento. A redação é finalizada com um texto-circuito, que consiste na retomada de um ponto já mencionado na redação. Nesse caso, há, novamente, a abordagem do repertório utilizado na contextualização como uma forma de encerrar o texto de maneira coerente.

  • Exemplo 2:

Tema 2022: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”

Ana Carolina Angelim Damasceno

O poema “Erro de Português”, do escritor modernista Oswald de Andrade, retrata o processo de aculturação dos indígenas durante a colonização do Brasil. Atualmente, no país, ainda existem inúmeros desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais devido, sobretudo, à ineficiência estatal histórica em assistir esses indivíduos e ao desconhecimento, por parte da população, sobre a diversidade e a importância desses grupos.

É necessário destacar, de início, o descaso do Poder Público em assegurar, de maneira efetiva, os direitos fundamentais às comunidades tradicionais. De fato, o Estado, historicamente, negligenciou a proteção de organizações sociais distintas, tais quais ciganos, quilombolas e indígenas e, muitas vezes, legitimou a dissolução da cultura desses povos, prova disso foi, durante o período de Ditadura Militar, a adoção de uma política assimilacionista, isto é, de integração dos povos nativos aos costumes da sociedade citadina como tentativa de extinguir determinadas tradições. Dessa forma, as populações tradicionais são desvalorizadas e, não raro, não reconhecidas pelo Governo, conjuntura que impossibilita seu pleno exercício de dignidade, tendo em vista a dificuldade de acesso a direitos sociais imprescindíveis para seu bem-estar e para a perpetuação de seus saberes ao longo das gerações, necessários para a manutenção de uma identidade coletiva associada ao reconhecimento de sua ancestralidade.

Além da ineficiência do Estado, o desconhecimento dessa diversidade cultural por parte de muitos indivíduos acentua a desvalorização dos povos tradicionais. Notadamente, a invisibilidade de comunidades históricas compromete o desenvolvimento de senso crítico frente à importância dessas organizações sociais para a construção identitária do país, cenário que comprova o pensamento da escritora brasileira Cecília Meireles, em sua obra “Crônicas da Educação”, na qual consigna: a educação é fundamental para a orientação individual, ou seja, para a criticidade nas inúmeras situações da vida social. Conforme esse raciocínio, a sociedade não valoriza devidamente as populações ancestrais e, diversas vezes, segrega essas coletividades por não conhecer sua relevância para a cultura nacional, comprometendo, assim, a manifestação de suas tradições relacionadas ao sentimento de pertencimento e ao modo de viver em harmonia não só com o espaço, mas também com os outros sujeitos.

É imprescindível, portanto, que Estado, aliado à esfera municipal e estadual de poder, proteja, efetivamente, as comunidades tradicionais do Brasil, por intermédio de políticas públicas voltadas para o reconhecimento oficial de povos ancestrais negligenciados, como extrativistas e pescadores, bem como para a promoção de direitos às diversas organizações culturais — com a demarcação de terras indígenas e quilombolas e a visita periódica de agentes do governo que documentem as necessidades de cada grupo —, a fim de proporcionar o exercício de dignidade para esses indivíduos. Urge, também, que a escola possibilite o conhecimento sobre essas populações, mediante palestras e aulas extracurriculares — com profissionais da área de história e de antropologia, que demonstrem a importância dessas comunidades —, com o intuito de incentivar a criticidade dos estudantes sobre a valorização de povos tradicionais.

A redação é contextualizada por meio da abordagem de um poema, que se relaciona com o tema ao falar sobre o processo de aculturação que se iniciou pela desvalorização da cultura indígena. A tese relaciona a discussão aos problemas que serão desenvolvidos nos argumentos: a ineficiência estatal e o desconhecimento da população.

O primeiro parágrafo de desenvolvimento é iniciado pelo tópico frasal, que aborda o problema inicial: o descaso governamental. Tal questão é explicada por meio de uma perspectiva histórica e fundamentada com a abordagem sobre a Ditadura. O parágrafo, por fim, é encerrado evidenciando o problema na sociedade e retomando os pontos principais relacionados ao tema.

O segundo parágrafo de desenvolvimento aborda o problema do desconhecimento da população, explicando sobre como isso acarreta a desvalorização da cultura indígena na sociedade. O fundamento ocorre por meio do texto de Cecília Meireles o qual é relacionado à necessidade de conhecimento da população sobre o assunto. Por fim, há a retomada do tema para que todas as informações sejam bem relacionadas.

Na conclusão, há a retomada das ideias principais do texto, e, em seguida, há a construção de propostas que se relacionam diretamente aos problemas desenvolvidos nos argumentos. O texto é encerrado com uma finalidade da proposta que aborda os pontos principais do tema.

Quantas linhas deve ter a redação do Enem?

A redação do Enem deve ter, no mínimo, oito linhas, se há sete linhas ou menos, o texto é automaticamente zerado. O título é considerado para a contagem das linhas. O número máximo de linhas é 30. Se há alguma parte que excede esse número, tal parte será desconsiderada na avaliação. O texto não deve exceder as margens da linha, pois tal exceção também não será considerada na avaliação.

Saiba mais: Operadores argumentativos — o que são, exemplos, como usar

Competências da redação do Enem

As competências de redação do Enem são os critérios de correção utilizados para a avaliação do texto. São eles:

→ Competência I da redação do Enem

Competência I: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

O participante será avaliado acerca do seu domínio sobre a modalidade escrita formal da língua portuguesa, o que inclui: convenções da escrita, convenções gramaticais, escolha de registro e escolha vocabular.

É importante dar uma atenção à estrutura sintática da frase, ou seja, à organização dos termos sintáticos e, portanto, das frases do texto, uma vez que isso é importante para a clareza na escrita e para o bom funcionamento no discurso. Além disso, espera-se que o participante consiga construir orações complexas, pois isso demonstra um excelente domínio da língua.

A presença de períodos truncados e de justaposição de palavras não é bem-vista na avaliação da competência I. Em relação aos desvios, é necessário atentar às seguintes questões:

  • Convenções da escrita: acentuação, ortografia, uso de hífen, emprego de letras maiúsculas e minúsculas e separação silábica (translineação).
  • Convenções gramaticais: regência verbal e nominal, concordância verbal e nominal, tempos e modos verbais, pontuação, paralelismos sintático, morfológico e semântico, emprego de pronomes e crase.
  • Escolha de registro: adequação à modalidade escrita formal, isto é, ausência de uso de registro informal e/ou de marcas de oralidade.
  • Escolha vocabular: adequação à modalidade escrita formal, isto é, ausência de uso de registro informal e/ou de marcas de oralidade.

→ Competência II da redação do Enem 

Competência II: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

A competência II refere-se à efetiva adequação ao tema, com uma abordagem bem desenvolvida dentro de uma estrutura dissertativo-argumentativa. A dissertação-argumentativa consiste em um texto que tem por finalidade a defesa de um ponto de vista por meio da argumentação. Essa defesa de opinião precisa estar adequada a todos os pontos que são levantados pelo tema para que não haja tangenciamento ou, principalmente, fuga.

Além disso, um aspecto importante que é avaliado na competência II é a presença de um repertório sociocultural, que consiste em uma informação, um fato ou uma citação que contribua para a argumentação da discussão. Logo, não adianta apenas inserir um repertório que se relacione com o tema, mas ele precisa ser produtivo para a defesa do ponto de vista.

Não esqueça que os textos motivadores também contribuem para o direcionamento do tema, mas o participante deve ter cuidado para que o seu texto não fique preso à discussão dos textos motivadores e consiga demonstrar certa autonomia e originalidade no desenvolvimento de seus argumentos.

Qualquer desvio da estrutura da dissertação-argumentativa será analisado nessa competência. Dessa forma, se em alguma parte considerável do texto há um tom expositivo, ausência de clareza da construção do tema, ou inserção de informações novas na conclusão, tais características podem prejudicar a estrutura da dissertação.

→ Competência III da redação do Enem 

Competência III: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Nessa competência, será avaliada a habilidade de elaborar um texto que apresente, de forma clara, o ponto de vista a ser defendido e os argumentos que o defendam. Também é avaliada a coerência entre as ideias apresentadas, o que só pode ser estruturado por meio de um projeto de texto, o qual consiste em um planejamento prévio que organize e relacione bem as ideias selecionadas. Trata-se do esquema que é possível perceber pela organização estratégica dos argumentos presentes no texto.

Nessa competência, a fundamentação do argumento e o seu aprofundamento são avaliados.  A competência III envolve questões como:

  • a seleção de argumentos;
  • a relação de sentido entre as partes do texto;
  • a progressão adequada ao desenvolvimento do tema, revelando que a redação foi planejada e que as ideias desenvolvidas são apresentadas de forma organizada.
  • o desenvolvimento dos argumentos, com a explicitação da relevância das ideias apresentadas para a defesa da tese.

→ Competência IV da redação do Enem

Competência IV: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Os aspectos a serem avaliados na competência IV estão relacionados à estruturação lógica entre as partes da redação por meio de elementos coesivos que esclarecem as relações semânticas estabelecidas no decorrer do texto, como: comparação (assim como, da mesma forma), adversidade (entretanto, porém), causa-consequência (por isso, então, já que), conclusão (enfim, portanto) etc.

Alguns tipos de elementos coesivos que podem ser encontrados no texto são: conjunções, preposições, alguns advérbios, sinônimos e pronomes, uma vez que estabelecem relações entre orações, frases e parágrafos. A utilização de uma grande variedade de recursos coesivos é importante para a avaliação da redação do participante. Textos que apresentam um repertório limitado de elementos coesivos não são bem-vistos na correção.

Enquanto a competência III encarrega-se da estrutura mais profunda do texto e a relação estabelecida entre as ideias, a competência IV se preocupa com o nível mais superficial, avaliando as marcas linguísticas que podem ajudar o leitor a chegar à compreensão mais profunda do texto. Para isso, é importante que o participante se preocupe com:

  • A estruturação dos parágrafos: ou seja, com a construção de uma unidade textual que tenha ideias bem amarradas, bem como a relação que se estabelece com o parágrafo seguinte.
  • A estruturação dos períodos: a estrutura das orações e as relações que são estabelecidas dentro delas por meio de uma estrutura complexa.
  • A referenciação: à medida que o texto progride, muitos termos e ideias precisam ser retomados no texto. A progressão e a retomada do texto devem acontecer de maneira que a redação tenha desenvolvimento temático, ao mesmo tempo que as ideias sejam bem relacionadas.

→ Competência V da redação do Enem 

Competência V: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

O quinto aspecto a ser avaliado está relacionado à apresentação de uma proposta de intervenção aos problemas levantados no decorrer do texto. Assim, a proposta deve ser elaborada não apenas com base no tema proposto, mas também na discussão desenvolvida na redação. É importante apresentar uma proposta concreta, com seus cinco mecanismos:

  • o agente;
  • a ação;
  • o meio;
  • o detalhamento; e
  • a finalidade.

Esses elementos estão baseados em cinco perguntas que devem ser respondidas na proposta:

  • O que é possível apresentar como solução para o problema?
  • Quem deve executá-la?
  • Como viabilizar essa solução?
  • Qual efeito ela pode alcançar?
  • Que outra informação pode ser acrescentada para detalhar a proposta?

É importante que o tom de proposta esteja claro em seu texto, ou seja, afirmações como “faltam investimentos governamentais” ou “as escolas dão aulas sobre x” não são consideradas propostas. Além disso, não se deve esquecer o respeito aos direitos humanos na elaboração da proposta. Se houver desrespeito, tal atitude será penalizada na avaliação.

→ Videoaula sobre as 5 competências da redação do Enem 

Dicas para a redação do Enem

A seguir, algumas dicas que podem ajudar a elaborar uma dissertação-argumentativa de acordo com os padrões estipulados pelo Enem:

  1. Marque as palavras-chave do tema: os temas do Enem sempre apresentam diversos pontos que precisam ser abordados, caso contrário, haverá uma tangência ao tema. Para isso não ocorrer, é interessante sublinhar ou circular as palavras-chave que definem o tema a fim de assegurar que ele será abordado na sua completude.
  2. O primeiro elemento que deve ser elaborado é a tese: como a tese é o ponto de vista que será defendido em todo o texto, ela se torna o centro de sua redação. Por isso, ela deve ser a primeira parte do texto a ser definida.
  3. Construa seu projeto de texto: na avaliação da redação do Enem, é analisada a presença de um projeto de texto, ou seja, é necessário que a sua redação seja pré-elaborada antes de ser escrita na folha definitiva. Não é necessário fazer um rascunho de toda redação, mas um esboço com as palavras-chave sobre cada parte do texto é importante para evidenciar que sua dissertação foi pensada previamente.
  4. Deixe seu projeto de texto bem claro: como o projeto de texto é uma questão avaliada na redação se o esboço não é considerado na correção? A sua redação final deve evidenciar que há uma organização sobre a relação entre as ideias. Para isso, vale colocar os pontos principais que serão abordados em cada parágrafo de desenvolvimento na tese a fim de evidenciar que, em seu texto, houve um mínimo planejamento prévio.
  5. Leia os textos motivadores: os textos motivadores não devem ser copiados e não podem servir de base para o desenvolvimento da discussão. Mas eles são importantes não apenas para a inspiração acerca do tema, como também são uma forma de direcionamento acerca do entendimento do tema. Muitas vezes, a frase temática pode apresentar ambiguidade, que será esclarecida dentro dos textos motivadores.
  6. Não selecione os seus repertórios primeiro: essa dica também está relacionada à de número 2, uma vez que o que deve ser elaborado primeiramente é a tese. Mas é importante ressaltá-la, uma vez que muitos participantes já têm o hábito de pensar sobre os repertórios que utilizarão ao olharem o tema da redação. No entanto, como foi visto, é necessário não apenas que esse repertório esteja adequado ao tema, mas também que ele seja produtivo para a defesa do ponto de vista. Desse modo, é necessário selecionar o repertório com base na tese e nos argumentos apresentados, e não apenas no tema.
  7. Selecione com cuidado as informações de seu texto: para que a coerência do texto seja efetiva, é necessário que haja uma seleção prévia das informações e das ideias que serão trazidas nele, uma vez que todas devem ser produtivas para a defesa do ponto de vista. Às vezes, mesmo que uma informação seja interessante, ela não precisa ser inserida se não corroborar o desenvolvimento dos argumentos.
  8. Faça um texto-circuito: existem algumas formas de finalizar o texto e uma das mais efetivas é o texto-circuito, que consiste na retomada de uma informação já mencionada no texto para finalizá-lo, o que se mostra um recurso criativo e que reforça a coerência do texto.
  9. Faça dois parágrafos de desenvolvimento: não há, oficialmente, um número mínimo e máximo de parágrafos de desenvolvimento. Porém, o mais recomendável é a construção de dois parágrafos de desenvolvimento; uma vez que, com um, não há diversidade de ideias, e, com três, não há espaço para que os argumentos sejam devidamente desenvolvidos e aprofundados.
  10. Retome sempre as suas ideias: é importante que, em cada parágrafo de desenvolvimento, haja uma breve retomada do tema, de maneira que as ideias fiquem bem amarradas mesmo após o aprofundamento da discussão para que a coerência seja bem estabelecida. O mesmo deve ocorrer na conclusão, mas, nesse caso, a retomada deve acontecer com os pontos principais abordados no texto para que haja o encerramento efetivo da redação.

Fontes

BRASIL. Cartilha do Participante – ENEM 2024. Ministério da Educação, Brasília, 2022.

BRASIL. Manual de correção da redação– Situações que levam à nota zero. Ministério da Educação, Brasília, 2022.

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