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Tipos de discurso

Os tipos de discurso mostram diferentes maneiras de apresentar falas e pensamentos em um texto. Os três tipos são: o discurso direto, o indireto e o indireto livre.

Por Guilherme Viana

Conceito e exemplos dos tipos de discurso: direito, indireto e indireto livre. letra-musica-questao-tipos-discurso
Há três tipos de discurso, baseados na forma como a fala da personagem pode ser expressa.
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Os tipos de discurso na narrativa são três: o direto, que reproduz as palavras exatamente como foram ditas; o indireto, em que o narrador reformula a ideia segundo seu ponto de vista; e o indireto livre, que mistura a voz do narrador com a subjetividade da personagem.

Leia também: Elementos da narrativa — narrador, personagem, espaço, tempo e enredo

Resumo sobre tipos de discurso

  • Os tipos de discurso indicam diferentes modos de reproduzir falas e pensamentos em um texto narrativo.
  • O discurso direto reproduz literalmente a fala das personagens, com uso de dois-pontos e travessões ou aspas.
  • O discurso indireto é uma reelaboração da fala da personagem feita pelo narrador, com adaptações de pessoa (1ª ou 3ª), tempo verbal e contexto da fala, além de conectores (“que” ou “se”) para indicar o início da fala reproduzida pelo narrador.
  • O discurso indireto livre combina a voz do narrador com a entonação da personagem, sem apresentar pontuações típicas da fala no discurso direto. É uma mistura do discurso direto e do indireto.

Discurso direto

O discurso direto é aquele em que a fala é apresentada exatamente da forma como foi dita, reproduzindo as palavras de maneira literal, sem nenhum tipo de reformulação.

  • Características

No discurso direto, a fala pode ser marcada por alguns sinais de pontuação específicos:

- dois-pontos e travessão; ou

- dois-pontos e aspas.

Além disso, esse tipo de discurso apresenta verbos de elocução antes dos dois-pontos ou após um travessão, como “disse”, “perguntou”, “afirmou”, “gritou”, “exclamou”, “sussurrou”, entre outros.

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  • Exemplos

Observe estes exemplos de trechos com discurso direto destacado, atentando-se à pontuação e aos verbos de elocução desses casos:

Pai, posso sair mais tarde hoje? — perguntou o filho.

Nesse caso, a fala do filho aparece em discurso direto, apresentando exatamente as palavras ditas por ele para fazer a pergunta ao pai. Perceba que essa fala está separada do restante do enunciado por travessões, seguida de um verbo de elocução (“perguntar”).

O pai olhou de volta e respondeu:

O quão tarde você quer dizer?

O filho hesitou.

Aqui, o discurso direto aparece após o verbo “responder” e os dois-pontos, seguido de travessão iniciando em outra linha. Nesse caso, o discurso direto aparece isolado em uma linha apenas sua e iniciado por travessão. Ao final dele, passa-se para a próxima linha para continuar o texto.

Pedro gritou: “Cuidado!

Já, nesse caso, há um verbo de elocução antes dos dois-pontos e, em seguida, o discurso direto composto de apenas uma palavra marcado entre aspas.

Eu volto logo”, prometeu ela.

Por fim, nesse outro exemplo, o trecho já começa com o discurso direto, marcado pelas aspas, seguido de um verbo de elocução assim que o discurso se acaba.

Leia também: O que é foco narrativo?

Discurso indireto

O discurso indireto é aquele em que a fala de uma personagem ou de outra pessoa é apresentada por meio das palavras do narrador ou de quem escreve o texto. Assim, quem narra conta o que outra pessoa disse, fazendo adaptações necessárias de pessoa, tempo verbal, pronomes e marcas de entonação.

  • Características

No discurso indireto, a fala não é reproduzida exatamente tal como foi dita. Assim, não há pontuação marcando o discurso indireto (como aspas ou travessão), já que a fala é do próprio narrador do texto. Porém, é possível perceber o discurso indireto pelo uso de verbos de elocução antes de se iniciar a fala (como “falar”, “responder”, “sussurrar”, “perguntar” etc.).

  • Exemplos

Observe como, nestes exemplos, as falas das personagens não estão marcadas por nenhuma pontuação e são reelaboradas pela voz de quem narra o texto, fazendo adaptações de tempo verbal e de contexto da fala:

O filho perguntou ao pai se podia sair mais tarde naquele dia.

Nesse exemplo, o discurso indireto começa após o verbo de elocução “perguntou”, introduzindo a pergunta do filho, que aparece em terceira pessoa. Além disso, houve a inclusão da expressão “naquele dia”, que não estava na fala original, para melhor contextualizar a intenção do filho.

O pai olhou de volta e respondeu, perguntando o quão tarde o filho queria dizer.

Nesse caso, dois verbos de elocução são usados para apresentar o discurso indireto: “respondeu” introduz a fala do pai e “perguntando” indica a entonação usada pelo pai na resposta.

Pedro gritou pedindo para que tomassem cuidado.

Aqui, o verbo de elocução é “gritou”, indicando a entonação do discurso indireto. Perceba como é necessário reformular e especificar bem a fala da personagem para que o sentido da fala fique completo no discurso indireto.

Ela prometeu que voltaria logo.

Por fim, o discurso indireto desse exemplo faz adaptações não apenas de pessoa (da 1ª para a 3ª pessoa) como também de tempo verbal, com um verbo conjugado no futuro do pretérito do modo indicativo (“voltaria”).

Discurso indireto livre

O discurso indireto livre é uma técnica que mescla o discurso direto e o indireto, ou seja, a fala ou o pensamento da personagem aparece fundido à voz do narrador, sem marcas de pontuação ou verbos de elocução.

  • Características

No discurso indireto livre, não há pontuação marcando a fala, nem verbos de elocução para marcar especificamente as falas, como ocorre no discurso indireto. A fala é replicada como se viesse da personagem, mas continua no fluxo da narração, havendo mistura de 3ª pessoa do narrador com expressões típicas da 1ª pessoa da personagem, como emoções, julgamentos, vícios de linguagem etc.

  • Exemplos

Retome os exemplos e note como, no discurso indireto livre, pela voz do narrador, aparecem marcas da subjetividade da personagem:

O filho queria saber se podia sair mais tarde naquele dia, quem sabe o pai deixasse...

No primeiro exemplo, a pergunta aparece incorporada à voz do narrador, mas com a entonação do filho, sem aspas ou travessão.

O pai olho de volta, curioso. Quão tarde o filho queria dizer, afinal?

Nesse caso, a pergunta vira pensamento e entonação do pai dentro, mas pela própria voz do narrador.

Pedro gritou. Era necessário muito cuidado ali!

Aqui, a exclamação aparece integrada à voz do narrador, mas com o tom urgente e o ponto de vista da personagem.

Ela prometeu voltar logo, sim, assim que fosse possível.

Por fim, nesse exemplo, a fala se mistura à narração, soando como um pensamento imediato da personagem.

Leia também: Romance — a forma literária mais popular do Ocidente

Como fazer a transposição do discurso direto para o indireto

Para transpor uma fala do discurso direto para o indireto, alguns passos são importantes:

  • Retire os sinais de pontuação que marcam o discurso direto: é preciso eliminar aspas, travessões e dois-pontos, já que a fala passará a ser da própria voz do narrador.
  • Use “que” ou “se” para introduzir a fala: geralmente, é preciso incluir uma dessas conjunções integrantes após o verbo de elocução para introduzir a fala da personagem. Exemplo: Ela sussurrou: Mas isso é segredo! / Ela sussurrou que aquilo era segredo.
  • Ajuste a pessoa do discurso: quando há 1ª pessoa no discurso direto, o discurso indireto apresenta a 3ª pessoa. Exemplo: Carlos respondeu: “Eu nunca disse isso!” / Carlos respondeu que ele nunca havia dito aquilo.
  • Ajuste os tempos verbais: muitas vezes, é preciso adaptar o tempo verbal entre o discurso direto e o indireto. Em geral, o indireto costuma retomar a fala no tempo passado ao do momento da fala. Exemplo: Ela sussurrou: “Mas isso é segredo!” / Ela sussurrou que aquilo era segredo.

Observe esta tabela para ver a tendência de ajuste de tempos verbais do discurso direto para o indireto:

Discurso direto

Discurso indireto

Tempo presente
Ex.: Ele comentou: "Estou lendo um livro ótimo!"

Tempo pretérito imperfeito
Ex.: Ele comentou que estava lendo um livro ótimo.

Tempo pretérito perfeito
Ex.: Ela se defendeu: "Eu não fiz nada de errado!"

Tempo pretérito mais-que-perfeito
Ex: Ela se defendeu dizendo que não fizera/havia feito nada de errado.

Tempo futuro do presente
Ex.: Juraram-se: "Nós nos veremos novamente um dia..."

Tempo futuro do pretérito
Ex.: Trocaram juras de que se veriam novamente um dia.

Exercícios resolvidos sobre tipos de discurso

Questão 1

(IF-SP, 2013)

Letra de música “Telegrama”, de Zeca Baleiro, em questão do IF-SP sobre tipos de discurso.

Analise os trechos destacados após o verbo “dizer” e assinale a alternativa correta.

Trechos destacados em letra de música “Telegrama”, de Zeca Baleiro, em questão do IF-SP sobre tipos de discurso.

A) I e II são exemplos de discurso direto.

B) I e II são exemplos de discurso indireto.

C) I é exemplo de discurso direto e II, de discurso indireto.

D) I é exemplo de discurso indireto e II, de discurso direto.

E) I é exemplo de discurso indireto livre e II, de discurso indireto.

Resposta

Alternativa C.

A frase I está no discurso direto, pois apresenta dois-pontos e não há conjunção integrante (“que” ou “se”) para introduzir a fala, indicando serem as exatas palavras ditas por outra pessoa. Além disso, o termo grifado poderia estar entre aspas, já que reproduz de forma literal a fala apresentada.

A frase II está no discurso indireto, pois a fala é introduzida pela conjunção “que”, além de o verbo utilizado estar na 3ª pessoa (“ama”), indicando que aquela é uma reprodução da fala feita pela voz do narrador.

Questão 2

(Vunesp, 2018)

Aquele acreditava na lei. Funcionário do IAPC [Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários], sabia de cor a Lei Orgânica da Previdência. Chegava mesmo a ser consultado pelos colegas sempre que surgia alguma dúvida quanto à aplicação desse ou daquele princípio. Eis que um dia nasce-lhe um filho e ele, cônscio de seus direitos, requer da Previdência o auxílio-natalidade. Prepara o requerimento, junta uma cópia da certidão de nascimento da criança e dá entrada no processo. Estava dentro da lei, mas já na entrada a coisa enguiçou.

– Não podemos receber o requerimento sem o atestado do médico que assistiu a parturiente.

– A lei não exige isso – replicou ele.

– Mas o chefe exige. Tem havido abusos.

Estava montado o angu. O rapaz foi até o chefe, que se negou a receber o requerimento.

– Vou aos jornais – disse-me o crédulo. – Eles têm de receber o requerimento, como manda a lei.

Tentei aconselhá-lo: a justiça é cega e tarda, juntasse o tal atestado médico, era mais simples.

– Não junto. A lei não me obriga a isso. Vou aos jornais.

Foi aos jornais. Aliás, foi a um só, que deu a notícia num canto de página, minúscula. Ninguém leu, mas ele fez a notícia chegar até o chefe que, enfurecido, resolveu processá-lo: a lei proíbe que os funcionários levem para os jornais assuntos internos da repartição.

– Agora a lei está contra você, não?

– Não. A lei está comigo.

Estava ou não estava, o certo é que o processo foi até a Procuradoria e saiu dali com o seguinte despacho: suspenda-se o indisciplinado.

Era de ver-se a cara de meu amigo em face dessa decisão. Estava pálido e abatido, comentando a sua perplexidade. Mas não desistiu:

– Vou recorrer.

Deve ter recorrido. Ainda o vi várias vezes contando aos colegas o andamento do processo, meses depois. Parece que já nem se lembra do auxílio-natalidade – a origem de tudo – e brigará até o fim da vida, alheio a um aforismo que, por ser brasileiro, inventei: “Quem acredita na lei, esta lhe cai em cima.”

(O melhor da crônica brasileira, 2013.)

Ao se transpor para o discurso indireto o trecho “– A lei não exige isso – replicou ele” (3º parágrafo), o verbo sublinhado assume a forma:

A) exigia.

B) exigiu.

C) exigira.

D) exigiria.

E) exigisse.

Resposta

Alternativa A. Do discurso direto para o indireto, quando o verbo está no tempo presente, costuma ser passado para o tempo pretérito imperfeito. A frase destacada no discurso indireto seria: “Ele replicou que a lei não exigia isso.”

Fontes

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.