Que ou quê?

Por Nathalia Thamiris da Silva de Abreu

Que ou quê? “Que” e “quê” são termos que têm usos diferentes dependendo de sua classificação gramatical e de sua posição na frase. Enquanto “que” é átono, “quê” é tônico.

Ambas as formas estão certas, porém são utilizadas em momentos diferentes.

Que ou quê? Ambos os termos são gramaticalmente corretos. O termo “que” pode ser classificado como pronome, conjunção, advérbio, partícula expletiva, e preposição. Já “quê”, além de ser empregado apenas em final de oração, pode ser classificado como interjeição ou substantivo. Assim, as duas formas estão corretas, mas possuem contextos de usos diferentes.

Leia também: Onde ou aonde — qual a diferença?

Resumo sobre “que” e “quê”

  • “Que” e “quê” são termos que estão certos, mas têm aplicações distintas.
  • “Que” é um monossílabo átono, podendo ser pronunciado como [ki].
  • “Quê” é um monossílabo tônico, motivo pelo qual possui o acento que marca o som de [ke].
  • “Que” pode desempenhar os papéis de pronome, conjunção, advérbio, partícula expletiva ou de realce, e preposição.
  • “Quê” ocorre principalmente no final das orações, e ainda é empregado como interjeição ou substantivo.

Qual a diferença entre “que” e “quê”?

O português é uma língua muito rica e versátil, e isso pode ser provado com base na palavra “que”. Ela possui inúmeras classificações e desempenha diversas funções a depender do contexto, do item ao qual se refere ou de sua posição na frase. Existem duas versões da palavra “que”: a átona (que) e a tônica (quê). Esta última é usada em casos bem específicos.

O termo “que” é um monossílabo átono porque, em muitos momentos, soa como [ki]. Por outro lado, “quê” é sempre pronunciado como [ke], o que faz dele um monossílabo tônico. Para ficar mais claro, observe estes exemplos.

  • Você está pensando em quê?  |  [ke]
  • Ela tem esse quê de ternura.  |  [ke]
  • Que lindo o seu filho! Cresceu tão rápido.  |  [ki]
  • É necessário que todos sejam devidamente recompensados.  |  [ki]
  • Ainda há muito que se esclarecer.  |  [ki]

Entre as muitas possibilidades, o “que” pode introduzir um questionamento, ligar informações de orações distintas, retomar um termo mencionado anteriormente, intensificar uma característica ou realçar um enunciado. Dessa maneira, o termo “que” pode ser classificado como pronome (interrogativo, indefinido e relativo), conjunção (coordenativa ou subordinativa), advérbio de intensidade, partícula expletiva (ou de realce), e preposição.

A palavra “quê” (a forma tônica de “que”) pode ser usada para exprimir espanto ou admiração, para substituir termos como “alguma coisa”, bem como em finais de frases. Sendo assim, “quê” pode ser classificado como interjeição ou substantivo masculino.

Quando se usa o “que”?

O termo “que” é utilizado nos enunciados como advérbio, conjunção, preposição, pronome e partícula expletiva.

→ Uso do “que” como advérbio

No papel de advérbio, “que” intensifica o sentido do adjetivo ou do advérbio. Veja os exemplos:

  • Que linda a sua jaqueta! Onde comprou?
  • Que longe aquela cidade! Na próxima vez, viajaremos para Paraty.
  • Que calor! Parece que tem um Sol para cada.

→ Uso do “que” como conjunção

No papel de conjunção, “que” pode relacionar tanto orações coordenadas (independentes) como orações subordinadas (dependentes). Veja os exemplos:

  • A felicidade é mais importante [do] que o dinheiro. (comparação)
  • Dize-me com quem andas, que te direi quem és. (adição)
  • Velha que sou, só vou a festas se houver lugares para sentar. (causa)
  • Choveu tanto que alagou o bairro todo. (consequência)
  • Insistimos [para] que nos diga toda a verdade. (finalidade)
  • Que eu saiba, eles se mudaram bem antes de a bebê nascer. (conformidade)
  • Espere que a enfermeira já vai buscá-lo. (explicação)

→ Uso do “que” como preposição

No papel de preposição, “que” liga dois verbos que compõem uma locução verbal. Veja os exemplos:

  • Temos que ser fortes. (Temos de ser fortes.)
  • que se fazer uma nova proposta. (Há de se fazer uma nova proposta.)
  • Pelo visto, há muito que se fazer nessa cidade. (Pelo visto, há muito a/para se fazer nessa cidade.)

→ Uso do “que” como pronome

No papel de pronome, “que” pode ser interrogativo, sendo empregado em perguntas diretas ou indiretas semelhantemente a “qual” ou “qual coisa”; indefinido, sendo acompanhado de um substantivo e, às vezes, equivalendo a “quanto(a)”; e relativo, sendo utilizado de maneira a retomar um elemento da oração anterior, assim como “o(a) qual” e as demais flexões do termo. Veja os exemplos:

  • O que houve com a Magda? (pronome interrogativo)
  • Que decisão vocês tomaram? (pronome interrogativo)
  • Que raiva! (pronome indefinido)
  • Que projeto incrível! Mereceu o primeiro lugar. (pronome indefinido)
  • Os países que aderiram ao Programa assinarão um pacto mundial. (pronome relativo)
  • Este é o livro de que falamos ontem. (pronome relativo)

→ Uso do “que” como partícula expletiva ou de realce

No papel de partícula expletiva, é usado como força expressiva, apenas para dar realce, podendo também assumir a forma “é que”. Veja os exemplos:

  • Quase que perdemos o ônibus! (Quase perdemos o ônibus!)
  • Por essas e outras, é que eu nunca empresto dinheiro. (Por essas e outras, eu nunca empresto dinheiro.)
  • Eu segui o combinado. Eles que se confundiram com o prazo. (Eles se confundiram com o prazo.)

Quando se usa o “quê”?

O termo “quê” é utilizado em interjeições, em situações nas quais se apresenta como substantivo masculino ou em finais de frases, interrogativas ou não.

→ Uso do “quê” como interjeição

Como interjeição, “quê” indica espanto, surpresa, admiração, raiva etc., e vem sempre seguido de ponto exclamativo. Veja os exemplos:

  • Quê! Não acredito que disseram isso. E o que você respondeu?
  • Quê! Você nunca viu esse filme? Mas é um clássico!
  • Quê! Como assim você não gosta de gatos? Eles são tão dóceis...
  • Quê!? Estou chocado com essa notícia.

→ Uso do “quê” como substantivo

Como substantivo, pode flexionar em número (quê; quês), vem sempre acompanhado de um determinante (a exemplo de um artigo, uma preposição ou um pronome), e seu sentido é similar ao do termo “alguma coisa”. Veja os exemplos:

  • Ele tem esse quê de mistério que desperta a curiosidade das pessoas.
  • Roupas de linho possuem um quê de elegância. Tenho várias.
  • Percebi em seus olhos um quê de maldade que me arrepiou a espinha.
  • Todos passarão por uma situação assim algum dia. Faz parte dos quês da vida.

→ Uso do “quê” no fim de frase

Como último item da frase, “quê” pode ser seguido de ponto interrogativo, de ponto exclamativo ou de ponto-final. Veja os exemplos:

  • Ele pediu o carro emprestado não sei para quê. Acho que foi à praia com as crianças.
  • O bolo está delicioso! Esse recheio foi feito de quê?
  • Meu amigo, insistir para quê? Ela já te disse que não quer mais.
  • — A Nicole não veio por quê?

É preciso ter atenção quanto às reticências, pois elas nem sempre marcam o fim de uma frase. Às vezes, são apenas uma pausa que ocorre no meio do enunciado, como em:

Ela disse que... Que não voltaria mais.

Importante: Observe que, nos exemplos anteriores, também fica clara a razão de existirem as formas “porquê” e “por quê”, com o acento tônico. No caso dos “porquês”, aplica-se a mesma regra de acentuação: “porquê” é utilizado como substantivo, em substituição ao termo “motivo”; e “por quê” é empregado no fim das orações, antes do ponto de interrogação ou do ponto-final, em substituição a “por qual motivo”. Exemplos:

  • Não se sabe o porquê da mudança repentina.
  • É importante refletir sobre os porquês da vida.
  • Eles modificaram o projeto não sei por quê.
  • Está animado por quê?

Veja também: Como fazer o uso correto dos quatro porquês?

Exercícios resolvidos sobre “que” e “quê”

Questão 1

Preencha as lacunas das citações com as formas corretas de “que” e “quê”.

A) “Não é o primeiro ____ me promete alguma coisa, replicou, e não sei se será o último ____ não me fará nada. E para ____? Eu nada peço, a não ser dinheiro [...].” (Machado de Assis)

B) “____ lembrança darei ao país ____ me deu tudo ____ lembro e sei, tudo quanto senti?” (Carlos Drummond de Andrade)

C) “Liberdade é pouco. O ____ desejo ainda não tem nome.” (Clarice Lispector)

D) “Como tudo, as palavras têm os seus ____, os seus comos e os seus por____.” (José Saramago)

Resolução:

A) que - que - quê

B) Que - que - que

C) que

D) quês - [por]quês

Questão 2

Marque a alternativa INCORRETA quanto ao uso de “que” ou “quê”.

A) — Muito obrigado!  — Não há de quê.

B) Esse instrumento serve para que? Medir a temperatura do ambiente?

C) O quê?! Eles fizeram isso mesmo?

D) É possível que os resultados cresçam ainda mais no semestre que vem.

Resolução:

Alternativa B

Em fim de frase, usa-se a forma tônica “quê”.

Fontes

BECHARA, Evanildo; MAHMUD, Shahira. Novo dicionário de dúvidas da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2012.

PESTANA, Fernando. A gramática para concursos públicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. (Série Provas e Concursos).

ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

TERRA, Ernani. Curso prático de gramática. 6. ed. São Paulo: Scipione, 2011.

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